A ausência de fundamentos críveis acaba por criar tendências lógicas ainda que num cenário extremamente fragilizado e inseguro, o que lhes deixa vulneráveis e voláteis.
A Bovespa severamente deprimida em seu índice com a crise do coronavírus ensaia lampejos de recuperação num ambiente de economia deteriorada e sem perspectiva de quando e como será revitalizada.
Contudo, o fato é que “vis-a-vis” a situação patrimonial de algumas importantes empresas os preços se destacam como “baratos” e assim há motivação para compras focando investimentos de longo prazo, com a convicção de que “um dia as coisas voltarão ao normal”.
O dólar, que na semana passada insinuou um ajuste mais forte na linha de depreciação e adequação mais equânime do preço, repercutiu inquietações políticas internas desde sexta feira e foi influenciado também pelo comportamento da moeda americana ontem no mercado externo, a despeito do Brasil ter um quadro defensivo melhor posicionado na questão cambial, apresentou apreciação.
A expectativa inicial é de que retomasse a depreciação, afinal o CDS Brazil 5 anos caiu em uma semana 22,4% de 339,3 pontos para 263,1 pontos, num movimento que chegou a surpreender.
Hoje abre com depreciação do dólar, como esperado ontem, mas agora existem fatores internos que supostamente inibiriam um otimismo maior, afinal o governo foi derrotado na Câmara de forma expressiva por 431 votos a 70 que aprovou o texto básico do projeto de auxílio financeiro a Estados e Municípios ao longo da duração da pandemia do coronavírus. O impacto fiscal que irá agora ao Senado implica em R$ 89,6 Bi e o Ministro Guedes já salientou que pedirá ao Presidente Bolsonaro o veto.
Outros dados nefastos continuaram sendo divulgados como a piora crescente da confiança dos consumidores e empresários do Brasil, o que é negativo mas absolutamente esperado dado o momento com que o país convive. O ICE recuou 27,6 pontos na prévia de abril na margem para 53,7 pontos e o ICC Índice de Confiança do Consumidor caiu 22,1 pontos para 58,1 pontos, que poderão ser os menores índices da série histórica.
Há forte perda de confiança generalizada por todos os setores, e, sinais de desalento que podem impulsionar o pior dos cenários, as demissões a despeito de todo empenho que o governo vem realizando, que já transparece estar acima da sua capacidade, o que gera um embate fiscal entre o governo e o Congresso.
No exterior há sinais positivos com a economia chinesa, mas a realidade indica que na volta a normalidade o contexto da globalização será severamente alterado, e, o comércio exterior sofrerá mutações relevantes com a predominância maior de posturas nacionalistas e defensivas.
No nosso entender, as pressões sobre o governo agravando a crise fiscal tornam cada vez mais factível o desmonte de uma parte das reservas cambiais como fonte de recursos, o que não chegaria a prejudicar de forma incisiva a liquidez do país.
Seria uma operação reversiva, visto que foram criadas em grande parte pelos governos do PT não como efeito riqueza, num momento em que houve excepcional valorização das commodities e que promoveram intenso fluxo de recursos externos, mas com o aumento direto da Dívida Pública brasileira.
O BC vem realizando a sua ação profilática suprindo a liquidez do mercado à vista e do mercado futuro, mas claramente mudou a estratégia de fomentar a liquidez de linhas externas de forma simplista, agora dando preferência as operações de compra de títulos soberanos em moeda estrangeira em poder das instituições financeiras, que nos parece mais adequada e segura com lastro.
Acreditamos que o BC deveria intensificar a oferta de dólares no mercado a vista, mesmo que acima da demanda, fortalecendo a disponibilização de liquidez, “falando mais com atitudes do que com palavras” e contendo movimentos especulativos presentes, pois os níveis elevados do preço da moeda americana poderão contrariar as expectativas e impor impactos no IPCA não previstos, até porque o momento de crise já vem ensejando correções de preços no varejo ainda não bem captados pelo índice, mas notoriamente pelo IGP-M.