Por Alvaro Bandeira, economista-chefe e sócio do Banco Digital modalmais
Não tem como fugir mesmo do tema coronavírus, o fator determinante do comportamento dos mercados em todo o mundo e objeto principal das preocupações dos investidores. A principal consequência tem sido a absurda destruição de valor dos ativos transacionados, como decorrência da aversão ao risco, e a busca precipitada por proteção pelos investidores.
Nesse aspecto, citamos os setores ligados ao turismo e aviação e ainda segmentos ligados à tecnologia, por conta das paralisações de industrias na China por longo tempo (emendando com o feriado do Ano-Novo Lunar) e os bloqueios feitos não só na China como em outros países inibindo viagens de executivos para regiões infectadas.
Pois bem, por tudo que temos lido de especialistas e infectologistas, o coronavírus é bem menos letal (e tem se mostrado dessa forma até aqui) que outras infecções recentes como SARs, Influenza e H1N1; mas os danos para as economias é uma outra conversa, já que pegou algumas importantes regiões que vinham buscando estabilização.
O fato de ainda não existirem medicamentos específicos para o coronavírus (Covid-19 é o termo correto), deixa todos ainda mais preocupados e uma vacina, ainda que descoberta com rapidez demandará muito tempo até que esteja testada e disponível para vacinação em massa. Existem, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 20 frentes de trabalho com pesquisadores, já com genoma conhecido, mas a demora faz parte dos protocolos internacionais.
Falando em OMS, até o início de semana, as estatísticas indicavam que eram 88.913 infectados em todo o mundo, com 61 países com incidências e algo como 3.000 mortes. Também podemos citar que de todos esses países, em cerca de 25 apenas uma pessoa estava confirmada como infectada (90% do total na China). Se falarmos de Brasil, o Ministério da Saúde divulgou no final de semana que eram 252 com suspeita de terem sido infectados, mas somente 2 casos comprovados. Na China, a contaminação está sendo a menor desde final de janeiro.
Até este momento, como dissemos, não parece ser um vírus muito temido pelos cientistas, mas tem que existir cuidado quando tratamos de países com saúde pública precária. Estamos nos referindo a nações africanas e outras emergentes com situação semelhante. Afinal, segundo consta, o hemisfério Norte começa a sair do inverno e o hemisfério Sul se aproxima dele, onde o contágio pode se dar de forma mais intensa.
Pelo sim pelo não, organismos multilaterais e instituições financeiras vão mudando suas projeções de crescimento para o ano de 2020. A OMC (Organização Mundial do Comércio) declara que o coronavírus terá impacto “substancial” nas economias. Já a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico reduziu sua projeção de crescimento global de 2,9% para 2,4% em 2020, basicamente por conta da redução do PIB da China para 4,9%, de anterior em 5,7%. A OCDE vai mais adiante e indica que pode haver recessão no Japão e zona do euro, ao mesmo tempo em que reduz o crescimento dos EUA na margem, de 2,0% para 1,9%.
Novamente falando de Brasil, por conta do vírus e também de atrasos e dificuldades em aprovar reformas (desentendimento entre os três poderes), as projeções só fazem encolher. Faz pouco tempo, as estimativas davam conta de que poderíamos crescer mais de 2,5% em 2020, e agora as projeções convergem para cerca de 2,0% com viés de baixa e incidências abaixo disso, chegando até 1,5%.
Os efeitos na economia global devem extrapolar o primeiro trimestre de 2020, entrando um pouco pelo segundo trimestre, mas, ainda assim, haveria espaço para minorar a desaceleração. Isso vem de encontro com a postura de bancos centrais e governos imbuídos de flexibilizar políticas monetárias e também políticas fiscais, para quem tem espaço para tal. De qualquer forma, alguns países já começam a se adiantar, como no caso do BOJ (BC japonês), que fez compras pesadas em 02/03 de ETFs (Exchange Traders Funds).
Resumindo, caso o coronavírus não saia de controle como parece acontecer, o momento, para os investidores que gostam de risco, pode ser para compras de ocasião, aproveitando as quedas recentes. Mas isso é quase uma questão de aposta, pois os mercados vão continuar com enorme volatilidade.