Com menos de duas semanas para o dia da eleição nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump e o ex-vice-presidente Joe Biden protagonizaram um debate civilizado, após um primeiro confronto estridente, mas que talvez não mude o rumo da disputa pela Casa Branca. Wall Street continua apostando em uma vitória do democrata e mantém o otimismo em relação a um novo pacote fiscal, ainda que depois do pleito.
Aqui, o mercado doméstico vive um trégua, mas as incertezas em torna das pautas econômicas em Brasília geram volatilidade. As tensões envolvendo os riscos fiscais e os ruídos políticos ainda deixam pouco espaço para melhora dos ativos locais no curto prazo, com as dificuldades de rolagem da dívida pública e o adiamento de votações importantes no Congresso pesando nos negócios. E, sim, a politização da vacina também chama atenção.
Lá fora, Trump e Biden se atacaram por causa do coronavírus, do mercado de ações e da economia norte-americana. Houve troca de farpas e acusações pessoais, mas o republicano baixou o tom, enquanto o democrata se mostrou mais desafiador. O desempenho do candidato à reeleição não parece ter sido suficiente para desestabilizar o adversário, o que também acabou equilibrando a sinalização para o dia em Nova York.
Os índices futuros apagaram as perdas exibidas mais cedo e amanheceram em alta, indicando um dia positivo, mas que deve ser insuficiente para impedir que o S&P registre o pior desempenho semanal do mês. Os investidores estão bem sintonizados com os acontecimentos em Washington e veem um aperto de mãos entre a Câmara, o Senado e o Tesouro dos EUA por estímulos fiscais de quase US$ 2 trilhões para breve.
Na Europa, as bolsas relegam o noticiário negativo na região e exibem ganhos de mais de 1%, liderados pelas ações de montadoras e bancos. O comportamento se dá a despeito da queda da atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro para o menor nível em quatro meses, voltando à contração. A prévia de outubro do índice dos gerentes de compras (PMI) composto caiu a 49,4, ante previsão de 49,5 e de 50,4 em setembro.
O retorno das restrições aos negócios e à circulação de pessoas por causa do aumento de casos de covid-19 em vários países europeus pesou no indicador, com o PMI de serviços recuando a 46,2, de 48, enquanto o PMI industrial subiu a 54,4, de 53,7. Aliás, a França estendeu o toque de recolher noturno imposto no país para outras 38 regiões, dizendo que “a segunda onda está aqui”. A medida deve durar seis semanas.
Já na Ásia, o desempenho dos mercados seguiu misto, com queda firme em Xangai (-1%), mas ganhos moderados em Hong Kong (+0,5%) e em Tóquio (+0,2%). Os investidores continuam narrando uma história de duas economias, com a demanda global reprimida prejudicando as exportações na China e no Japão, ao passo que o mercado consumidor chinês tem estimulado os serviços e os pedidos aos parceiros comerciais.
Nos demais mercados, o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está estável na faixa de 0,85%, no maior nível desde junho, o que reduz o ímpeto do dólar, que perde terreno de forma generalizada para as moedas rivais, mas não impulsiona o petróleo, cujo preço do barril segue incrustado em US$ 40. A ver como esse desempenho externo influencia o câmbio local e o Ibovespa, que ontem subiu pelo quarto pregão.
Enfim, agenda cheia
A semana chega ao fim com a agenda econômica, enfim, ganhando força. No Brasil, o destaque fica com a prévia deste mês do índice oficial de preços ao consumidor (IPCA-15), que deve acelerar para 0,8%, na maior taxa para outubro desde 2002. Com isso a alta acumulada em 12 meses tende a seguir dentro do intervalo de tolerância do Banco Central, com +3,4%, pelo segundo mês seguido.
Os números efetivos serão conhecidos às 9h e não devem ter forças para influenciar as apostas em relação à decisão de juros do BC na semana que vem. Porém, os sinais de acúmulo de pressão inflacionária esquentam o debate sobre os próximos passos na condução da Selic, que está dividido em meio às preocupações fiscais. Ainda por aqui, saem a confiança do consumidor (8h) e os dados do BC sobre o setor externo (9h30).
Já no exterior, serão conhecidos números preliminares de outubro sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos EUA, ao longo da manhã.