A Nigéria talvez não esteja no radar da maioria das pessoas, mas deveria. O maior país africano está nos estágios iniciais de um experimento monetário que pode chegar aos EUA mais cedo do que você imagina.
Em outubro de 2021, o banco central da Nigéria lançou o eNaira, uma versão digital da sua moeda naira, e, até o momento, as coisas não estão indo bem. Em primeiro lugar, por que os nigerianos não estão usando a moeda.
Em segundo, porque o banco central substituiu as notas bancárias antigas de alta denominação por outras menos falsificáveis. Como você pode imaginar, isso gerou uma caótica corrida para os bancos. Em razão disso, o governo limitou os resgates a cerca de US$ 45 por dia.
Algumas pessoas acreditam que a crise foi tramada para pressionar as pessoas a usar o eNaira. Se isso é verdadeiro ou não, o fato é que o país não pretende abrir mão da moeda. A Nigéria, que realizou uma eleição presidencial bastante contestada no último fim de semana, está em tratativas com uma empresa de tecnologia de Nova York, a fim de permitir que o país tenha “total controle” sobre o eNaira, de acordo com uma reportagem da Bloomberg.
Já escrevi sobre os prós e os contras das moedas digitais dos bancos centrais, conhecidas pela sigla em inglês CBDC, e acredito que a maioria das pessoas já tenha formado uma opinião sobre o assunto.
A questão é que as CBDC são destinadas apenas a países emergentes e em desenvolvimento, como a Nigéria. Cerca de 90% dos bancos centrais do mundo estão em algum ponto do processo de criar suas próprias moedas digitais. A Suécia, que já é uma das sociedades que menos usa dinheiro físico do mundo (apesar de ter sido o primeiro país da história a emitir notas bancárias), pode estar prestes a implementar o e-krona.
Nem todo mundo é a favor da ideia de uma moeda digital centralizada, e poucos países estão trabalhando em uma legislação para limitar sua abrangência. A Suíça, cujos cidadãos detêm o maior volume de notas físicas per capita, deseja consagrar a disponibilidade de notas bancárias de papel em sua constituição. Na semana passada, um parlamentar norte-americano propôs uma lei antivigilância estatal, a fim de proibir que o Federal Reserve emita seu próprio dólar digital.
Tudo se resume ao dinheiro
Mesmo entre aqueles que não apoiam a criação de uma CBDC, os apelos para proibir certas notas bancárias vem crescendo cada vez mais com os anos. Os EUA já acabaram com notas de alta denominação, como US$ 500 e US$ 100.000, e a próxima a entrar na lista de cortes pode ser a de US$ 100.
Os defensores dessa ideia afirmam que a descontinuação das notas que levam o rosto de Ben Franklin seria um importante fator para coibir a corrupção, o terrorismo e outras atividades ilícitas, principalmente no exterior. Acredite ou não, a grande maioria das notas de US$ 100 – cerca de 80% do seu volume, de acordo com o Fed de Chicago – é mantida no exterior. A demanda sobe em momentos de crise política e financeira.
Como as notas de 100 dólares são as mais impressas nos EUA, superando inclusive as notas de 20 e 1 nos últimos anos, a quantidade de dinheiro fora do sistema financeiro americano é substancial.
Não sei qual é a solução para isso, mas eliminar a nota de US$ 100 me parece ser uma ação extrema. O que isso teria a ver com o valor do dólar? Como isso afetaria a confiança das pessoas em nosso sistema monetário? Estamos vendo o que está acontecendo na Nigéria.
Além disso, não acredito que as CBDC sejam a solução. Ao contrário do Bitcoin, as CBDC são, por definição, centralizadas. Também podem ser rastreadas e programadas, com consequências assustadoras.
Confiança no ouro
Isso só reforça a tese de investimento no ouro, na prata, nos itens colecionáveis, nos imóveis e em outros ativos reais. Ainda que não sejam tão líquidos e portáteis como o dinheiro vivo, os ativos reais atuam como reservas de valor, porque são uma propriedade privada não emitida por uma autoridade central.
O mesmo se aplica ao bitcoin, primo digital do ouro. A única forma de produzir um novo bitcoin ou uma nova onça-troy de ouro é através do trabalho intensivo, uma conversão literal de tempo e energia. Nenhum banqueiro central ou ministro da Fazenda pode afetar unilateralmente a oferta com um estalar de dedos.
É por essa razão que os bancos centrais gostam tanto do ouro. No ano passado, eles adquiriram juntos uma quantidade recorde do metal amarelo, de forma que alguns analistas preveem que eles farão ainda mais aquisições neste ano.
Será que o bitcoin pode acabar entrando no balanço dos bancos? Não é tão maluco quanto parece. Em dezembro de 2022, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), geralmente chamado de “o banco central dos bancos centrais”, divulgou uma norma para a exposição dos bancos aos criptoativos. O padrão, que entrará em vigor em 2025, limita a exposição a 2%.
Excepcionalismo americano
Gostaria de compartilhar com vocês algo que me enviaram recentemente. No mês passado, eu participei de estudos de caso realizados na Harvard Business School, onde finalmente recebi meu MBA, após vários anos. (Eu brinco que sou um aprendiz lento).
Larry Summers, ex-secretário do Tesouro e atual presidente emérito de Harvard, nos lembrou do fato impressionante de que a capitalização total de mercado das ações dos EUA representa mais de 40% do mercado acionário mundial. Isso é verdade, apesar de a economia americana representar cerca de 16% do PIB mundial e de a sua população representar menos de 5% da população do mundo.
As palavras de Summers reforçam minha crença de que não é sensato apostar contra os EUA, não importa quem esteja no poder ou o que esteja acontecendo no mundo. O excepcionalismo americano é muito mais do que um conceito fantasioso. Ele se evidencia na força das instituições do país e em seus mercados de capitais.
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