O otimismo que marcou o início da semana no mercado financeiro é substituído pela cautela, nesta véspera de decisão dos bancos centrais dos Estados Unidos (Fed) e do Brasil (Copom). Por mais que não se espere nenhuma mudança, com manutenção das respectivas taxas de juros, a expectativa em relação à comunicação a ser adotada pelas autoridades monetárias inibe o ímpeto dos negócios hoje.
Afinal, os investidores querem saber se continuarão recebendo apoio da liquidez sem precedentes jorrada pelos principais BCs do mundo para seguir tomando risco ou se parte desses recursos será drenada em breve. No caso brasileiro, há quem alimente a esperança de que a fresta deixada aberta no encontro anterior, em agosto, indicando novos cortes na Selic, será mantida.
Seja como for, nem o Fed nem o Copom devem apontar para uma reversão da atual orientação, o que sugere que os estímulos monetários serão mantidos em um nível extraordinário por um bom tempo, sem prever o início de novas altas nos juros básicos tão logo. Enquanto aguardam essa confirmação, os ativos de risco exibem um ligeiro viés positivo para o dia.
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com ganhos moderados, após começarem a semana com alta de mais de 1%, com as atenções voltadas para o primeiro dos dois dias de reunião do Fed. Tanto o comunicado da decisão quanto a coletiva de imprensa de Jerome Powell devem reafirmar a postura cautelosa sobre a recuperação econômica nos EUA em meio à pandemia.
Entre estímulos e atividade
Ainda assim, a fala suave (“dovish”) de Powell e as projeções macroeconômicas trazidas no gráfico de pontos (dot plot) devem trazer novidades sobre a disposição da autoridade monetária em deixar a inflação seguir acima da faixa de 2% ao menos até que haja uma queda da taxa de desemprego abaixo de um nível natural. Essa combinação mantém o dólar mais fraco, mas o petróleo segue em queda, diante da demanda mais fraca.
Já as principais bolsas europeias iniciaram o pregão sem um rumo único, após uma sessão sem brilho na Ásia, onde Tóquio caiu (-0,4%), mas Xangai (+0,5%) e Hong Kong (+0,4%) subiram. As praças chinesas reagem aos dados de atividade na China, que mostraram o primeiro crescimento das vendas no varejo desde o início da pandemia no país, em janeiro. A alta foi de 0,5% em agosto, em base anual, mais que a previsão de +0,1%.
A produção industrial chinesa também cresceu acima do esperado, em 5,6% no mês passado ante estimativa de alta de 5,2%, ganhando tração em relação a julho (+4,8%). Os investimentos em ativos fixos acumulam queda de 0,3% no ano até o mês passado, reduzindo o recuo acumulado no período até julho, de -1,6%. Em reação, o yuan chinês (renminbi) subiu ao maior nível em mais de um ano, abaixo de 6,80 por dólar.
Ou seja, enquanto a generosidade do Fed e dos demais bancos centrais continuam sustentando os mercados no Ocidente - apesar dos riscos em torno da disseminação do coronavírus, das incertezas sobre a disputa pela Casa Branca e da possibilidade de uma saída do Reino Unido (Brexit) sem acordo com a União Europeia (UE); as ativos chineses se apoiam nos firmes sinais de uma recuperação em “V” da economia real.
E isso tende a manter a volatilidade nos negócios, com o movimento capitaneado pelo desempenho em Wall Street. Afinal, os indicadores econômicos vêm mostrando que uma continuidade do processo de retomada em direção a um crescimento convincente está condicionado mais ao controle da disseminação e contágio da covid-19 do que à manutenção de estímulos monetários e fiscais.
Atividade nos EUA em destaque
Logo mais, às 10h15, saem os dados sobre a produção industrial nos EUA em agosto. Antes, às 9h30, serão conhecidos o índice regional sobre a indústria em Nova York em setembro e os preços de importação e de exportação em agosto. Logo cedo, na zona do euro, sai o índice ZEW de sentimento econômico neste mês. No Brasil, o calendário econômico do dia está esvaziado.