Incertezas, dúvidas e ausência de perspectivas seguras provocam mutações de comportamento no preço dos ativos do mercado financeiro, face à impossibilidade de vislumbrarem-se tendências sustentáveis.
Nas economias líderes do mundo, a China sinaliza desaceleração nas atividades da indústria e comércio, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos registram queda nas vendas no varejo de 1,1% em julho, deixando evidente que a sustentabilidade da recuperação da atividade econômica ainda é volátil e isto altera perspectivas mais otimistas e sugere cautela nas projeções, que passam pelas avaliações sobre mudanças americanas na política monetária, que poderiam fortalecer o dólar e o crescimento global, já que a China também tem peso relevante no desempenho da economia mundial.
A pandemia do coronavírus “delta” renova as preocupações e ainda não permite, embora seja perceptível o efeito negativo, os impactos de retrocesso na retomada da atividade econômica global, sendo que a questão do Afeganistão ganha relevância por trazer de volta o fortalecimento do Talibã e os Estados Unidos estarem confirmando a retirada das tropas.
Esta nova faceta da economia global força que se examine com maior acuidade a sustentabilidade da atividade, as perspectivas de recuperação do emprego e renda.
No Brasil, o clima tenso político com propagação de posturas antagônicas, incertezas no campo fiscal que envolve o equacionamento da questão fiscal, que no dia a dia vê aumentar novos impactos negativos que se somam a questão já presente dos precatórios ainda sem definição concreta, como o aumento dos repasses do governo federal ao Fundo de Participações dos Municipais, retardamento da reforma tributária, inflação com espiral aquecida de alta de forma quase generalizada, a partir dos preços administrados que repercutem acentuadamente a crise hídrica, que já sugere racionamento a partir de setembro, com natural impacto na retomada da atividade econômica.
Na margem não se pode descartar o rebote possível da crise da pandemia com o novo vírus, já presente no país, mas ainda não causando os impactos danosos que a visão global sugere inevitável.
Ao se observar o comportamento do IGP-10 com inflação de 16,88% no ano e 32,84% nos últimos 12 meses, se tem uma visão mais assertiva da inflação que assola o país e que se “esconde” ainda num IPCA já agressivo em suas projeções, mas que ainda “mascara” a realidade que “derrete” a renda dos assalariados e a capacidade de consumo.
Ademais, é notória a propensão ao “gasto populista”, aquele sem fontes sustentáveis de recursos, que são riscos constantes de rompimento do teto orçamentário e que, com a proximidade eleitoral, apresentam um viés de intensificação inevitável.
O BC/COPOM já sinalizou que será mais incisivo nos ajustes da taxa SELIC, mas se não agir de forma contundente, como o risco de ficar atrás a curva inflacionária, mantendo a postura do “cachorro que corre atrás do rabo”, cultivando um círculo vicioso, não colherá os resultados efetivos objetivados.
Maior juro representa maiores encargos com o carregamento da Dívida Pública, o que agrega mais ônus ao governo federal piorando a questão fiscal.
Em condições normais, sem as perturbações de natureza política presentes, a sinalização de ajuste do juro seria um antídoto forte contra a elevação do preço do dólar no país, ancorando forte sua reversão, mas a insegurança sobre a insuficiência do ajuste, que tem se feito tardio, retira da perspectiva este efeito antecipado no mercado cambial, que desta forma intensifica sua volatilidade e se mostra resistente na manutenção do preço.
É possível que o preço do dólar retroaja no nosso mercado ao parâmetro de R$ 5,00 ou seu entorno, inegavelmente é, mas há inúmeros vetores se opondo a esta possibilidade, que, no momento, sugerem grande dificuldade de serem suplantados.