Contas a pagar
Um estudo publicado recentemente e divulgado pelo professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Oscar Malvessi mostra a capacidade de sobrevivência financeira das 144 companhias listadas no IGC — Índice de Governança Corporativa — em uma janela de 10 anos.
O trabalho mostra que a grande maioria das companhias — aproximadamente 80 por cento — pode operar por cerca de 20 dias com receita zero. Após esse período a situação se complica bastante.
O restante — 20 por cento da amostra — possui uma natureza de negócio diferenciada: tais empresas recebem do consumidor e somente depois pagam aos seus fornecedores.
Mesmo com receita zero por algum período, possuem maior fôlego financeiro, pois os prazos de pagamento são mais dilatados. Nesse caso, segundo o estudo, a sobrevivência financeira duraria ao redor de 40 dias.
Em busca de dinheiro
O estudo deixa claro: mesmo as grandes empresas não possuem dinheiro suficiente no banco para sustentar uma paralisação total de vendas por muito tempo.
Nesse caso, a primeira iniciativa dessas companhias é recorrer ao mercado de capitais para contração de dívida, aumentando a saúde financeira da operação, até que as vendas retornem.
Nas últimas semanas, vimos diversas grandes empresas recorrendo à emissão de dívida de curto prazo — principalmente notas promissórias com vencimento de um a dois anos. Mas, em alguns casos, a direção da companhia optou pela emissão de debêntures, com um prazo mais alongado.
A gigante varejista Magazine Luiza (SA:MGLU3), que ao final do ano passado contava com aproximadamente 7 bilhões de reais em caixa, foi ao mercado nesta semana e captou nada menos do que 800 milhões de reais, pagando uma taxa de CDI +1,5 por cento. Um pouco a mais do que as captações anteriores, que estavam em torno de 110 por cento do CDI.
Mesmo negócios que possuem fluxo de caixa mais estável e menor risco, como as concessionárias de rodovias, estão captando dinheiro a custos bem mais altos no mercado.
Um exemplo é a Ecorodovias (SA:ECOR3), que anunciou uma operação de 1,2 bilhão de reais, com o prazo de dois anos, e vai pagar uma taxa de CDI +4 por cento ao ano. Em tempos normais, a companhia captava dinheiro a CDI +1,5 por cento
Impacto nos seus investimentos
Em um primeiro momento, as empresas terão resultados operacionais ruins durante o segundo e terceiro trimestre deste ano. Obviamente, a magnitude irá variar de setor a setor.
Também é certo que algumas companhias terão aumento de despesas financeiras ao longo dos próximos anos, por conta dessas captações a taxas mais altas.
Os dois fatores somados resultam em um menor lucro para o acionista, mas apenas por um curto período de tempo.
Muitas ações listadas na B3 já incorporam forte queda de lucros e cenários catastróficos para o ano de 2020, muito por conta dessa ansiedade em relação ao curto prazo.
Quando você adquire cotas de uma companhia e se torna sócio dela, é perfeitamente normal que durante toda a vida da empresa ela passe por algum período de dificuldade.
Mas lembre-se: você decidiu comprar as cotas pois acreditava no negócio a longo prazo — muitos e muitos anos — assim, alguns trimestres ruins (com lucros menores e maior pagamento de juros) não deveriam justificar uma troca de opinião em relação ao fundamento da companhia.
Não tome decisões irracionais apenas porque a tela do seu home broker está piscando em vermelho. São tempos difíceis, mas tudo passa.