Pode até ser verdade que o ano só começa depois do Carnaval para os brasileiros, porém, na indústria de fundos, a publicação dos rankings de “melhores fundos da indústria” certamente dá início a mais um ciclo.
Com a liberação desses rankings, muitos investidores ficam deslumbrados com a performance dos fundos listados e começam a nos questionar sobre eles. Perguntas como: “O que vocês acham do fundo X?” ou “Devo trocar meu fundo Y pelo fundo Z?” pipocam em nossas caixas de e-mail nesta época.
Os questionamentos são geralmente sobre algum fundo em específico que teve um retorno estelar e tem seu nome estampado em vários rankings.
Pessoalmente, eu não olho rankings. Eles servem única e exclusivamente para matar a nossa curiosidade, mas de maneira alguma os utilizaria como ferramenta para tomar uma decisão de investimento.
Isso seria assassinar diversas regras de se fazer uma boa análise de um fundo de investimento, e o seu patrimônio merece mais cuidado do que isso.
Hoje, vou listar três problemas que diversos desses rankings sofrem.
Prazos curtos
A maioria dos rankings construídos acaba avaliando janelas temporais bastante curtas, olhando um período de 12 meses. Ótimos resultados em uma janela tão pequena não provam que o gestor é bom de fato, mas sim que a simples composição de ações que ele fez foi vencedora naquele ano.
Isso poderia ser simplesmente obra do acaso ou sorte. É por isso que olhamos muito mais a consistência de retorno de longo prazo dos gestores – de 5 anos para ações, e de 3 anos para multimercados. Além disso, é importante avaliar o resultado do gestor em vários ciclos de mercado, buscando entender seu comportamento nos momentos de bull e bear market.
Em um país cíclico como o Brasil, quem sobrevive nessas terras tupiniquins precisa ter a habilidade de superar os dias difíceis e aproveitar também os felizes. Em vista disso, de nada adianta um gestor que vai muito bem quando tudo sobe, mas sofre perdas irrecuperáveis quando ocorre alguma derrocada geral dos mercados.
Ao fazer isso tudo, você começa a ter um primeiro indicativo para diferenciar os "sortudos" de alguém que tem um processo robusto o suficiente para gerar retornos a longo prazo.
Lembre-se sempre: um mau processo de gestão pode gerar resultados positivos, mas eventualmente a sorte acaba e a conta chega. Então tome cuidado ao olhar janelas curtas demais para gestores. Sempre investigue um pouco mais.
Diferentes estratégias
Certamente você já ouviu alguém falar: “você está comparando bananas com maçãs", certo? A expressão se refere às pessoas que comparam duas coisas que não possuem características similares e, portanto, não poderiam ser confrontadas.
Isso acontece bastante nos rankings, principalmente em multimercados. Dentro dessa classe Anbima, apesar de todos os fundos serem caracterizados como multimercados por critérios tributários, as estratégias são bem diferentes.
Por exemplo, temos os tradicionais fundos macro que possuem uma exposição em bolsa pequena e atuam em diversos mercados. Temos, neste grupo, Verde, Adam, SPX etc. A mesma categoria abriga também fundos Long and Short e Long Biased que, do ponto de vista da estratégia, atuam muito mais como um fundo de ações.
Logo, pelo fato de o último grupo ter uma exposição a risco bem maior, é bastante comum que ele entregue rentabilidades altas – compatíveis com a dos fundos de ações – e ocupe as primeiras posições dos rankings.
Entretanto, não faz o menor sentido essa comparação. As estratégias e o nível de risco assumido são completamente distintos. Ainda assim, os formuladores de ranking fazem, frequentemente, toda essa mistura em um lugar só. Eu digo a eles: “meu caro, não dá para comparar bananas com maçãs!”.
Os números não dizem tudo
Eu gosto bastante de análises quantitativas e acredito que elas podem trazer muitos insights interessantes para você. No entanto, isso é somente uma parte do trabalho. Tem toda uma história por trás que os números nunca vão lhe dizer ou que, alternativamente, podem fazê-lo tirar conclusões erradas.
Um exemplo claro disso é a dança das cadeiras na indústria. Frequentemente, vemos equipes migrarem de uma casa para outra para montar as suas próprias gestoras – a Genoa, Legacy e Ace são casos recentes e emblemáticos nesse sentido.
Uma vez que ocorreram mudanças na gestão, o histórico de resultados fica bem mais comprometido para análise. É como se um novo fundo nascesse, mas com o mesmo nome e estrutura.
Claro, nenhum ranking vai lhe dizer nada sobre isso. Então lembre-se sempre: os números são importantes, mas não dizem tudo.
É por isso que aqui, na Nord, nós sempre gostamos de fazer uma análise quantitativa e qualitativa dos fundos. Isso é o que nos faz tomar decisões mais assertivas e evitar furadas.
Abraços,