O milho é uma cultura importantíssima na economia brasileira. Uma excelente fonte de receita para agricultores, e matéria-prima para indústrias de ração animal. Mais recentemente, o produto tem ganho novas utilidades, como a fabricação de etanol. Por estes motivos, o milho vem ganhando destaque na pauta exportadora brasileira, e no comércio internacional.
Os contratos futuros e contratos de opções sobre futuros dessa matéria-prima acompanham este movimento, e hoje, é junto ao boi gordo, os dois principais contratos futuros agrícolas negociados no Brasil. Como a principal finalidade dos contratos futuros e opções são gerenciamento de riscos, o Hedge, faz-se necessário analisar o comportamento dos preços desta mercadoria no mercado físico.
Este artigo estudo o preço do milho, à vista, no mercado físico, pelo indicador CEPEA, pelo período de 17 anos. A fim de conhecer todas as potenciais influências de preços, não foram descontados índices de inflação ou dólar.
Os dados foram plotados em formato gráfico, o qual se encontra abaixo.
Logo de cara se percebe que a série de preços está dentro de um canal de alta. Por mais que houveram oscilações de preços as mínimas de preços sempre foram superiores aos valores mínimos de períodos passados. Nesses "fundos" de mínimas de preços, traça-se uma reta. A mesma reta é interpolada (mantendo a mesma inclinação), nos topos de máximas.
Os motivos para esta tendência de alta de preços de longo pra prazo são: aumento do consumo por parte dos confinadores de boi (setor que se profissionalizou muito no mesmo período), aumento do consumo por criadores de porcos e aves, consumo para produtos industrializados (a cerveja, por exemplo contém milho) e sobretudo, exportações. Novas utilidades, como o uso para etanol, inclusive pelas usinas de cana de açúcar, reformam este movimento para os próximos anos.
O movimentos secundários de preços, que ocorrem, sazonalmente, são fatores importantes a se destacar.
Foram destacados 10 picos de quedas de preços, nas setas vermelhas, e 7 topos de altas de preços. A primeira seta vermelha indica mínimo de preços em 09/2000. A segunda, por volta de 06/2003. A terceira, em 04//2006. A quarta, em 06/2007. A quinta, em 07/2010. A sétima, em 07/2012. A oitava, em 07/2013. A nona, em 09/2014. A décima, em 06/2015. E a décima primeira, em 08/2017. Todos os picos de mínimas de preços se encontram no período da colheita do milho segunda safra (chamada safrinha).
Os topos de preços foram identificados pelas setas verdes. O primeiro, em 10/2002. O segundo, em 12/2006. O terceiro, em 11/2007. O quarto, em 02/2011. O quinto, em 11/2012. O sexto, em 01/2014. O sétimo, em 01/2016. Todos estes, em período de entre-safra. O oitavo topo de alta da série saiu um pouco da regra, e no meses 04 e 05/2016 os valores da saca estavam altos, ainda. O motivo foi uma seca atípica, que atingiu grandes regiões produtoras. Importante notar que todas as mínimas de preços tocam na reta de resistencia do canal de alta. E uma vez tocadas, revertem de tendencia.
Para aqueles que produzem grãos de milho, o risco está justamente em comercializar a produção no período da colheita, e logo posterior. Por receio de quebras de safras, e temendo multas sabiamente, muitos deixam a produção "livre". O risco passa a ser o preço. Os contratos futuros e os contratos de opções, quando bem utilizados, podem mitigar esse risco, garantindo um preço melhor ao agricultor, sem a necessidade de formação de estoques e custos de armazenagem. E com liquidez financeira, barateia-se muito as compras da safra de soja seguinte. Ainda assim, prevendo o comportamento de melhora dos preços na entre-safra, o agicultor pode, na própria bolsa de valores, "apostar" na alta dos preços. O que na prática seria o mesmo do que armazenar o grão no barracao, mas com a vantagem de ter liquidez financeira (receber pelo milho colhido).
Os compradores do grão, ao contrário, se beneficiam das quedas dos preços na "boca da colheita", quando devem formar estoques, e têm o risco justamente na alta dos preços no período de entre-safra. A proteção contra este risco também pode ser feita pela bolsa de valores.
Resta uma observação acerca dos preços, a fim de prever preços no curto e médio prazo. Com base nos preços diários do milho a vista CEPEA, foi elaborado um histograma com a frequência dos preços em faixas de valores. Dividindo-se em faixas de 5 reais, percebe-se que a faixa dos 20 a 25 reais, foi a que mais teve frequência de preço, com 1131 observações. Seguindo, pela faixa dos 30 a 35 reais, com 952 observações, e pela faixa dos 25 a 30 reais, com 869 obervações. Com frequências bem inferiores estão as faixas de 15 a 20 reais, e a de 35 a 40 reias, ambas próximas a 480 observações. Segue gráfico ilustrativo:
O que esperar dos preços do milho, portanto? Se tudo ocorrer dentro da normalidade, e prevendo a tendência de preços do canal de alta e da sazonalidade de entre-safra, estimo valores na faixa de 30 a 35. Na melhor das hipóteses, na faixa de 35 a 40.
Ainda dá tempo!
Ah, e lembrando que a nova safra de milho já tem data marcada...
Autor: Maurillo Marcondes Lários Naves, é engenheiro agrônomo, especialista em agronegócio. Atua na Ouro Investimentos.