As cotações internas do milho atravessaram mais um mês em queda e operaram em maio nos menores patamares nominais desde agosto de 2020. Os principais fundamentos para os recuos foram: estimativas indicando safras volumosas no Brasil e nos Estados Unidos, onde o clima esteve favorável na maior parte de maio, e a redução na demanda, pois compradores postergaram as aquisições, à espera de desvalorizações mais intensas com o avanço da colheita de segunda safra, que começou em maio no Brasil. No acumulado do mês, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa registrou forte queda de 18%, fechando a R$ 53,77/sc de 60 kg no dia 31. A média do mês, de R$ 58,16/sc, ficou 22,3% inferior à de abril e foi a menor desde agosto de 2020, em termos nominais, quando havia sido de R$ 56,62/sc. Nas regiões acompanhadas pelo Cepea, entre 28 de abril e 31 de maio, as quedas foram de 12,3% nos preços pagos ao produtor (balcão) e de 16,1% para negociações entre empresas (mercado disponível). As médias mensais recuaram 20,6% e 21% entre abril e maio, nesta ordem.
CAMPO – Até o final de maio, a colheita da segunda safra brasileira havia alcançado 0,4% da área nacional colhida, segundo a Conab. O percentual de lavouras em maturação aumentou, favorecido pela baixa umidade. No geral, contudo, a colheita só deve ser intensificada a partir de meados de junho, quando a maior parte das regiões terá lavouras no final do desenvolvimento. Especificamente em Mato Grosso, o Imea indicou que 0,49% da área estadual havia sido colhida até 26 de maio, 1,88 p.p. abaixo do observado no mesmo período de 2022, o que se deve ao atraso da semeadura. Já quanto à safra verão, além de São Paulo, Santa Catarina também finalizou a colheita em maio. A Conab relata que 81,8% da área nacional foi colhida até o dia 27, recuo de 6,5 p.p. frente ao mesmo período do ano anterior. No Paraná, segundo a Seab/Deral, a colheita havia alcançado 99% da área estadual até o dia 29 de maio, restando as regiões de Curitiba e União da Vitória para finalizarem as atividades. No Rio Grande do Sul, a Emater/RS apontou que a colheita foi realizada em 93% das lavouras até 1º de junho.
ESTIMATIVAS – Em relatório divulgado no dia 11 de maio, a Conab indicou que a segunda safra 2022/23 de milho pode somar 96,13 milhões de toneladas, 12% a mais que a anterior. Para o milho verão, a temporada atual passou a ser estimada em 27,04 milhões de toneladas, 8% superior à passada. Para a terceira safra, o aumento é de 6,2%, totalizando 2,3 milhões de toneladas. Assim, a Companhia passou a estimar a produção total da safra brasileira 2022/23 em 125,53 milhões de toneladas, 11% acima da anterior e um recorde. Caso esses dados se concretizem, a disponibilidade total de milho – resultado da soma do estoque inicial, da importação (projetada em 1,9 milhão de toneladas) e da produção – seria de 135,53 milhões de toneladas, a maior da história. O consumo interno é previsto pela Companhia em 79 milhões de toneladas, restando 56 milhões de toneladas exportáveis. No entanto, até o momento, a expectativa é de que 48 milhões de toneladas sejam exportadas pelo Brasil, restando, ao final da temporada (em janeiro/24), 8,18 milhões de toneladas, segundo a Conab. Em termos mundiais, o USDA divulgou que a produção mundial em 2023/24 deve ser de 1,21 bilhão de toneladas, aumento de 6 milhões de toneladas (ou +6%) em relação à temporada anterior. Dentre os maiores produtores, os aumentos mais expressivos foram observados na Argentina, na União Europeia e nos Estados Unidos. No Brasil, por outro lado, a produção deve se manter, enquanto deve recuar na Ucrânia. Quanto ao consumo global, é projetado aumento de 4% frente à safra anterior, para 1,204 bilhão de toneladas. Com o aumento na produção, os estoques de passagem subiram 5%, e, assim, a relação estoque/consumo é de 26,2%, próxima à média dos últimos cinco anos, de 26,6%. Ainda segundo o USDA, as exportações mundiais devem aumentar 7%, para cerca de 190 milhões de toneladas, com o Brasil superando os Estados Unidos nos embarques pela primeira vez na história. O Brasil deve exportar 56 milhões de toneladas na temporada 2023/24, enquanto os Estados Unidos podem embarcar 54 milhões de toneladas.
EXPORTAÇÃO – O ritmo de negócios nos portos foi baixo durante todo o mês, e os embarques estiveram enfraquecidos, uma vez que a safra recorde de soja foi prioridade nas entregas nos portos. Agentes indicaram que a oleaginosa deve seguir como prioridade nos próximos meses, o que pode limitar o volume de milho escoado pelo Brasil – isso evidencia os problemas logísticos na exportação brasileira de grãos, diante de colheitas recordes. Os embarques brasileiros foram de apenas 384,88 mil toneladas em maio, inferior às 1,08 milhão de toneladas embarcadas em maio/22. Quanto aos preços, em Paranaguá (PR), a média de maio foi 19% inferior à do mês de abril.
MERCADO EXTERNO – Enquanto a colheita na Argentina evidencia as quebras na produção, o bom avanço na semeadura nos Estados Unidos deixou agentes otimistas quanto à produção. A semeadura de milho nos Estados Unidos atingiu 92% da área esperada até o dia 28 de maio, acima da média dos últimos cinco anos, que é de 84%, de acordo com o USDA. Na Argentina, a colheita alcançou 28,6% da área nacional com os rendimentos das lavouras argentinas abaixo do previsto, com estimativa de produção de 36 milhões de toneladas, segundo a Bolsa de Cereales. Quanto aos preços, influenciados pelas previsões de safra volumosa, acumularam queda no mês. Na Bolsa de Chicago (CBOT), entre 28 de abril e 31 de maio, o primeiro vencimento recuou 6,6%, fechando o dia 31 a US$ 5,94/bushel (US$ 233,84/t).