Deu o que falar a manchete sobre um correntista que havia esquecido R$ 1,65 milhão em um banco qualquer, agora resgatado com a ajuda da nova ferramenta do Bacen.
Galera fez piada sobre a distração do sujeito que não cuida da própria grana como deveria, ou que deve ser tão rico que até mesmo um valor milionário acaba passando por irrisório.
Ao rirmos dos outros, porém, geralmente estamos rindo de nós mesmos.
Ainda hoje, depois de todo o papo de financial deepening e disrupção fintech, resta um montante assombroso de R$ 450 bilhões depositados em fundos de previdência de grandes bancos que, sistematicamente, entregam retornos abaixo do CDI.
Seria mais conveniente se essa enorme cifra letárgica estivesse efetivamente esquecida por um moleque maconheiro de memória curta, mas a verdade é bem mais incômoda: são mães e pais de família, confiando sua futura aposentadoria a um investimento careta.
A culpa é de quem?
Só os banqueiros podem nos ajudam a responder a essa pergunta, por meio do máximo ensinamento aprendido por todo filho de banqueiro que deseja seguir os passos do pai:
"Se um banco empresta mil reais e o devedor não paga, a culpa é do devedor. Mas se esse mesmo banco empresta dez milhões de reais e o devedor não paga, então a culpa é do banco."
Traduzindo para o nosso contexto:
"Se um correntista investe mil reais num título de capitalização, a culpa é do banco. Mas se esse mesmo correntista investe seu futuro principal previdenciário numa aplicação ruim, a culpa é do correntista."
É bonitinho falar mal dos bancos, mas precisamos começar a falar mal de nós mesmos também.
Gastamos quase todo o nosso tempo financeiro disponível (que já é escasso) em busca de novas aplicações maravilhosas quando as melhores decisões provavelmente derivam de mudar velhas alocações ruins, fazendo as pazes com o nosso passado.