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Mercado financeiro: Os "tios e tias do Zap" ainda respiram

Publicado 18.03.2023, 10:05
SLED4
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META
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Telefone é pra falar

Eu me lembro nitidamente do quanto, lá na época da minha adolescência, minha mãe era avessa a tecnologia. 

O negócio dela era ler livro. Físico mesmo, de papel, daqueles que vendiam na Saraiva (BVMF:SLED4), na Siciliano, na Cultura (e pensar que, em poucos anos, citar esses nomes será tão estranho quanto lembrar quando PanVel era Panitz e Velgos). 

Olhava para computadores, celulares, tablets... e não se conformava. Jamais se imaginaria usuária daquilo. 

Como raios alguém vivia com o celular no silencioso? Telefone é pra falar, oras! 

O general me mandou uma mensagem garantindo

Corta para o final de 2022.

Lá estava ela, dia e noite, vidrada no celular. Grupos e mais grupos de WhatsApp. Comunidades e mais comunidades de Facebook (NASDAQ:META) - o Zuckerberg deve estar até agora sem entender que raios fazem tantos septuagenários brazucas na rede defunta. 

E ela jurava de pé junto que era parte de um grande exército virtual que salvaria o país. A cada áudio, um novo sopro de esperança. "É hora de ir pra frente dos quartéis!"

Muita gente foi. Ela, eu consegui impedir. O resultado, já sabemos.

Seduzido pela própria narrativa

Mas o fato concreto é que existe algo nas redes sociais que alimenta no ser humano um lado muito nefasto, que é o da propagação da mentira. O que leva alguém a se passar por general e disseminar que o Alexandre está preso e o Villas Boas está no comando? 

Eu sinceramente não consigo entender. Talvez o tesão seja sentir-se ouvido, notado... e, para pessoas suficientemente perturbadas, isso vale absolutamente qualquer coisa. 

Os bancos brazucas e os tios do zap

Hoje a babá do Otto veio me perguntar se era verdade que o Nubank (BVMF:NUBR33) ia quebrar. Lembrei-me da anedota do engraxate que fez o banqueiro vender tudo às vésperas da crise de 29, mas ao contrário. 

Na esteira das intervenções em bancos regionais nos EUA - das quais a mais ruidosa é a do SVB -, há quem esteja se divertindo disseminando, sem qualquer base factual razoável, que certos bancos brasileiros estão indo para o vinagre. 

Sirvo-me desse espaço - do qual muito raramente tenho me servido... - para afirmar que não há nada que suporte essa narrativa. É coisa de "tio do zap". Quando a boataria fura a bolha e alcança o mainstream das pessoas comuns, sabemos que a coisa foi longe demais. 

Vim, vi, venci

O noticiário do final de semana foi pesado e a sessão de segunda-feira foi bicuda. 

Sendo absolutamente sincero, eu já vi coisas assim um punhado de vezes. E ter tido tal privilégio me possibilitou atingir algum nível de dessensibilização. Mas eu sei - ah, se sei! - que muitos de vocês hão de estar preocupados. Ainda que os últimos anos não tenham sido exatamente de mar calmo - e, portanto, em alguma medida todos os marujos sobrevivem a alguns sacolejos -, o ar pode ter ficado pesado demais. 

Não tenho vergonha de assumir que, lá em 2008, eu realmente achei que o mundo ia acabar; que eu ia perder tudo; que minha carreira estaria terminada mal tendo começado. Comecei a fumar, não dormia, etc. Uma tragédia só. 

O que aquilo me ensinou, entretanto, foi simplesmente inestimável: o mundo não somente não se acabou como aquele momento representava uma rara oportunidade de comprar muita coisa boa muito barato. 

Segure firme

Redijo essas linhas com a esperança de que elas sirvam para lhe transmitir uma mensagem muito singela: 

Está tudo bem estar apreensivo(a), principalmente se momentos de grande turbulência lhe são novidade. Mas ouça o que tenho a dizer, por favor. Das duas uma: ou, se caixa tiver, aproveite o momento para comprar tudo que existir de mais óbvio na sua frente - óbvio mesmo, sem inventar moda... ...ou não faça nada. 

Resista à tentação de soltar suas posições agora.

Eventualmente as coisas podem piorar? Sem dúvidas. Mas tudo o que temos de evidência de todas as vezes em que vimos coisas parecidas foi que, ao tempo certo, elas voltam a melhorar. E os preços dessa época deixam saudade. 

A tarefa mais difícil de todas

Em mais de uma ocasião já afirmei, e reafirmo: nos momentos de maior agitação, o maior desafio de todos é se permitir não fazer absolutamente nada. Apenas esperar. 

E isto assim é porque é simplesmente contraintuitivo. O que nos permitiu prosperar como espécie foi justamente nosso aguçado instinto de fuga frente ao perigo. 

Mas tal instinto não se aplica à presente situação. Eis uma das vicissitudes de se investir: fazer o que todos estão fazendo raramente é uma boa ideia. 

Resista. Do lado de cá, estou resistindo também. 

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