Mercados Temerosos

Publicado 11.02.2020, 10:12
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Nesse momento, ninguém em sã consciência pode projetar com alguma margem de segurança os efeitos que o vírus modificado coronavírus pode causar na economia global. Por conta disso, os mercados de risco sofrem os impactos principalmente no câmbio e nas ações de empresas ligadas ao segmento de commodities.

Por tudo que temos lido de opiniões sobre o novo vírus, uma coisa parece destacar: todos os cientistas dizem que é bem menos letal que outros anteriores, mas a contaminação pode ser maior, por conta da longa incubação de cerca de 15 dias. Além disso, sua transmissão não se dá somente por animais, mas por humanos, o que potencializa a infecção.

A partir daí, surgem algumas teses de cientistas que indicam que os, hoje (09/2), 903 mortos, são em sua maioria pessoas idosos e, portanto, com saúde mais precária e também pela inclemência do clima com temperaturas de até -10 graus. A alegação é que em todos os anos milhares de pessoas morrem nessas condições. Também indicam que já houve altas médicas e que as mortes de infectados tem sido baixa, o que indica a fraca taxa de letalidade.

Pois bem, se do ponto de vista científico e médico a situação não parece ser das piores (apesar de as redes sociais dizerem que as estatísticas do vírus são bem maiores), do ponto de vista econômico da China e global, o quadro pode ser mais complicado. A primeira linha de argumentação indica que o Ano Novo Lunar foi irremediavelmente perdido e isso vai influir nos indicadores de conjuntura do primeiro trimestre.

Só lembrando que é um período em que os chineses viajam muito e consomem bens e serviços de forma pouco usual no restante do ano. Portanto, na comparação anual os indicadores vão mostrar isso. Outra situação é que por conta de evitar o contágio, o governo chinês prolongou o feriado de uma semana em alguns casos por mais uma, mantendo fechadas empresas e lojas. Portanto, vai comprometer vendas no varejo e produção industrial.

Isso acaba trazendo transtornos também para a economia global que passa a contar com menor disponibilidade de produtos intermediários e alguma escassez de insumos pode se verificar. Aliás, algumas empresas brasileiras ligadas ao setor de elétrico e eletrônicos já relataram dificuldades de obter insumos dadas as paralisações ocorridas na China. Secretários de governo dos EUA também aventaram a possibilidade de alguma escassez. Daí a leitura negativa dos investidores sobre commodities e outros componentes.

A conclusão é que pode haver certa queda (pequena) do PIB global e queda mais expressiva do PIB da China, notadamente no primeiro trimestre. A partir daí, algumas instituições formadoras de opinião passaram a anunciar possíveis quedas de até 0,5% no PIB global e efeito semelhante para o PIB da China.

A pergunta que fazemos é: e se for só mais um vírus modificado como tantos outros como Sars, influenza, N1H1? E se os cientistas descobrirem logo os remédios e vacinas para domar a infecção? E se a curva de contágio começar a declinar nas próximas semanas? São perguntas óbvias, mas ainda sem respostas. Será então somente mais um vírus da gripe e nem tão letal?

Olhando com viés mais otimista, haveria espaço para recuperação da economia global. A maior economia do mundo (EUA) não mostra sinais de arrefecimento como se projetava. Ao contrário, o noticiário é de crescimento ao redor de 2,5% em 2020 (e membros do governo chegam a falar em 3%). A China, por sua vez tem se esmerado em flexibilizar a política monetária (PBOC dando dinheiro aos agentes), reduziu juros, vai manter empregos e investimentos novamente em ascensão.

Assim, haveria tempo hábil para recuperações ainda em 2020, com baixa influência no PIB global e alguma recuperação na China, levando novamente para perto de crescimento de 6%. Se for assim, os mercados teriam espaço para recuperar perdas recentes e dar continuidade ao processo de valorização. Os países emergentes, tipo Brasil, também voltariam para situação normal.

Isso é apenas uma tese, mas faz total sentido. Não acham?

Alvaro Bandeira

Sócio e Economista-chefe do banco digital modalmais

Publicação Original

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