A temporada brasileira 2021/22 de milho deve se iniciar com preços internos acima da média histórica. No primeiro semestre de 2022, os baixos estoques e a demanda firme podem limitar a possibilidade de quedas expressivas nas cotações, ao passo que, na segunda metade do ano, pode haver certa pressão sobre os valores, caso se consolidem as projeções de oferta de segunda safra elevada. Por enquanto, as estimativas oficiais indicam produção e exportações recordes no Brasil e no mundo.
As lavouras brasileiras da primeira safra foram beneficiadas pelo clima durante a semeadura e a fase inicial de desenvolvimento. No entanto, o clima seco no Sul do País foi motivo de preocupação no último bimestre de 2021, com agentes já apontando oferta inferior às estimativas. Para a segunda safra, o cultivo da soja mais acelerado e dentro do período considerado ideal deve favorecer a colheita da oleaginosa, permitindo a semeadura de milho na janela mais adequada para o desenvolvimento das lavouras. A depender do clima nos primeiros meses de 2022, a produtividade do milho segunda safra pode ser considerada satisfatória.
Por enquanto, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a primeira safra de milho 2021/22 deva atingir 29,06 milhões de toneladas, 17,6% a mais que na temporada anterior, resultado do aumento de 3,7% na área e, principalmente, da expectativa de crescimento de 13,4% na produtividade. Esta perspectiva de maior produção é um alento aos consumidores, tendo em vista que, em janeiro/22, os estoques de passagens devem ser os menores desde janeiro/17, sendo equivalente a aproximadamente apenas 10% do consumo anual.
As demandas doméstica e internacional devem se manter aquecidas. No Brasil, o consumo segue crescente, estimado em 76,8 milhões de toneladas em 2021/22, 6% superior à temporada passada e 12% acima da média das últimas três temporadas. O aumento no consumo reflete o maior interesse do setor pecuário e também do pujante segmento de etanol de milho do Centro-Oeste. As exportações devem ser favorecidas pelo dólar valorizado e pelo maior excedente doméstico.
A soma da produção do milho verão ao estoque de passagem resulta em disponibilidade de 37,9 milhões de toneladas para o primeiro semestre, o equivalente a 49% do consumo doméstico no ano, contra 48% na temporada passada. Assim, o consumo interno ficará ligeiramente menos dependente da produção de milho da segunda safra.
Para a segunda temporada, por enquanto, diante os elevados preços dos últimos meses, a Conab estimativa aumento de 5,7% de área em relação à temporada anterior, um recorde. A Companhia prevê expressivo aumento de 34,4% na produtividade média nacional, após a forte quebra na safra 2020/21. Com isso, a produção do milho segunda safra 2021/22 é estimada em 86,25 milhões de toneladas, crescimento de 42% frente à anterior e 31% superior à média das últimas quatro safras, um recorde.
Para a terceira safra, por enquanto, a Conab mantém a estimativa de área e prevê aumento de 17% na produtividade média, resultando em produção de 1,8 milhão de toneladas. Caso as estimativas da Conab se concretizem, a produção total de milho em 2021/22 deverá atingir 117,18 milhões de toneladas, também um recorde e 34% maior que a temporada 2020/21.
A disponibilidade interna brasileira para a próxima safra – referente à soma de estoques iniciais, importação e produção – pode superar as 126 milhões de toneladas, quantidade 26,4% acima da temporada passada. Por outro lado, o consumo interno deve crescer em menor intensidade e, com isso, a diferença entre a disponibilidade interna e o consumo seria de 50,1 milhões de toneladas, volume 78,7% maior que o da safra passada e ainda 20% superior à média das últimas três temporadas. Esta quantidade estará disponível para exportação. Por enquanto, a Conab estima que 36,7 milhões de toneladas sejam embarcadas entre fevereiro/22 e janeiro/23 que, se concretizado, seria recorde.
Em nível mundial, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção seja de 1,208 bilhão de toneladas, recorde e aumento de 7,7% em relação à anterior, refletindo os incrementos de 6,7% nos Estados Unidos, de 35,6% no Brasil e de 8% na Argentina. O consumo deve somar 1,17 bilhão de toneladas, elevação de 3%.
Quanto às transações internacionais, o USDA projeta crescimento de 15%, indo para 204,85 milhões de toneladas, também recorde. Por enquanto, a expectativa é de que os Estados Unidos sigam como principal exportador mundial, com 63 milhões de toneladas, seguidos por Argentina, com 40,5 milhões de toneladas, Ucrânia, com 32,5 milhões de toneladas e Brasil, com 30 milhões de toneladas – o período considerado é de outubro/21 a setembro/22. Ainda para 2021/22, o USDA estima que a China siga como a principal importadora, com 26 milhões de toneladas, seguida por México e Japão, com 17 milhões de toneladas e 15,6 milhões de toneladas, respectivamente.
Com perspectivas de aumento na produção e no consumo, o estoque mundial deverá atingir 305,54 milhões de toneladas, quantidade 4,4% superior à da temporada passada. A relação estoque final/consumo global para a safra 2021/22 está em 26%, ainda 1 p.p. abaixo da média das últimas quatro safras, o que deve contribuir para a sustentação dos preços internacionais no médio prazo.