O Comitê de Política Monetária (Copom) deixou a porta entreaberta para novos cortes na taxa básica de juros, após a queda de 0,25 ponto ontem para 2%, mas condicionou estímulos monetários adicionais à evolução do quadro fiscal e da inflação no Brasil. Ainda assim, se houver espaço, o próximo ajuste deve ser pequeno - portanto, na mesma dose.
Enquanto o mercado financeiro debate se a Selic continuará caindo em setembro, ao menos o Banco Central deixou claro que o juro básico seguirá baixo por um período prolongado. Ao fazer isso, o BC ganha tempo até a próxima decisão, quando o rombo das contas públicas estará maior e a reforma tributária deve ter avançado pouco.
Se confirmada essa premissa, a tendência é de aumento do prêmio de risco do país, o que pode acabar respingando nas expectativas para a inflação. Fica, então, a sensação de que o Copom quer manter a sintonia com os bancos centrais globais por mais algum tempo, até que a liquidez jorrada no sistema financeiro encontre amparo na economia real.
Porém, a ampla recuperação dos ativos de risco, notadamente das bolsas de valores, pode estar começando a perder fôlego, após quatro meses seguidos de rali. Isso porque as respostas fiscais e monetárias adotadas mundo afora no combate à pandemia não foram suficientes para impedir a disseminação do coronavírus até agora.
Ao contrário, os investidores seguem preocupados quanto ao impacto do ressurgimento de casos de covid-19 nos Estados Unidos nos últimos meses e também com os riscos de uma segunda onda de contágio na Europa. Tudo isso em um momento em que os dados econômicos recentes já começam a perder tração, após a recuperação rápida e acentuada.
A questão, portanto, continua sendo a eficácia do que foi feito por governos e bancos centrais das economias liberais para resolver uma crise de saúde pública. Por mais que não pareça haver um limite às medidas de estímulo - seja via a impressão de dinheiro novo ou através do acesso ao crédito - isso não impede o vírus de circular por aí.
À espera de um pacote
Ainda assim, Wall Street segue animada pela expectativa de um novo pacote fiscal, restabelecendo o auxílio semanal de US$ 600 aos desempregados, que expirou na semana passada. Os investidores seguem atentos às negociações entre republicanos e democratas, enquanto aguardam novos números sobre as solicitações de seguro-desemprego (9h30).
A expectativa é de ligeira melhora nas reivindicações semanais, uma vez que o coronavírus continua prejudicando o ritmo de recuperação do emprego nos EUA. A frustração com os dados da ADP ontem evidenciou isso, ao mostrar a criação de 167 mil vagas no setor privado do país, ante previsão de abertura de 1,2 milhão de postos de trabalho.
O quadro de deterioração da retomada econômica nos EUA, especialmente no mercado de trabalho, elevou a urgência no Congresso pela aprovação de um novo pacote fiscal para socorrer as pessoas afetadas pelo desemprego. As discussões em Washington continuam, mas persiste um impasse em questões importantes entre os legisladores.
Ou seja, ainda não está claro se o Congresso irá fornecer mais apoio fiscal, mas os investidores continuam embutindo nos preços dos ativos que mais um socorro na ordem de US$ 1 trilhão é dado como certo. É essa expectativa que deixou os índices S&P 500 e Nasdaq 100 perto das máximas históricas ontem.
Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram novamente em alta, apesar de uma sessão mista na Ásia, onde Tóquio (-0,4%) e Hong Kong (-0,7%) caíram, enquanto Xangai teve leve alta (+0,3%). Os negócios na região ficaram divididos entre o otimismo com mais um pacote nos EUA e o aumento de casos de covid-19.
Na Europa, as bolsas operam majoritariamente no vermelho, após o tom de cautela do BC inglês (BoE). Ao anunciar a manutenção da taxa de juros em 0,1%, a autoridade monetária britânica fez previsões sombrias para a economia do Reino Unido, dizendo que o Produto Interno Bruto (PIB) não voltará ao nível que estava em 2019 antes do fim do ano que vem.
Por isso, o BoE irá manter os estímulos monetários, que incluem ainda um programa de recompra de bônus na ordem de quase US$ 1 trilhão. Em reação, a Bolsa de Londres liderava as perdas na região, caindo mais de 1%, ao passo que o DAX alemão ensaiava alta, ao redor de 0,2%.
Nas moedas, a libra esterlina ganhava terreno em relação ao dólar, ao passo que o euro recuava, com a moeda norte-americana medida forças também em relação às divisas correlacionadas às commodities. Entre as matérias-primas, o petróleo cai e o ouro sobe, com ambos mantendo os níveis recentes, entre US$ 40 por barril e US$ 2 mil a onça-troy.
Agenda local em destaque
A agenda econômica doméstica está em destaque nesta quinta-feira e começa cedo, às 8h, quando será conhecido o resultado de julho do IGP-DI. A previsão é de forte aceleração do indicador, com alta de 2,2% no mês, o que levaria a taxa acumulada em 12 meses de volta aos dois dígitos, para 10,2%.
Depois, o IBGE informa os dados sobre o mercado de trabalho (Pnad) ao final do primeiro semestre deste ano, cuja divulgação original estava prevista para a semana passada. A previsão é de aumento da taxa de desocupação para além de 13% em junho, nos maiores níveis em dois anos.
A abertura dos dados deve mostrar que a população desempregada segue em nível recorde (mais de 75 milhões), enquanto a população ocupada tende a permanecer em queda, aproximando-se dos 80 milhões. O total de trabalhadores com carteira de trabalho assinada no setor privado também deve ficar no piso histórico, ao redor de 30 milhões de pessoas.
Os números oficiais serão conhecidos às 9h. Também pela manhã e ainda por aqui, sai o balanço trimestral do Banco do Brasil (SA:BBAS3), que deve estar sob nova direção em breve. Já nos EUA, o calendário econômico traz apenas os pedidos semanais de auxílio-desemprego (9h30). No fim do dia, é esperado o resultado da balança comercial chinesa em julho.