Como commodity agrícola com melhor desempenho neste ano, o milho quase não parou para descansar em sua maratona de alta desde maio de 2020.
Embora a consolidação de preços nas últimas duas semanas tenha acionado um alerta entre os investidores quanto à continuidade do movimento, tanto os fundamentos quanto os aspectos técnicos sugerem que o milho ainda tem bastante espaço para subir.
Após uma valorização de 25% em 2020 por causa da restrição de oferta de quase todos os produtos agrícolas durante a crise sanitária, o milho ainda conseguiu subir mais 14% neste ano, atingindo picos vistos pela última vez em 2014. Esse movimento também ocorreu em outros mercados agrícolas.
No pregão de terça-feira, o contrato futuro do milho para março perdeu as máximas de sete anos acima de US$ 5,71 por bushel e fechou a US$ 5,52.
A correção ocorreu depois que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) cortou suas estimativas de estoques domésticos aquém das expectativas do mercado. O USDA fez essa revisão apesar da demanda recorde da China pelo milho norte-americano.
O USDA reduziu sua previsão de estoque final para a safra atual do milho para 1,50 bilhão de bushels ante a projeção de 1,55 bilhão em janeiro. Os analistas pesquisados pela Bloomberg esperavam uma queda de 11% para 1,38 bilhão.
Forte demanda de exportação do milho americano e dificuldades de produção na América do Sul
Jack Scoville, pesquisador de commodities da corretora Price Futures Group, de Chicago, afirmou, na terça-feira, que a queda de preços poderia ser uma aberração em um rali de longo prazo, impulsionado pela forte demanda de exportação do milho americano e dificuldades de produção na América do Sul.
Em nota enviada ao Investing.com, o analista afirmou:
“A demanda de exportação permaneceu relativamente forte, já que o milho americano é um dos grãos forrageiros mais baratos no mercado mundial.”
“A safra principal começou em algumas regiões do Brasil, mas o avanço será lento em razão do atraso nas plantações por causa das condições secas no início do ano. A segunda safra de milho também está sendo atrasada, e as estimativas de produtividade para o grão sul-americano foram reduzidas."
O ministro da agricultura da China reafirmou, na terça-feira, sua previsão de importação de 10 milhões de toneladas. Um órgão governamental elevou, na semana passada, sua estimativa para 20 milhões.
Maior produtor de suínos do mundo, a China aumentou recentemente suas compras de grãos para alimentação animal, além de abastecer sua indústria de adoçantes, que usa amido e xarope de milho.
No fim de janeiro, os importadores chineses adquiriram o recorde de quase 6 milhões de toneladas de milho dos EUA em uma única semana. Esse aguçado apetite chinês, com conjunto com os atrasos nas colheitas na América do Sul, aumentaram as preocupações com a queda de armazenamento nos silos americanos.
A restrição nos estoques por causa da demanda chinesa não só provocou um rali no milho. Até mesmo os preços do trigo e da soja atingiram as máximas plurianuais. E essa tendência não deve arrefecer no futuro próximo.
A Cargill, uma empresa líder na comercialização de grãos nos EUA, afirmou na semana passada que a insaciável demanda chinesa por commodities agrícolas e praticamente qualquer matéria-prima não mostrava sinais de desaceleração no curto prazo, já que o país asiático quer impulsionar sua economia após os impactos da Covid-19.
Desconexão entre demanda chinesa por milho e dados do USDA
A desconexão entre a demanda chinesa por milho americano e a contração menor do que a esperara nas estimativas do USDA para os estoques do grão intrigou muitos analistas. Terry Reilly da Futures International de Chicago, foi um deles, ao dizer à Bloomberg:
“A China ainda é uma questão que vale um milhão de dólares".
Pedro Dejneka, sócio da MD Commodities, de Chicago, foi outro que duvidou das estimativas do governo:
“O número do USDA para os estoques de milhão está totalmente obsoleto. [O estoque] está muito menor do que o USDA afirma [e a correção de preço] deve ser temporária.”
Os gráficos técnicos também estão mais alinhados para a alta no curto prazo, segundo o analista indiano Sunil Kumar Dixit:
“Todas as médias móveis de curto prazo apontam para a alta, indicando um rali acima de US$ 5,85.”
“O milho superou muito as máximas plurianuais após ultrapassar os importantes picos de US$ 4,60 e US$ 5,20, rumo a US$ 5,72”.
“Caso haja uma forte correção de curto prazo e consolidação, podemos testar US$ 5,30 e até mesmo US$ 4,97-4,45. Abaixo disso, os compradores podem aparecer com tudo. O movimento atual, no entanto, parece ser muito forte para desencadear uma queda tão profunda”.
Dan Hueber, da consultoria Reding Hueber Ag Consulting, em Oak Brook, Ilinóis, compartilha da mesma perspectiva técnica otimista para o milho em sua nota diária para o Investing.com:
“Estamos agora dentro da faixa de 20 centavos dos próximos alvos de preço entre US$ 5,88 e 5,90. Devemos concluir uma retração de 50% de toda a faixa de preços criada desde o pico de 2012”.
Esse pico foi cravado a US$ 8,44 em agosto de 2020.
A Perspectiva Técnica Diária do Investing.com indica “Forte Compra" para o milho.
Em caso de continuidade da tendência de alta, os três níveis de resistência de Fibonacci estão a US$ 5,70, 5,77 e 5,88.
Mas, em caso de fraqueza temporária, os três níveis de suporte de Fibonacci estão a US$ 5,47, 5,40 e 5,29.
De qualquer forma, o ponto de pivô fica a US$ 5,59.
Como em todas as projeções, interprete as visões apresentadas com base nos fundamentos e opere com moderação – sempre que possível.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. Como analista do Investing.com, ele apresenta visões distintas e variantes divergentes de mercado.
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