Já dizia o ditado popular que errar é humano, mas não repetir o mesmo erro é fundamental. Ao longo da história, ficou claro que aprender com o equívoco passado é muito mais fácil e menos custoso do que insistir na situação.
Acabamos de passar por um processo eleitoral disputado e muito desgastante para ambos os lados. Um com uma proposta de continuidade de uma agenda mais liberal, mais pró mercado e do outro, uma agenda mais assistencialista, com maior participação do Estado no dia a dia da economia e dos cidadãos. Optou-se por uma agenda mais social e menos de mercado.
Os 14 anos da primeira passagem do PT na presidência se dividem em dois momentos distintos: 2003 a 2008 e 2008 a 2016. O primeiro mandato foi uma continuidade do governo Fernando Henrique Cardoso, garantida pela carta aos brasileiros escrita por Lula em 2002.
O famoso tripé econômico foi preservado, principalmente por grandes economistas que se juntaram ao governo e fizeram um excelente trabalho de preservação do arcabouço fiscal. Capitaneado por Henrique Meirelles e Antônio Palocci, as contas públicas geraram superávit primário e como consequência o país cresceu, a miséria caiu assim como o dólar também. Com a chegada da crise de 2008, conhecida como crise do subprime, essa política vencedora começa a mudar. Vemos nesse momento a saída de uma agenda de responsabilidade fiscal e a entrada no caminho da “nova matriz econômica”.
A partir desse momento, os rumos econômicos começaram a mudar junto com nomes de economistas liberais como Henrique Meirelles, Marcos Lisboa, Alexandre Schwartsman e Antônio Palocci.
Passamos a ver economistas mais alinhados com a agenda progressista e com a teoria keynesiana. Como consequência, vemos que o governo gastou mais do que devia, inchou a máquina pública, gerou déficits fiscais e viu o dólar subir. Outros índices como desemprego e inflação também cresceram, justo em um período em que o índice mundial era baixo.
No fim do dia, quem sofreu foram os mais necessitados, justamente o público que elegeu o governo Lula e Dilma. O segundo momento do governo petista foi responsável por conduzir o país a sua maior crise.
Em 2023 o presidente Lula vai para o terceiro mandato apoiado por uma parte da elite econômica responsável pela criação do plano real e do seu bem-sucedido primeiro mandato. A composição de chapa com o Geraldo Alckmin, junto com o apoio destes economistas, levava a crer que o governo seria nos moldes da primeira fase petista. O movimento moderado e ao centro ajudou na campanha de 2022. A parceria com nomes importantes de empresários e do centro mostrou a possibilidade de progresso social mas com responsabilidade fiscal.
Desde já, vemos a reação negativa do mercado às primeiras falas do novo presidente da república. Com uma equipe de economistas mais progressistas para a transição, alguns pontos estão evidentes, como a expansão de ministérios, o furo do teto de gastos em R$ 175 bilhões. Mas nesse movimento, o que vejo de mais visível é que o presidente eleito terá uma pauta mais progressista que o mercado esperava. Desde o início de novembro, a bolsa cai, o dólar se valoriza muito - sendo que foi desvalorizado no mundo inteiro - e os juros futuros não param de subir.
Foi justamente esse grande erro no passado que levou o país para a sua pior crise histórica e culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Há bons nomes econômicos no novo governo e enquanto isso o mercado espera que esse discurso mude em direção à uma agenda de responsabilidade fiscal. Em 2015 e 2016, no ápice da crise brasileira, enquanto o mundo todo crescia, os juros internacionais eram baixos, víamos a China com um dinamismo econômico muito maior, o Brasil tinha uma situação fiscal melhor que a atual.
É fato dizer que não teremos um vento a favor como no passado, a margem para erro está bem menor e o país está dividido. Isso deve dobrar a atenção para uma irresponsabilidade fiscal que pode levar o país para para o desemprego, fuga de capitais, pobreza e ingovernabilidade. É justamente os mais pobres que pagarão a conta. O presidente Lula tem a chance de deixar um legado histórico e fechar a sua vida política bem, de outro lado, pode deixar uma herança complicada de ser administrada. Basta saber qual lado ele vai escolher nos próximos quatro anos.