O mercado financeiro em seus inúmeros segmentos parece sustentar sua convicção de que o resultado da eleição presidencial está dado e, desta forma, segue mantendo otimismo.
Há certo distanciamento do curso dos negócios em relação a efervescência das tensões políticas pré-eleição presidencial que se definirá ao final desta semana, que tem grande propagação nas várias formas de mídia com acentuado viés ideológico e sectarismo, que contudo é ignorado pelos “players” do mercado financeiro.
Naturalmente o mercado financeiro observa, mas não promove ruídos em torno da enormidade de factoides que surgem no cotidiano, ignorando-os ou minimizando-os, de forma que os negócios sigam em normalidade, com otimismo mais ainda de forma sensata.
A B3 tende a ficar no intervalo de 85 a 90 mil pontos, repercutindo resultados de balanços de importantes empresas nacionais, e com a convicção de que haverá perspectivas melhores para o país com o novo governo, mas como pouco ou nada se conhece da linha programática e dos futuros integrantes do governo do candidato que acreditam será o vencedor, ainda não encetou movimento de forte convicção.
Afinal, o desempenho da atividade econômica é fundamental para a valorização consistente e fundamentada das ações, e este é o grande desafio para o novo governo.
Hoje, com o cenário externo sinalizando ambiente negativo será um desafio para a B3 manter o seu otimismo.
No mercado de câmbio o país tem um cenário bastante tranquilo, sem nenhum risco de crise cambial, com sólida posição nas contas externas e com o BC dotado de estratégias operacionais que dão suporte à liquidez.
Contudo, o preço da moeda americana naturalmente ainda agrega prêmio de risco decorrente da inércia da sua atividade econômica atual e em especial da sua relevante e degradada situação fiscal.
O conjunto de fatores internos que estão inclusos no prêmio agregado ao preço do câmbio, envolvendo inclusive a previsibilidade de pelo menos mais uma alta do juro americano, colocou a taxa cambial num ponto de equilíbrio em torno de R$ 3,75/3,80, como a mais adequada no momento.
Contudo, há remanescente de intenso movimento especulativo encerrado após um curto período de meados de agosto ao final de setembro/início de outubro, posicionamentos substantivos um pouco acima de US$ 35,0 Bi equivalentes entre comprados, estrangeiros em sua grande maioria, e vendidos, potencialmente bancos e fundos, que ensejam um embate forte.
Comprados estão um tanto afoitos com a perspectiva de perdas com o retorno do preço do câmbio à sua normalidade, contrariando expectativas fomentadas de que o dólar atingisse preço de R$ 5,00 ou mais, e quando se precipitam causam apreciação do real, até porque do outro lado estão os vendidos ávidos para também zerarem suas posições com lucros e assim forçam a apreciação do real.
Este embate vinha mantendo o preço da moeda americana no intervalo de R$ 3,70 a R$ 3,80, sendo que quando muito deprimida ficando em R$ 3,70 ou ligeiramente abaixo, os comprados entravam comprando mais para sustentar o preço e melhorar o preço médio dos seus estoques.
O nosso entendimento tem sido de que abaixo de R$ 3,70 o preço do dólar no momento não tem sustentabilidade, pois os fatores desafiadores do próximo governo são intensos e entre eles desponta a crise fiscal, que se não tiver uma perspectiva de solução/adequação consistente pode determinar que o preço retornasse à R$ 3,80.
Evidentemente que o preço da moeda americana num patamar mais baixo é extremamente benéfico para a contenção e reversão das pressões inflacionárias ocorridas e assim permitirá tranquilidade para que a SELIC seja mantida até o final do ano e o BC tenha reduzido os custos sobre o volume de contratos de swaps cambiais que colocou no mercado.
Contudo, um repique de alta no preço do dólar seria inevitável se o novo governo não alinhasse logo os problemas em torno da crise fiscal, e isto seria negativo.
O preço mais justo e equilibrado está seguramente entre R$ 3,70 a R$ 3,80, não sendo descartável que possa recuar, mas necessariamente dentro de um novo ambiente em que as dúvidas e incertezas atuais estejam com equacionamentos definidos.
Entendemos ainda que o BC deva reduzir a oferta de contratos de swaps cambiais para rolagem, tendo em vista que o estoque de “comprados não hedge” certamente não será rolado, mas, tudo leva a crer que só agirá desta forma após as eleições, pois se o fizer agora poderá induzir o preço da moeda americana a alta, sem fundamentos, mas especulativamente pelos comprados para o desmonte a preço mais atraente.
Esta atitude do BC deverá ser realizada “cirurgicamente” para evitar pressões incabíveis sobre o preço da moeda americana.
No nosso entender taxas abaixo de R$ 3,70 de forma sustentável poderão ser alcançadas de forma sustentável ao final do 1º trimestre do ano que vem, já no novo governo se as decisões programáticas de gestão forem positivas.