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Publicado 19.11.2018, 08:39
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O tão esperado novo ciclo de alta e a consolidação do mercado de açúcar em NY ainda não se materializaram. Depois de o contrato futuro de açúcar em NY com vencimento em março de 2019 negociar acima de 14.20 centavos de dólar por libra-peso, na penúltima semana de outubro, impulsionado pela cobertura dos fundos não-indexados, o mercado mergulhou para próximo dos 12.50 centavos de dólar por libra-peso. Nesta sexta-feira, o açúcar encerrou cotado a 12.69 centavos de dólar por libra-peso, uma queda pequena de 9 pontos em relação à semana anterior.

Paradoxalmente, os números de previsão de safra que vem da Índia são mais construtivos neste momento em que se forma o consenso de que haverá uma quebra na produção de açúcar daquele pais. Os números do Brasil também indicam que a safra corrente deverá encerrar ao redor de 550-560 milhões de toneladas de cana e que a próxima – embora com um maior volume de cana – terá um rendimento bem abaixo daquele observado neste ano. No entanto, o movimento íngreme de alta visto no mercado futuro foi provocado muito mais pela aceleração da liquidação dos fundos não-indexados do que pela mudança dos fundamentos do açúcar que se tornaram mais construtivos. O velho exemplo escancarado de que os mercados futuros, em especial os de commodities, exageram na alta e exageram na baixa.

O desempenho do petróleo e da gasolina nos mercados internacionais foi determinante para a aceleração da queda do preço do açúcar em NY. Há duas semanas dissemos aqui neste espaço que tanto o comportamento do petróleo quanto o do real seriam decisivos para a trajetória de preços que o açúcar iria tomar.

Embora o real tenha se comportado razoavelmente bem, só não tendo se valorizado porque o cenário macro o coibiu, o fato é que o petróleo caiu mais de 14% este mês (WTI) enquanto a gasolina derreteu 10%, mas ambos acumulam quedas de mais de 20% nos últimos 30 dias. As usinas fazem conta e reconhecem que, sob este cenário, a gasolina tem espaço para cair abaixo de R$ 4,0000 por litro muito rapidamente. Se o preço do petróleo não se recuperar até o final do ano – e os fundamentos não parecem contribuir para que isso ocorra – o planejamento de produção para a safra 2019/2020 vai fazer com que as usinas do Centro-Sul olhem com mais carinho para o açúcar.

A Organização Internacional do Açúcar divulgou cortes na produção no Brasil, Índia, União Europeia e Paquistão, reduzindo substancialmente o superávit mundial de 6.75 para 2.17 milhões de toneladas de açúcar. Essa é uma notícia que poderá, tão logo os mercados percebam in-loco essas reduções, abrir espaço para uma retomada de preços.

O setor terá que observar atentamente a evolução de algumas questões importantes nos próximos 2-3 meses. Qual será o impacto no preço da bomba e no consumo do hidratado quando a totalidade da queda do preço da gasolina no mercado externo – mais de 20% em trinta dias – for repassada pela Petrobras (SA:PETR4) às distribuidoras? Qual a reação das grandes empresas, que armazenaram etanol para aproveitar a entressafra de um mercado até então bastante aquecido, caso o preço alvo que tinham em mente não seja alcançado? Qual será o mix de produção para o próximo ano? Quão hábil será o governo Bolsonaro para aprovar as reformas e fomentar a economia no início de 2019? Teremos estoque suficiente de açúcar e etanol para atravessar a entressafra caso a economia aqueça?

Para as usinas que já estão fixadas no vencimento maio/2019, ainda há bastante tempo para pensar nos vencimentos seguintes. Mas, para aquelas com fixação para 2019/2020 abaixo de 25% do volume total, uma alternativa pode ser a compra de puts (opções de venda) com preço de exercício perto de 13 centavos de dólar por libra-peso, financiadas com calls (opções de compra) com vencimento mais longo. As usinas devem tomar muito cuidado, neste momento, com operações do tipo acumuladores, para que as suas dores não se acumulem. Acumuladores, neste ambiente, livram as empresas de riscos pontuais e apostam na permanência do mercado dentro de determinado intervalo de preço. Numa virada da trajetória que leve o mercado além dos limites, a dor é certa.

Um sinal de alerta, os fundos não-indexados estão novamente vendidos (não aguentaram ficar comprados por muito tempo): com base na última terça-feira quando o CFTC faz seu levantamento, eles estavam cerca de 4,000 contratos vendidos a descoberto.

Um executivo brasileiro, vindo de NY, aguardava impaciente no bar do aeroporto em Miami uma conexão para continuar sua viagem ao Brasil, já que o voo direto daquela cidade havia sido cancelado devido ao mau tempo. Para relaxar, pediu uma dose de cachaça não sem antes perguntar ao garçom o preço. “São treze dólares”, ouviu do atendente. Ao seu lado, um sujeito sob efeito etílico, não se conteve e comentou com o executivo, em português: “Caro hein? Por esse valor, o senhor compra uma usina no Brasil”. E se retirou em seguida.

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