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Mercado financeiro: Sessão da tarde e “Curtindo a vida adoidado”

Publicado 22.06.2023, 09:05
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Ano passado, eu superei a barreira dos 40 anos. Nasci em 1982, sou da geração da minha juventude que passou pelo fim dos anos 80 e início dos anos 90. Período onde não existia celular, redes sociais e poucas casas tinham internet discada, muito menos Netflix (NASDAQ:NFLX). As nossas diversões eram muito mais simples e não existia a possibilidade de assistir filmes sob demanda ou on demand como tanto se popularizou nos últimos anos. Para um jovem no início dos anos 90, um programa na TV que fazia muito sucesso, era a sessão da tarde da TV Globo - passa até hoje, mas não com o mesmo brilho. A impressão que eu tinha naquele tempo era que se passavam sempre os mesmos filmes. Os rótulos eram bem conhecidos, como: Ghost do outro lado da vida, Embalos de sábado à noite, Indiana Jones, Os Goonies e o filme que mais fazia sucesso com a garotada, Curtindo a vida adoidado.

Esse clássico dos anos 80 ficou famoso pela trama de três adolescentes que fogem de casa, da escola e passam por grandes aventuras. O ator principal, Matthew Broderick, ficou eternizado pelo papel do Ferris Bueller, fazendo muito sucesso nos cinemas no ano de 1986. Voltando a minha jornada dos anos 90, a minha impressão era que esse filme passava, pelo menos, umas 6 vezes por ano na sessão da tarde. Outros colegas comentavam na escola, “hoje, vai passar Curtindo a vida adoidado” e a meninada se preparava para ver essa comédia pela enésima vez. O engraçado é que todo mundo sabia o fim do filme, mais que isso, sabíamos as falas, os momentos de surpresas e todo o desenrolar da película. 

Fazendo um paralelo com o mercado, parece que estamos vendo um filme repetido, que gostamos muito e está passando na TV novamente. Ao longo dos últimos anos, o mercado acionário foi muito “amassado”, os preços dos ativos domésticos estavam (estão ainda muito baratos) na lona, tudo que víamos e escutávamos era a respeito de uma destruição completa do país. As remessas de dólares para fora bateram recorde após eleição, os pessimistas diziam que o Brasil seria a próxima Argentina, haveria confiscos e assim, não separavam as vendas de ativos de risco como ações, fundos de ações e fundos multimercados. Vimos vários fundos importantes da indústria perderem bilhões para as Lcis, Lcas e as Ligs, produtos simples e que remuneram um pouco abaixo do CDI mas com isenção de IRPF. 

O script estava pronto: Taxa Selic nas máximas, mudança de governo no radar, dólar acima de R$ 5,00 e muito pessimismo no ar. Geralmente, são nesses momentos que surgem as grandes oportunidades. Foi assim: 2002, primeira eleição do Lula; 2008, na crise do subprime; 2015, pré-impeachment da Dilma; 2020, na crise do COVID19 e por fim em 2021/2021, com uma guerra na Europa e uma eleição polarizada por aqui. 

É justamente nesse ambiente que a bolsa faz fundo e as oportunidades “gritam” na nossa cara. Para termos uma ideia, o índice Bovespa chegou a ser negociado a 7 x lucros, ou seja, em 7 anos você retorna o investimento, isso te daria uma taxa de retorno de 14,28% ao ano, fazendo conta simples. Só que o índice Bovespa é uma média, que dentro desse universo de empresas, tinham algumas companhias negociando a 3 x lucros (33,33% de retorno ao ano) ou 4 x lucros (25,00% de retorno ao ano). A título de comparação, a bolsa americana negocia a 20 x lucros ou uma taxa de retorno anual de apenas 5%.

Nesses momentos de pânico que realmente descobrimos quem tem apetite a risco, emocional no lugar e disciplina para se manter no jogo. Obviamente são poucos aqueles com essas características, mas os que conseguem alinhar conhecimento técnico, para saber o que se deveria comprar, com o foco de longo prazo, são os grandes vencedores. Ao abrir os jornais são sempre os mesmos que, nesses momentos, fizeram a “limpa” no mercado. Luiz Barsi mais uma vez andou dizendo por aí que comprou como nunca, devido aos preços atraentes. Enquanto os amadores se afastavam do mercado e entregavam as ações, as cotas de seus fundos/ações a preço descontados, os profissionais tomaram tudo que puderam.

A expectativa de queda da Selic começa a aparecer no radar, o congresso travou o novo governo no âmbito fiscal, o Brasil sobrou dentre os emergentes como opção democrática válida e o agronegócio bateu recorde de produção. A narrativa muda conforme o tempo e os ativos de risco se ajustam a isso tudo. Quem focou no preço, no ativo e no longo prazo aproveitou e já colhe os frutos. Desde o fundo de março o índice Bovespa já se apreciou em 24% e já ameaça superar a marca de 120 mil pontos. Alguns ativos domésticos já batem a casa de 100% de valorização.

O investidor que sempre compra no topo e vende no fundo, voltará para a ciranda de destruição de valor. Quando o mercado subir bem e ele não aguentar a dor de seu vizinho ganhar dinheiro na sua cara, ele volta a comprar no pior momento. Geralmente em cima de Selic se compra bolsa e não LCIs, LCAs e Ligs, como a grande maioria andou fazendo por aí.

Nos últimos 2 anos, algumas poucas vozes avisaram que esse bom filme iria se repetir e aparentemente saberemos o final disso tudo. Não podemos afirmar mas, provavelmente, o fim será feliz como aconteceu em Curtindo a vida adoidado.

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