Os mercados globais têm observado a guerra de Israel com um olhar frio - e como convém. Até então, a preocupação era com o impacto do conflito na região na oferta de petróleo, mas a retirada das sanções dos Estados Unidos à Venezuela afastou esse risco, provocando uma queda firme nos preços do barril ontem (19).
Talvez, por isso, a Petrobras (BVMF:PETR4) tenha decidido reduzir os preços da gasolina. No entanto, a decisão foi bastante criticada. Afinal, cresce a defasagem do combustível em relação aos níveis internacionais, ao passo que o aumento do litro do diesel cobrado nas refinarias apenas reduz parte desse descolamento.
Fica, então, a sensação de que, no caso específico da estatal petrolífera, a escalada da tensão geopolítica no Oriente Médio influencia nos negócios com a commodity no exterior, puxando a cotação para cima. Aliás, as referências americana (WTI) e global (Brent) voltam a subir nesta manhã, testando a marca de US$ 90.
Risco fiscal
O anúncio da Petrobras foi feito minutos antes da fala do presidente dos EUA, Joe Biden, à nação (e ao mundo). Em um discurso televisionado - tal qual a guerra - ele expôs os argumentos para que os contribuintes americanos continuem a apoiar Israel e a Ucrânia. De quebra, Taiwan também entrou na lista de “democracias vizinhas” a serem protegidas.
Segundo o chefe da Casa Branca, o sucesso de tais parceiros é vital para a segurança nacional dos EUA, apesar de os conflitos parecerem distantes. Já o presidente russo, Vladimir Putin, foi comparado ao Hamas. O pronunciamento foi feito para defender um pacote de ajuda urgente da ordem de US$ 100 bilhões, a ser enviado ao Congresso.
Porém, a proposta deve enfrentar dificuldades, em meio à disputa entre republicanos e democratas, que mantém a Câmara dos EUA sem presidência há semanas. Além disso, a nova impressão de dólares amplia os riscos fiscais, elevando ainda mais a dívida americana - alô, agências de rating! - e colocando em xeque os esforços políticos de evitar um shutdown no mês que vem.
Powell põe pingos nos Is
Daí porque Jerome Powell foi o “adulto na sala”. Durante evento na tarde de quinta-feira (19) - portanto, antes da Petrobras e de Biden roubarem a cena - o presidente do Federal Reserve listou uma série de incertezas, “tanto antigas quanto novas”, que complicam a condução da taxa de juros nos EUA.
Afinal, ainda que não haja um calote da dívida dos EUA, um eventual novo pacote fiscal tende a enfraquecer o dólar, com o aumento da moeda em circulação reduzindo o poder de compra. Traduzindo o economês, a ajuda financeira, se aprovada, significa mais inflação.
Uma vez que Powell reafirmou o compromisso do Fed em trazer o índice de preços de volta à meta de 2% ao longo do tempo, não se pode descartar novos aumentos na taxa dos EUA. Se não em novembro, talvez em dezembro. Sem sinalizar o fim do ciclo de aperto, tampouco se sabe quanto mais os juros vão subir. Afinal, é assim que se controla a inflação.
Assim, os investidores olham para o que realmente importa, aos olhos dos mercados, e seguem frustrados com a retomada do apetite por risco. O sinal negativo prevalece nas bolsas internacionais nesta manhã, o que tende a ser o guia dos ativos brasileiros novamente nesta sexta-feira (20).