Passado o segundo susto da semana, o mercado financeiro doméstico deve respirar aliviado novamente hoje. Depois do respiro com o “fico” do ministro Paulo Guedes (Economia), os investidores desta vez devem ficar mais leves com a decisão da Câmara de reverter a votação do Senado e manter o veto presidencial sobre o reajuste salarial a servidores públicos até o fim de 2021.
O placar foi de 316 votos pela manutenção do veto contra 165 pela derrubada. De qualquer forma, os episódios recentes mostram que o cenário político mudou e tanto o Congresso quanto o governo podem criar ruídos, capazes de incomodar os ativos locais, trazendo mais volatilidade aos negócios. O mercado ainda aposta no caminho das reformas econômicas e do ajuste fiscal, mas o barulho vindo de Brasília testa o nervo dos investidores.
O vaivém da Bolsa brasileira nos últimos dias, ficando praticamente no zero a zero na semana e tentando se sustentar acima dos 100 mil pontos, e o salto do dólar para a faixa de R$ 5,60, acionando atuação do Banco Central no mercado de câmbio - o que não acontecia desde maio - refletem esse nervosismo. A inclinação da curva de juros futuros, embutindo prêmio de risco nos vértices mais longos, evidencia ainda mais esse sentimento.
Fica a sensação, portanto, de que haverá obstáculos no caminho do governo para avançar com a agenda liberal-reformista. O risco é de que haja novos conflitos entre Executivo e Legislativo, prejudicando a tramitação de propostas e enfraquecendo discussões relevantes, como a da reforma tributária. É preciso, então, ter uma boa articulação política para evitar derrotas importantes à frente e provocar movimentos mais agudos nos ativos locais.
Exterior também volátil
Até porque o ambiente internacional também tem se mostrado mais volátil, diante da proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos. O candidato democrata Joe Biden deu ontem a largada para a campanha com duras críticas ao governo do presidente Donald Trump, rival republicano na disputa pela Casa Branca. Trata-se de um fator adicional de volatilidade, uma vez que persistem as incertezas sobre a pandemia.
O ressurgimento de casos de coronavírus em vários países europeus eleva as dúvidas sobre a recuperação econômica na região e ecoa o alerta vindo do Federal Reserve nesta semana, em relação aos “riscos consideráveis” à retomada da atividade nos Estados Unidos e global por causa da disseminação da covid-19. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram na linha d’água, com um ligeiro viés negativo.
As principais bolsas europeias também abriram com leves oscilações, mas tentam se firmar no campo positivo, após uma sessão de ganhos na Ásia e apesar da queda do índice harmonizado dos gerentes de compras (IHS) sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro para o nível mais baixo em dois meses, a 51,6 em agosto, de 54,9 em julho. O euro também está mais fraco.
Apesar de ter permanecido acima da linha divisória de 50, que indica expansão da atividade, o indicador contrariou a previsão de alta a 55,3 e o resultado mostra a perda de tração da atividade, após a recuperação rápida e acelerada. A leitura, portanto, é de que a reabertura econômica não inibiu uma postura cautelosa das empresas, ao mesmo tempo em que proliferou as infecções de coronavírus na região da moeda única.
Após o relaxamento das restrições ao isolamento social, países europeus voltaram a registrar altas taxas de contágio, com França, Espanha, Itália e Alemanha tendo os índices mais altos de infectados em meses. Os casos diários já se aproximam dos níveis no auge da pandemia. E, ainda que não aconteça um novo lockdown, a perspectiva de melhora contínua na economia se enfraquece, reduzindo o ritmo da retomada.
Agenda traz dados de atividade
A semana chega ao fim trazendo como destaque a leitura preliminar de agosto sobre a atividade nos setores industrial e de serviços também nos EUA (10h45), além de novos indicadores do setor imobiliário norte-americano e a confiança do consumidor europeu, ambos às 11h.