Introdução
Como seus personagens fictícios, a indústria de jogos continua evoluindo. O setor está consistentemente à beira da disrupção. Como poderão ver a seguir, este segmento sempre caminhou a base de inovações tecnológicas, tanto em jogabilidade quanto em termos de modelo de negócios, uma vez que sempre se adaptou às constantes demandas da sociedade:
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Fonte: Messari
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A onda de inovação mais recente dessa indústria foi sem dúvidas é a ascensão do GameFi, que diga-se de passagem, é a maior financeirização da história no setor. O primeiro modelo de monetização GameFi (“play-to-earn”) foi popularizado pela Axie Infinity. Os jogadores podem comprar Axies para ganhar SLP, uma “mercadoria” no jogo. O sucesso econômico desse game em específico resultou em uma série de outros jogos que são, basicamente, cópias, ou gameFi’s de 2ª linha que “incharam” o modelo play-to-earn por meio de modelos de staking.
As falhas inerentes
O modelo play-to-earn criou marcas de jogos com valuations bilionários como o próprio Axie Infinity, DeFi Kingdoms, Star Atlas etc. No entanto, o modelo de jogo existente tem várias falhas graves que impedem seu sucesso a longo prazo.
Em primeiro lugar, a capacidade de comprar NFTs ou moedas do jogo efetivamente cria uma mecânica de jogo “pay-to-win” (pague para ganhar), uma característica que a maioria das grandes franquias de jogos de sucesso evitam. Os jogos mais bem-sucedidos geralmente compartilham um elemento de habilidade, optando por criar uma experiência de jogo multiplayer competitiva e evitando a opção de “usar o cartão de crédito até ganhar”.
Em segundo lugar, a maioria dos jogos “play-to-earn” exige um investimento inicial significativo (de centenas a milhares de dólares) em NFTs apenas para jogar o jogo. Isso naturalmente impede muitos usuários em potencial de jogarem e ressalta ainda mais a dinâmica de pagar para ganhar.
Por fim, pergunte a 100 usuários se os jogos “play-to-earn” são divertidos e, quase em uníssono, você ouvirá um retumbante “Não, mas estou ganhando dinheiro!”. Os jogadores que ganham dinheiro através de ações rotineiras não são uma receita sustentável para o sucesso de uma franquia. O resultado final é o mesmo: uma trupe de “mercenários” que pula de jogo em jogo, focando apenas nos rendimentos.
Programas de Bolsas de Estudo
Muitas vezes, as atividades de farm em jogos P2E são apoiadas por “programas de bolsas de estudo”. Por exemplo, o programa de bolsas de estudos da Axie permite que jogadores mais pobres (os estudiosos) tomem emprestado ativos de detentores de NFT mais ricos, dando a estes uma parte do rendimento gerado. As guildas de jogos como a Yield Guild Games expandiram o programa de bolsas, apoiando, em alguns casos, mais de 20.000 estudiosos.
Embora seja admirável que a YGG permita que indivíduos (predominantemente em regiões em desenvolvimento como Sudeste Asiático, Filipinas e América Latina) ganhem uma recompensa econômica por seu trabalho, essas dinâmicas por si só são insustentáveis. A continuação do programa de bolsas de estudo, que é mais parecido com um emprego, exige o crescimento contínuo das oportunidades de rendimento e da adesão dos jogadores.
A monetização de jogos NFT
Hoje, a maioria dos jogos monetiza a receita recorrente em um dos dois eixos (identidade ou utilidade). O primeiro eixo é o valor social (identidade) – vender ativos no jogo que mostram status ou valor cosmético, mas não afetam a jogabilidade. Fortnite é o exemplo canônico, vez que construiu um negócio de sucesso vendendo skins ou atualizações cosméticas para armas.
O Roblox (NYSE:RBLX) (SA:R2BL34) monetiza por meio de assinaturas do Robux, que podem ser gastas em uma variedade de jogos criados por desenvolvedores de terceiros, alguns dos quais priorizam a utilidade, enquanto outros monetizam por meio do valor social.
Finalmente, jogos como GTA permitem que os jogadores comprem itens que os ajudam a completar a história mais rapidamente (portanto, fazem parte do eixo da utilidade); no entanto, há também um elemento de valor social na posse de certos tipos de ativos (por exemplo, Lambo vs. Prius).
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Fonte: Messari
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Esse modelo também pode ser amplamente aplicado a jogos “play-to-earn”, com a diferença de que a receita recorrente normalmente vem por meio de taxas de negociação secundárias em vez de assinaturas (ou seja, Fortnite V-Bucks e Roblox Robux).
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Fonte: Messari
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O “manual” dos GameFis atuais se concentrou na venda de NFTs e na combinação de staking ou yield farming para criar incentivos financeiros para “jogar” o jogo. Não há jogos NFT notáveis que se concentrem em monetizar via valor social.
Ter NFTs negociáveis que fornecem vantagens competitivas rapidamente se transformam em dinâmicas de “play-to-win”. No entanto, há casos em que NFTs baseados em utilidade fazem sentido em um jogo. NFT’s que economizam tempo (mas não competitivos) são mecanismos potenciais para os designers de jogos abordarem a integração.
Um exemplo notável são MMORPG’s como Runescape ou World of Warcraft, que possuem uma variedade de objetos comuns, como recursos, como madeira, ouro e tijolos necessários para construir outros recursos, mas não tornam o jogador melhor nos aspectos competitivos do jogo. Combinar esses tipos de NFTs comuns com NFT’s competitivos ou sociais não negociáveis é uma maneira muito melhor de criar jogos NFT baseados em utilidades.
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A maioria não consegue ultrapassar o “Entertainment Threshold” – o ponto em que uma empresa ou desenvolvedor criou um jogo excitante o suficiente para ser sustentável além dos incentivos financeiros oferecidos aos usuários.
Considerações finais
Mesmo com suas falhas, o modelo play-to-earn apresenta uma nova dinâmica tratando-se de economia e games. Mas um modelo de jogo free-to-play-to-win (F2P2E) pode se adequar melhor aos jogos NFT do que o modelo pay-to-play-to-win (P2P2E).
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Todavia, vale destacar que mesmo com suas deficiências, o modelo play-to-win popularizado por jogos como Axie Infinity foi um ponto de virada no setor de jogos. Bilhões de dólares serão investidos nesse segmento nos próximos anos. Mas a busca pelos investidores deve ser focada em modelos de free-to-play-to-win. Esse sim seria capaz de alavancar o setor como um todo, pois sustenta um ambiente competitivo e uma economia robusta.