Quando as primeiras mesas proprietárias começaram a funcionar no Brasil muita gente torceu o nariz para este modelo de negócio. É até compreensível porque algumas delas eram mais plataformas de “educação” do que de operação no mercado propriamente dita e falhavam feio na hora de remunerar seus traders. Inclusive, muitas ainda falham. Mas, paralelamente, surgiram empresas realmente especializadas e profissionais que aos poucos foram ganhando a confiança do mercado. O resultado está aí, o segmento tem apresentado crescimento nos últimos anos.
Quem diz isso não sou eu e sim a B3 (BVMF:B3SA3), cujo banco de dados mostra que até março deste ano, dos 6 milhões de investidores registrados, em torno de 1 milhão fazem day trade, que é a compra e venda de ativos no mesmo dia. Cerca de 700 mil trabalham com ações e outros 300 mil com minicontratos. Por se tratar de um modelo de negócios novo no Brasil, ainda não há estatísticas sobre o percentual destes traders que atuam por meio de mesas proprietárias. No entanto, posso afirmar que a fração é grande.
A Axia Investing sozinha tem 7 mil traders cadastrados. Boa parte começou por conta própria e depois de cansarem de perder dinheiro resolveram operar por meio da mesa. Não só deixaram de perder, como também aprenderam e se tornaram verdadeiros profissionais. É importante lembrar que existem muitas outras empresas do tipo. Uma simples busca no Google (NASDAQ:GOOGL) pelo termo “mesa proprietária” e pronto: cerca de dez a 12 nomes de empresas do segmento aparecem logo na primeira página da pesquisa. Qual é a somatória de traders operando por todas elas e por outras que não aparecem logo na primeira página do buscador?
O mais importante, porém, é que as mesas proprietárias estão contribuindo para democratizar o acesso ao mercado financeiro, já que preparam e empregam boa parte dos operadores registrados na Bolsa de Valores. Democratização essa necessária para que o número de brasileiros inseridos no mercado de capitais seja maior do que é hoje. Nos Estados Unidos, mais de 50% da população economicamente ativa tem algum contato com Bolsa de Valores. Por aqui, os 6 milhões de pessoas cadastradas representam uma fração pequenininha do potencial de nosso mercado.
Além da falta de informação, há o medo de perder dinheiro conquistado sempre com muito suor. Então, para aumentá-lo, é preferível buscar produtos tradicionais de renda fixa que rendem pouco, mas têm baixo risco. E é aí que está a razão para o boom no setor de mesas proprietárias. Elas permitem às pessoas operarem sem arriscar o próprio capital. Antigamente, a pessoa interessada em especular com compra e venda de ações ou com outros ativos como o dólar, por exemplo, precisavam abrir uma conta numa corretora e arriscar o próprio dinheiro. Até hoje, muitos iniciam sem o devido conhecimento e perdem dinheiro no mercado, o que traz a má fama para a profissão trader.
Com o surgimento das mesas proprietárias isso está mudando porque o profissional não arrisca o próprio capital e sim o da mesa, que estipula o limite máximo de perda que cada operador pode ter. Ao atingir o limite, o sistema trava e não é mais possível continuar. O melhor é que a mesa assume o prejuízo. Isso não significa que o modelo seja uma farra. O trader que atinge o limite de perda é automaticamente desligado e precisa passar por um novo teste para voltar a ter acesso ao sistema.
As mesas proprietárias não aceitam qualquer pessoa. Os interessados em operar precisam adquirir conhecimento por meio de cursos gratuitos e pagos, muitos disponibilizados pelas próprias mesas, e fazer testes práticos. Ao passar no teste, o início é imediato. Desta forma, contribui-se para a formação e especialização de profissionais da área. Ao trader não é exigido curso superior nem formação técnica. Só é preciso entender como o mercado financeiro funciona.
Por isso, quem deseja atuar nesta área tem de estudar o tema e fazer o teste de admissão. Ao passar vem a segunda parte, que é aprender na prática, operando ações, minicontratos, ganhando e perdendo, mas sem ter prejuízo. Fica claro aqui que a mesa proprietária é uma escola sem igual, pois ensina ao mesmo tempo que remunera. Ou seja, as mesas geram renda e colocam profissionais qualificados no mercado financeiro. Isso tudo explica o porquê do crescimento deste modelo de operação. E claro, o mercado agradece, pois é a forma mais consistente de apresentar mais e mais brasileiros à Bolsa de Valores.