O ministro do petróleo da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, abalou os mercados petrolíferos na segunda-feira, com seus comentários à Bloomberg News. Suas declarações escritas, um tanto enigmáticas, podem ser encontradas integralmente no site da agência oficial de notícias do país.
O príncipe Abdulaziz perece gostar de deixar os analistas e operadores em dúvida quanto ao que suas declarações realmente significam, mas há alguns elementos aos quais vale a pena analisar melhor.
Ao tentar decifrar o que suas palavras significam para a produção e os mercados petrolíferos, é importante ter em mente que Abdulaziz não costuma ser agradável com os operadores. De fato, ele os chama de “especuladores". Em setembro de 2020, o ministro alertou para que não fizessem “jogatinhas” no mercado e prometeu que quem “apostasse” nos preços do petróleo enfrentaria volatilidade e se daria “muito mal”.
Os pontos que mais chamaram a atenção, em suas declarações (escritas) na segunda-feira, tanto dos meios de comunicação quanto dos operadores, foram os seguintes:
“A Opep+ tem o compromisso, a flexibilidade e os meios para lidar com tais desafios e fazer direcionamentos, inclusive cortando a produção a qualquer momento, de diferentes maneiras”.
Isso fez com que os observadores do mercado passassem a acreditar que a Opep+ estaria cogitando realizar cortes de produção. Com isso, os preços do petróleo subiram 4% no pregão de terça-feira.
No entanto, é importante compreender o contexto em que tais comentários foram feitos. O príncipe Abdulaziz estava discutindo alguns dos problemas que ele enxerga nas atuais condições de mercado, as quais descreveu como "esquizofrênicas". Especificamente, ele se referia ao que acredita ser a extrema volatilidade demonstrada pelos preços ultimamente, além de uma liquidez “bastante reduzida” e uma desconexão cada vez maior entre os mercados físicos e de papéis.
Ele acredita que essa distorção e a alta volatilidade estão "emitindo sinais equivocados, no momento em que são necessários, mais do que nunca, maior visibilidade, clareza e um mercado em bom funcionamento". Isso está tornando extremamente difícil para que os operadores protejam sua produção e gerenciem o risco com eficiência.
Basicamente, o ministro saudita acredita que problemas, como “histórias sem embasamento sobre destruição de demanda, notícias recorrentes de retorno de grandes volumes de oferta, além de ambiguidade e incerteza em relação a possíveis impactos de tetos de preço, embargos e sanções”, estejam deixando o mercado mais volátil e fazendo com que os contratos futuros se distanciem da realidade do mercado físico. Seu ponto foi que a Opep+ pode responder a questões concretas no mercado físico, ajustando a produção, seja para cima, seja para baixo.
Ironicamente, ao mencionar a possibilidade de corte por parte do cartel, o príncipe Abdulaziz (talvez intencionalmente), provocou exatamente a volatilidade baseada em ciclos de notícias que ele alega ser problemática para os produtores tentarem gerenciar o risco. Na terça-feira, diversas fontes da Opep disseram que o grupo estava discutindo cortes de produção e que quaisquer ações nesse sentido dependeriam do retorno do petróleo iraniano ao mercado legal.
No entanto, os agentes parecem estar aferrados à ideia de que a Opep+ está, de fato, tomando iniciativas para reduzir a oferta. Isso foi reforçado por uma declaração do ministro do petróleo do Kuwait, que ecoou os comentários do príncipe Abdulaziz em relação aos mercados petrolíferos na quarta-feira. Ele afirmou que a Opep+ dispõe de diversos mecanismos para responder à volatilidade, “inclusive corte de produção, a qualquer momento e de diferentes formas, como foi claramente demonstrado em 2020 e 2021”.
Contudo, os investidores não devem considerar que a Opep+ esteja avaliando uma redução de oferta neste momento. Na verdade, a aliança está começando a traçar um novo acordo para 2023 e os anos seguintes, de modo que os investidores devem ter em mente que a falta de capacidade ociosa percebida no mercado é um grande vetor da volatilidade.
Se a Opep+ reduzir a oferta, haveria mais capacidade ociosa no mercado, e os membros do cartel teriam espaço para elevar a produção, a fim de responder a eventos, como guerras, desastres naturais, sanções ou outras interrupções na produção. Isso pode ajudar a estabilizar os preços do petróleo, porém colocaria o mercado em um patamar de preços superior, em prejuízo dos consumidores.
A Opep+ não pode sanar a desconexão entre os mercados físicos e de papéis por conta própria. O grupo, entretanto, pode ajudar a enfrentar essa questão, com seus membros alinhando as cotas de produção à quantidade concreta de petróleo que conseguem produzir. (Em outras palavras, a Opep+ pode reduzir as cotas de produção de forma a alinhá-las ao que os países, de fato, conseguem produzir, haja vista que muitos deles estão extraindo muito abaixo das suas cotas permitidas). Isso daria a impressão de que a Opep+ esteja reduzindo a oferta, quando, na verdade, simplesmente está alinhando suas cotas à capacidade física dos seus membros. Os investidores devem encarar movimentos como esses, à medida que a Opep+ começa a avaliar um acordo para o ano que vem.