O mundo ultrapassou a marca de 20 milhões de casos oficiais de covid-19, que não parece estar diminuindo, mas ao mercado financeiro só interessa as medidas de estímulo e garantias de liquidez para combater a crise provocada pelo coronavírus. E os sinais de um novo pacote trilionário nos Estados Unidos parecem mais promissores, com republicanos e democratas prontos para voltar à mesa de negociações, o que resgata o rali nos negócios.
Os índices futuro das bolsas de Nova York amanheceram em alta firme, reagindo também à sugestão do presidente Donald Trump de cortar impostos sobre ganhos de capital e reduzir os tributos também para os assalariados de renda média, o que seriam mais medidas visando a eleição de novembro. A notícia embala a abertura do pregão europeu, onde as bolsas sobem até 2%. Na Ásia, o pregão foi misto, com ganhos acelerados em Tóquio (+1,9%) e em Hong Kong (+2,1%), mas queda em Xangai (-1,2%).
Nos demais mercados, o dólar perde terreno para as moedas de países desenvolvidos e correlacionadas às commodities, ao passo que o petróleo avança, subindo mais um degrau na faixa de US$ 40 por barril. O ouro, por sua vez, é cotado abaixo da marca de US$ 2 mil por onça-troy, enquanto o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está estável, abaixo de 0,6%.
Ou seja, ainda que os danos econômicos causados pela crise sanitária sem precedentes não possam ser mensurados com exatidão, a solução dada pelos principais bancos centrais e governos segue satisfazendo os investidores. E o apetite por risco está longe de encontrar limite, à medida que novas injeções de liquidez são despejadas, anestesiando os mercados da queda de dois dígitos da economia e do salto assustador do desemprego, bem como da escalada da tensão entre EUA e China.
Com o mundo demandando estímulos cada vez maiores e a colocação de ‘dinheiro barato’ em circulação, não se deve esperar correções nos ativos de risco, que se beneficiam dessa disposição de governos e BCs. Nessa espiral, o Ibovespa deve pegar carona e, quiçá, ultrapassar a faixa dos 105 mil pontos, que vinha dando sinais de forte resistência, em tempos de juro real negativo no Brasil, que tem deixado o dólar mais vulnerável.
Ata do Copom em destaque
O Comitê de Política Monetária (Copom) explica hoje (8h) porque manteve um tom suave (“dovish”) no comunicado que acompanhou a decisão de cortar a Selic para 2% na semana passada, apesar dos riscos à inflação no médio prazo. Os investidores esperam encontrar justificativas para tal postura, que pode resultar em um corte “pequeno” em setembro.
Mas ainda que a fresta deixada pelo Copom para um ajuste adicional no juro básico no mês que vem seja pequena, ao menos sinalizou que a Selic deve ficar onde está por um bom tempo. A ver, então, se a ata do encontro deste mês aponta as condicionantes que podem levar o Banco Central a agir - para baixo ou para cima.
Assim como o mercado financeiro, o BC está dividido entre as condições fiscais e a recuperação econômica, em um momento em que a atividade se recupera apenas de forma parcial e as medidas emergenciais do governo ameaçam estourar o teto dos gastos. Por isso, merecem atenção as declarações do presidente Roberto Campos Neto (11h30).
Ainda na agenda doméstica, sai nova estimativa para a safra agrícola (9h). O desempenho do agronegócio vem reduzindo o pessimismo do mercado financeiro em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, com a previsão de queda da economia brasileira melhorando há seis semanas. No mesmo horário, saem dados regionais da indústria.
Já no exterior, as atenções se dividem entre o índice ZEW de sentimento econômico na zona do euro neste mês, que será conhecido logo cedo, e o índice de preços ao produtor nos EUA (PPI) em julho, às 9h30.