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Mercados de Risco: Cavalo Não Desce Escada

Publicado 23.08.2021, 18:51
USD/BRL
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“Olho vivo, que cavalo não desce escada”. Essa frase marcou a vida do colunista social Ibrahim Sued, que morreu em 1995, mas se aplica ao comportamento dos mercados de risco na atualidade.
Depois de uma semana anterior muito tensa no plano internacional e, principalmente, local, os mercados de risco iniciaram o novo período com viés de alta praticamente no mundo todo, muito em função de indicadores PMI da atividade de indústria e serviços para agosto mostrando desacelerações, mas, ainda assim, dentro do previsto. Com exceção do Japão, que divulgou o índice composto abaixo dos 50 pontos, que sugere contração da atividade, todos os demais mostraram desaceleração, mas ficaram acima de 50 pontos, indicando expansão.

Os mercados tiveram ajustes técnicos logo na abertura desta segunda-feira (23/08), diante das quedas recentes, o que ainda exige muitos cuidados. No que tange ao mercado internacional, o fantasma da covid-19 e a variante Delta ainda rondam a recuperação das economias, assim como a possibilidade de antecipação do tapering, com redução progressiva de compras de ativos, num cenário que começa a mostrar desaceleração de alguns indicadores de atividade.

No plano doméstico, temos a sensação de “tempestade perfeita”. Inflação e juros em alta, desemprego elevado, dólar forte, crise hídrica exigindo cuidados, crise institucional que só faz crescer, novos riscos fiscais e tentativa de fura-teto, atropelo em votações e divergências entre Câmara e Senado, principalmente no que versa sobre reforma do Imposto de Renda (Câmara), com muitas críticas e reforma tributária mais ampla, como deseja o Senado.

No meio de tudo isso, o governo acelerando disputas com o poder judiciário, pedindo o impeachment do ministro do STF, Alexandre de Moraes, e a promessa de pedir também para Luís Roberto Barroso, membro do STF e presidente do TSE. Tudo isso gerando novas críticas de parlamentares e ex-ministros da Justiça, e ainda trazendo desconforto para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e para o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Muito ruído para uma situação que não deve ter seguimento, mas que já adiou a indicação de André Mendonça para o STF, na vaga de Marco Aurélio Mello.

A leitura de tudo isso indica que é a forma de Bolsonaro manter os apoiadores mobilizados pelo menos até 7 de Setembro, quando promete discursar em oposição e criar maior clima com apoio da polícia militar e outros segmentos fiéis ao presidente. Como se não bastasse tudo isso, o TCU também decidiu que a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) fez promoção pessoal de Bolsonaro nas redes sociais e, segundo o Estadão, pelo menos 32 apresentadores e influenciadores receberam cachês para campanha do governo. Bolsonaro também disse estar arrependido de ter sancionado a autonomia do Banco Central, enquanto Ciro Nogueira disse, no Twitter, que a autonomia é um avanço histórico e irreversível.

Desconforto também entre os membros da equipe econômica. O ministro Paulo Guedes foi muito criticado ao voltar a afirmar que, sem a PEC dos precatórios, vão faltar recursos até para pagar salários, e o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, disse haver espaço para tal.

Tudo isso expõe a situação de um governo que precisa achar seu rumo e promover a integração entre os poderes. Não adianta muito manter beligerância e, de outro lado, fazer mais concessões aos parlamentares, seja ofertando mais ministérios ou recuando dos vetos anunciados na última sexta-feira (20/08) e resolvendo sancionar emendas do relator geral na LDO de 2022, quando os parlamentares poderão fazer indicações no orçamento. Também não será isso que irá reverter a avaliação crescente de ruim ou péssimo de seu governo. É preciso integração entre os três poderes para conseguir governar e aprovar medidas que são essenciais para mudar o futuro conturbado do Brasil e acessar investimentos de diferentes fontes.

Enquanto tudo isso acontece, nossa avaliação é que, diante das quedas recentes, ficou mais atrativa a compra progressiva de ações de setores maduros, de empresas com boa governança e política definida de remuneração aos acionistas, com horizonte de mais longo prazo para retorno, semelhante ao que Warren Buffett sempre faz com seus investimentos. Mas é preciso muito cuidado e olho vivo, pois a volatilidade deve permanecer intensa.

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