O Ibovespa não alcançou o fundo do poço. Ainda. A esperança é de que o fim da queda da bolsa brasileira esteja próximo. A depender do sinal negativo vindo de Nova York e do tombo do minério de ferro, não será hoje. Ontem, o índice acionário ficou de lado ontem, mas seguiu em território negativo. No ano, as perdas são de 10%.
Já o dólar renovou o maior nível em um ano e meio, indo além de R$ 5,35. Enquanto isso, os títulos públicos cravaram taxas históricas. O papel atrelado à inflação com vencimento em cinco anos, o IPCA 2029, ofereceu 6,32% de retorno real pela primeira vez, sendo o mais atrativo na modalidade. Nos prefixados, o Tesouro Selic 2031 pagou o recorde de 12,19%.
A prova dos noves - ou do pudim - será tirada hoje, dia de divulgação do IPCA. Afinal, qualquer sobremesa pode ser bonita ou feia, mas só se sabe provando se está saborosa. A ver então se o resultado oficial (9h) do índice de preços ao consumidor brasileiro em maio condiz com a previsão trazida no Boletim Focus de taxas de inflação e de juros maiores nos próximos anos. Aliás, semana após semana o mercado financeiro está cada vez mais pessimista.
IPCA: presente e futuro
Por isso, o IPCA de maio é tão aguardado. A previsão é de aceleração na leitura mensal, passando de +0,38% para +0,42%, com a taxa acumulada em 12 meses indo a 3,9%, de 3,7% no período anterior. Os alimentos devem ter ficado mais “salgados”, refletindo o impacto da tragédia do Sul nos preços, enquanto a inflação de serviços segue elevada.
Seja como for, o que desagrada o mercado doméstico não é a inflação corrente, mas as expectativas inflacionárias. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a afirmar ontem que o processo de desinflação no Brasil em direção à meta segue em curso. Porém, há um desalinhamento das previsões quando se olha para frente.
Ou seja, ou os números da inflação começam a mostrar uma estagnação no processo de queda - e até mesmo um repique - ou será preciso haver uma “reancoragem” das expectativas. Do jeito que está, a conta não fecha. Como já dito, o IPCA e o IPCA+ estão fora da ordem.
IPCA abre caminho para Fed
Mas a agenda desta terça-feira (11) serve apenas de aquecimento para o destaque da semana, amanhã. A depender da previsão do Federal Reserve para o total de cortes na taxa de juros dos Estados Unidos ainda em 2024, os investidores devem ajustar suas expectativas - inclusive para a inflação e a Selic no Brasil.
Vale lembrar que no começo do ano, quando os mais otimistas previam até sete cortes por parte do Fed (com o primeiro em março), o mercado aqui defendia um dígito para o juro básico e falava em dólar abaixo de R$ 5. Assim, não é a aversão ao risco Brasil que piorou, é a inação do Fed até agora que provoca ajustes contínuos, afetando mais os emergentes.
Apesar do que se ventila por aí, o pânico fiscal é exagerado. Em algum momento, essas expectativas mais pessimistas vão bater de frente com a realidade de juros mais baixos nos EUA - e não serão poucos os que irão dizer que era melhor o BC ter cortado mais a Selic. Aliás, serão os mesmos que hoje dizem não haver mais espaço para novos cortes.