Estamos em outra semana de investidores trabalhando sob tensão. O principal motivo reside na decisão americana da semana passada de sobretaxar produtos importados da China em 25%, ao invés da alíquota anterior de 10%. Essa decisão foi autorizada por Trump para vigorar desde o último dia 10 de maio. Mesmo considerando que houve reunião de representantes chineses (com o vice primeiro ministro Liu He) e americanos (Mnuchin e Lighthizer). Além da decisão para que os chineses encaminhem projeto em três ou quatro semanas.
Donald Trump segue pressionando, e nesse final de semana declarou que seria bom que os chineses não impusessem nenhuma represália, sob pena de piorarem ainda mais a situação. Ao contrário, pelo noticiário internacional, os chineses querem manter reuniões com os dois principais negociadores americanos citados. Mas anunciaram ainda que vão estabelecer novas alíquotas sobre produtos americanos logo em 01 de junho.
Com isso, o raciocínio lógico é que se nada mudar estaremos diante de uma guerra comercial entre os dois países e protecionismo exacerbado no comércio transnacional. Tudo o que não era desejável. Corre ainda o espectro de os EUA estabelecerem represálias contra o setor automotivo da União Europeia. Trump vem mostrando sinais de que pode ocorrer, ao dizer que a União Europeia não mostra grande interesse em negociar.
Não podemos esquecer que Trump já iniciou sua campanha de reeleição e, deve exacerbar seu discurso. Não é por outra razão que indicou que os chineses estariam alongando as discussões esperando negociar com os sonolentos Democratas, na hipótese de saírem vencedores nas próximas eleições. Temos ainda o acirramento das tensões com o Irã e com a Venezuela, onde Juan Guaidó diz aceitar uma mediação chinesa com o governo de Maduro.
Diante disso, os mercados de rico em todo o mundo começaram novo processo de ajuste, com a aversão ao risco dominando ajustes de posições dos investidores. Os mercados acionários ajustam forte hoje, e o câmbio mostra desequilíbrio.
No Brasil, a situação é ainda mais complexa. Num primeiro momento, o Brasil pode até ser beneficiado pela crise entre os EUA e a China, principalmente no que tange às exportações de alimentos (soja e carnes seriam mais demandas e preços subiriam). Daí decorrerem as preocupações dos agricultores americanos (notadamente os produtores de soja), com Trump dizendo ter plano alternativo de comprar e enviar para pobres de outros países. Porém, num segundo momento, todo o mundo perderia com o protecionismo reinante, os preços de bens e serviços tenderiam a subir e a inflação estaria em alta por conta das sobretaxas.
Como inflação em elevação no mundo, dificilmente os bancos centrais voltariam a reduzir juros, como de certa forma já estava começando a ser previsto por analistas. Eventualmente teriam que voltar a subir juros, e teríamos que considerar outra variável importante: o nível de endividamento de países e empresas segue extremamente elevado em quase todo o mundo. E países emergentes como o Brasil sofreriam bastante, com destaques para aqueles desequilibrados em suas finanças (Brasil também incluso, apesar do baixo endividamento externo).
Ainda teríamos todas as dúvidas internas representada pela dificuldade de aprovação de boa reforma da Previdência e, logo em seguida, outras reformas igualmente importantes (para a economia até mais), como a tributária, administrativa, política, complementação da trabalhista, etc.
Portanto, o período é de “colocar as barbas de molho” por parte dos investidores de mais longo curso para retorno, e propício para aqueles que gostam de especular. Uma coisa é certa, os mercados estão menos alavancados e qualquer mudança para melhor no ambiente externo e/ou interno pode proporcionar grande recuperação.