O mercado financeiro mal teve tempo de se recuperar da semana passada, que começou com a reação ao atentado contra Donald Trump e terminou com um apagão cibernético global - exceto na China. Os investidores iniciam a segunda-feira (22) reagindo à reviravolta na corrida presidencial pela Casa Branca adotando a postura de “esperar para ver”.
A cerca de cem dias do pleito, o presidente Joe Biden anunciou no domingo que estava desistindo da disputa pela reeleição. Mais que isso, ele declarou apoio à candidatura da sua vice-presidente. Kamala Harris também recebeu o apoio de outros nomes proeminentes do Partido Democrata para que, juntos, consigam derrotar o candidato republicano.
Mas não será uma tarefa fácil. Na mesa de apostas, Trump segue como favorito, com 60% de chance de vitória em novembro. Ainda assim, a probabilidade dele derrotar Kamala é menor que os 65% que tinha contra Biden. “Parece ainda claro que Trump tem chances maiores de ganhar que qualquer outro Democrata”, resumiu o economista André Perfeito.
Além disso, Kamala precisará quebrar algumas barreiras na “América”. Se eleita, ela pode se tornar, de uma só vez, a primeira mulher (negra) presidente dos Estados Unidos - algo que Michelle Obama não quis tentar e Hillary Clinton falhou ao final da década passada de ser chamada “presidenta”. Mas será que elas não têm preferência na fila?
Incerteza política no mercado
A Convenção Nacional do Partido Democrata acontece daqui a um mês. Para Perfeito, a jogada de mestre para reverter o favoritismo de Trump seria não deixar nenhum candidato óbvio. “Isso forçaria a campanha Republicana a atirar para todo o lado sem ter um alvo definido”, afirma.
“Se de um lado é difícil para os democratas bater em alguém que quase foi assassinado, também não é simples para os republicanos bater numa mulher (negra) sem ao menos saber se ela será de fato a candidata” - André Perfeito, economista
Paul Ashworth, economista-chefe da América do Norte da Capital Economics, acha que um novo candidato Democrata deve ser escolhido antes mesmo da convenção, entre os dias 19 e 22 de agosto. Até mesmo por uma questão técnica: “é preciso garantir que o nome esteja na cédula em todos os estados”.
Qualquer semelhança com o cenário eleitoral no Brasil desde 1989 não é mera coincidência. Já o segundo debate presidencial está marcado para 10 de setembro, mas a campanha de Trump pode recusar a participação, evitando um confronto direto com o(a) novo(a) candidato(a) rival.
Muito além da política
É diante do aumento dessa incerteza que os mercados globais iniciam a semana. A abertura do mercado nesta manhã não reflete uma forte convicção dos investidores em nenhuma direção específica. Os índices futuros das bolsas de Nova York sobem, enquanto o dólar cai, com o “Trump Trade” fazendo uma pausa.
Ainda assim, a cena política não é a única coisa que influencia o comportamento dos ativos de risco, diante da expectativa de corte da taxa de juros pelo Federal Reserve. A agenda econômica desta semana é marcada por dados sobre o crescimento econômico (PIB) e o índice de inflação nos EUA preferido do Fed, o PCE, além dos balanços das Big Techs.
A temporada de resultados também tem início no Brasil. O destaque fica com Santander (BVMF:SANB11), na quarta-feira (24), e Vale (BVMF:VALE3), no dia seguinte. Também na quinta-feira (25), sai a prévia de julho do índice oficial de preços ao consumidor (IPCA-15), que vai testar os nervos dos investidores que seguem vendo o IPCA+ como a “alternativa soberana” de investimento.