Os preços do milho apresentaram comportamentos distintos em março. O início do mês foi marcado por altas no mercado brasileiro, devido às demandas interna e externa aquecidas, principalmente diante do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que resultou em mudanças nas rotas de exportadores e em aumento da procura pelo cereal sul-americano. Consumidores brasileiros tinham necessidade de adquirir novos lotes, mas esbarraram nos altos patamares de preços praticados no spot, visto que vendedores, observando os preços mais elevados nos portos, aumentaram os valores pedidos por novos lotes. O milho chegou a ser negociado acima dos R$ 100/saca de 60 kg em muitas regiões acompanhadas pelo Cepea, e o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas - SP) atingiu novo recorde nominal da série histórica, a R$ 103,90/sc no dia 14. Porém, em meados de março, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa passou a cair. A pressão veio especialmente do enfraquecimento da demanda. Além disso, parte dos produtores ficou mais flexível nos valores de negociação, seja porque pretendia aproveitar os patamares mais elevados, seja por necessidades de fazer caixa para quitar dívidas de custeio. Outros produtores, ainda, precisavam comercializar lotes da safra verão, que começou a ganhar ritmo no Sudeste brasileiro.
PREÇOS – Assim, no acumulado de março, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa caiu 4,4%, fechando a R$ 93,09/saca de 60 kg no dia 31. Já a média mensal, de R$ 99,69/sc de 60 kg, avançou 3% sobre a de fevereiro. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores do milho acumularam baixas de 4% no mercado de lotes (disponível) e de 8,2% no de balcão (ao produtor). Quando comparadas as médias mensais, por outro lado, as altas foram de 2,7% e 0,4%, respectivamente. Na B3 (SA:B3SA3), os vencimentos Maio/22 e Set/22 recuaram 5,4% e 0,9% no acumulado do mês, fechando a R$ 91,31/sc e a R$ 88,63/sc, respectivamente, no dia 31.
PORTOS – As negociações estiveram aquecidas nos portos na maior parte do mês, sobretudo em Paranaguá (PR), onde os valores avançaram com expressividade, impulsionados pela maior demanda internacional – principalmente devido à paralisação das operações nos portos do Mar Negro – e pelos aumentos nos preços externos. Comparando-se as médias mensais de fevereiro e março, o milho negociado em Paranaguá se valorizou fortes 14%, chegando ao maior ao patamar da série histórica do Cepea nessa praça, de R$ 110,04/sc, no dia 4. Entretanto, os preços tornaram a recuar a partir da segunda metade do mês. No geral, exportadores reduziram o interesse nas compras, indicando já terem realizado aquisições para todo o mês de março e para o começo de abril. Assim, no acumulado do mês, os registros de embarques estiveram abaixo dos verificados no mesmo período de 2021. Dados da Secex apontam que as exportações totalizaram apenas 14,27 mil toneladas em março, inferior às 187 mil toneladas embarcadas em fev/22 e muito inferior ao volume embarcado no mesmo período do ano passado, que foi de 292 mil toneladas.
CAMPO – No início do mês, o baixo volume de chuvas e as altas temperaturas preocuparam produtores quanto à semeadura da segunda safra. Porém, com o retorno das precipitações, as atividades ganharam ritmo, ao mesmo tempo em que a colheita da safra verão está caminhando para o final. A semeadura da segunda safra de milho está praticamente concluída em Mato Grosso, segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). No Paraná, de acordo com a Seab/Deral, as atividades alcançaram 97% da área estimada. O clima tem ajudado na colheita do milho verão, sendo que 85% da área já havia sido retirada até o dia 28 no Paraná. Em Mato Grosso do Sul, a área semeada até o dia 25 somava 95,1% do esperado, de acordo com a Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul). As colheitas das safras de verão do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina estão adiantadas, beneficiadas pelo clima. A Emater/RS indica que, até o dia 31, 75% da área já havia sido colhida, 7 p.p. superior ao observado no mesmo período de 2021. Para a Conab, produtores de Santa Catarina haviam colhido cerca de 93% da área até o final do mês, avanço também de 7 p.p. no mesmo comparativo. No entanto, o baixo volume colhido em Goiás e no Nordeste fazem com que média nacional da colheita da safra verão some 47,1%, segundo dados da Conab referentes até o dia 26. Na Argentina, até o dia 31, a colheita havia totalizado 14,4% da área nacional, segundo a Bolsa de Cereales. Produtores argentinos, que já estavam preocupados com a seca registrada no início da temporada, agora estão atentos a geadas, que podem reduzir ainda mais a produção da atual temporada.
INTERNACIONAL – Nos Estados Unidos, os contratos futuros foram impulsionados por preocupações com os conflitos na Ucrânia na maior parte de março, que, caso se prolonguem ainda mais, podem prejudicar a semeadura, que tem início previsto para abril. Além disso, a interrupção dos embarques nos portos do país também preocupou consumidores mundiais. Os contratos Mai/22 e Jul/22 avançaram fortes 8% entre 28 de fevereiro e 31 de março, fechando a US$ 7,4875/bushel (US$ 294,76/t) e a US$ 7,33/bushel (US$ 288,56/t), respectivamente, no dia 31.