A atratividade perdida pelo Brasil parece ressurgir por osmose, a partir da excessiva liquidez global provocada pelos programas governamentais dos países desenvolvidos envolvendo substantivos montantes de recursos, e que, agora, com sinais primários de retomada de suas atividades econômicas provocam o relaxamento defensivo ante os riscos e “buscam” o mundo onde possam encontrar perspectivas de ganhos de oportunidade.
É importante entender que o movimento abrupto que impacta positivamente nos indicadores dos ativos no mercado brasileiro é consequência deste cenário de distensão dos recursos represados no mercado global, e não rigorosamente por eventual melhora do cenário econômico brasileiro como causa, mas o estado letárgico da atividade econômica e o preço do dólar elevado indicam que a despeito do risco, o Brasil está barato e em perspectiva em algum momento deve retomar o dinamismo perdido.
O Brasil é então um negócio de oportunidade para os investidores estrangeiros com “prazo de validade” até que continue barato e o dólar não registre forte depreciação frente ao real, no mercado de renda variável.
Fugindo deste conceito, pode haver interrupção neste comportamento, salvo se o BC/COPOM com esta percepção houvesse por bem não reduzir a taxa SELIC para que, ainda que menos atraente do que outros emergentes, pudesse criar atratividade para o mercado de renda fixa e com isto reconquistar tradicionais investidores financiadores da Dívida Pública brasileira, que pode encontrar dificuldades se o juro for reduzido outra vez.
De toda forma o “ambiente” do mercado brasileiro, a despeito de todos os desafios postos ao país em perspectiva, fica otimista e ganha destaque com o país acentuando os fluxos cambiais positivos, fortemente afetados ao longo de 2019 e até maio deste ano.
Mas, é preciso estar atento porque o mercado de dólar no país envolve posicionamentos fortemente especulativos e substanciosos em seus valores e o movimento abrupto pode “vitimar” muitos “players” aliás, algo já ocorrido em anos antecedentes com enormes dados aos especuladores, inclusive corporações renomadas.
Este é um risco presente que requer atenção e acompanhamento.
O movimento que ganhou força na quarta feira passada, dia 3, foi relativamente atenuado na quinta-feira, dia 4, mas ganhou intensidade na sexta-feira, dia 6, alavancado pela surpreendente recuperação do mercado de trabalho americano no mês de maio, com toda a pandemia do coronavírus, criando 2,7 milhões de novas vagas formais e reduzindo o desemprego de 14,7% para 13,3%, quando a expectativa era de aumento.
O fato concreto é que o Brasil está barato considerando o preço das ações e discretamente atraente ainda com o juro de 3%, e este é o determinante do movimento, que relega a plano secundário a fragilidade da atividade econômica, crise fiscal, crise da pandemia do coronavírus, tensões políticas, etc... O excesso de liquidez no mercado global foca unicamente a perspectiva de rentabilidade e perde o rigor habitual em relação ao risco.
A mudança do cenário surpreende a todos e faz sucumbir, pelo menos por enquanto, as projeções para o câmbio que haviam emitido sinais preocupantes e coloca a B3 em forte alta.
Todavia, como já salientamos é preciso observar alguns marcos, como até onde vai o conceito de que as ações estão baratas combinadas com o preço do dólar.
O movimento também determinará movimentos nas expectativas de lucros do BC, ultimamente muito focados para migrar para o Tesouro Nacional, pois o dólar em queda impacta reduzindo drasticamente o ganho sobre as reservas cambiais, contudo, provavelmente, o preço atual já esteja abaixo da média do dólar nos swaps, o que favorece o BC que passaria a ter lucro, mas menor do que o lucro sobre as reservas cambiais.
Enfim, o que se presencia é positivo para os mercados acionário e de dólar e até ensejaria alguns IPO´s, mas ainda é prematuro atribuir-se efetiva sustentabilidade dada à vulnerabilidade do Brasil neste momento.