Desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o governo federal e colocou Paulo Guedes à frente do rebatizado Ministério da Fazenda, mudanças na política econômica não pararam de acontecer. Passamos por uma longa Reforma da Previdência, entramos na onda das privatizações, estamos discutindo reforma tributária, flertando com a independência do Banco Central e fazendo cortes orçamentários que nos reaproximam do superávit fiscal. Mas o que dá as caras neste momento é a política de desinvestimentos do BNDES.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social é o principal instrumento do governo federal para o financiamento de longo prazo da indústria nacional por meio de produtos, programas e fundos, conforme a modalidade e a característica das operações. Em governos anteriores, a mão pesada do BNDES agiu fortemente, comprando participações em empresas públicas e privadas e fazendo aplicações dentro e fora do Brasil, interferindo na dinâmica do mercado financeiro.
Mas parece que o jogo virou.
Após comunicar a disposição por reduzir sua carteira de renda variável meses atrás, o Banco agora traduziu em números suas expectativas e anunciou que pretende se desfazer de 80% das ações que é dono nos próximos três anos. O movimento poderá ser concretizado tanto através de oferta pública de ações, como de mesa de operações ou em blocos, mas a mensagem é bem clara: o BNDES está na pista para negócio.
Com isso, o valor de arrecadação esperado passa próximo de R$ 120 bilhões. Estão na cesta de ofertas ações da Petrobras (SA:PETR4), Vale (SA:VALE3), Eletrobras (SA:ELET3), Suzano (SA:SUZB3) e JBS (SA:JBSS3), entre várias outras. Segundo o próprio presidente do BNDES, Gustavo Montezano, os resultados obtidos com as operações serão redirecionados para o financiamento da infraestrutura e saneamento, o que vai ajudar a destravar alguns dos gargalos do desenvolvimento econômico do país, mas uma parte também deverá ajudar a melhorar as contas públicas e transmitir uma mensagem mais positiva para investidores nacionais e estrangeiros.
O plano já está em movimento. No final de 2019, a Petrobras representava 40% da carteira de ações do BNDES, mas o ano mal começou e o banco já vendeu 9,6% das ações PETR3, movimentando aproximadamente R$ 22 bilhões. E tudo indica que JBS, Fundação Tupy (SA:TUPY3) e Copel (SA:CPLE6) serão as próximas da fila.
Até aí, tudo bem. A venda dos ativos melhora os números do banco, por consequência do governo e do país como um todo, mas o que muda para você investidor?
Bem, com tantas ações na mesa dá pra imaginar que a liquidez na bolsa estará em alta. O movimento traz um impacto de curto prazo, é claro, e muita gente vai aproveitar a oportunidade para refazer suas posições e surfar na onda. Mas o momento exige cautela.
O investidor que visa o longo prazo vai precisar estar blindado dos ruídos e sacolejos para se manter fiel à sua estratégia e escapar das tentações do dia a dia. Afinal de contas, a venda do BNDES está atrelada a uma meta do banco e do governo, nada tem a ver com uma possível corrosão dos fundamentos das companhias em questão, ou seja, trata-se de muito barulho por nada. O que realmente importa é saber se o BNDES fará bom uso dos resultados para favorecer a indústria e a retomada econômica, essa sim do interesse de todos.