Em uma das melhores entrevistas que já ouvi, o entrevistado narrou a seguinte história:
Certo dia, o dono de uma propriedade percebeu que em seu armário havia um terno há muito não usado. Ao perceber que a peça já não lhe era mais útil decidiu doá-la ao seu caseiro. Em resposta à nobre oferta, aquele homem recebeu uma resposta inusitada: “o terno eu não quero não, mas o cabide, aceito sim senhor.”
Os melhores resultados não costumam vir das nossas melhores intenções, mas das melhores leituras de cenário.
Ontem participei de uma das reuniões mais emblemáticas da minha carreira. Do outro lado da mesa ninguém menos do que Rogerio Xavier, sócio-fundador da SPX.
Entre vários assuntos, falamos sobre o cenário de mercados emergentes sob a ótica do investidor de países desenvolvidos. A discrepância de leitura de cenário e dos problemas a serem endereçados salta aos olhos.
A importância da estabilidade das instituições, do direito de propriedade (física e intelectual), vem muito antes de outras pautas que nós emergentes buscamos desenvolver para atrair o investimento estrangeiro de longo prazo.
Na prática a inversão de prioridades explica, em grande medida, porque países emergentes nunca emergem. São, na verdade, países submersos.
Perdem-se inclusive as referências matemáticas, variáveis nominais são muito pouco úteis. Faz-se necessário embutir cálculos de inflação em toda e qualquer hipótese comparativa.
O famoso carry trade, operação que se propõe a ganhar com o diferencial de juros entre os países, pode até funcionar para nós brasileiros com a diferença de 12 pontos percentuais mas não funciona para os nossos vizinhos da bacia da prata que oferecem um diferencial cinco vezes maior.
Perceber as nuances e saber se posicionar frente a elas é um tremendo desafio. É nesse ambiente que os gestores de multimercado se propõem a extrair prêmio de risco diariamente.
Em momentos especialmente desafiadores como o que estamos passando, é importante reconhecer que antes de se preocupar em adquirir ternos é preciso identificar se há cabides no armário.
Um abraço