Maio já está chegando à metade e o mercado financeiro passou o último mês e meio contrariado com a indicação de que os cortes na taxa de juros dos Estados Unidos vão demorar mais tempo para começar. Dados de emprego e inflação no país adiaram as expectativas de início do ciclo para setembro - e olhe lá.
O ajuste nos preços dos ativos de risco segue em curso desde então. Por aqui, o abandono da meta de déficit zero agravou ainda mais o desempenho dos negócios locais. O Ibovespa cai 5% no ano e o dólar sobe quase a mesma variação.
Aí quando veio o Copom dividido entre um corte menor, de 0,25 ponto, e uma dose adicional no mesmo ritmo dos últimos seis, o mercado chiou. E não porque não veio a queda maior, de 0,50 ponto, mas sim porque quatro diretores - todos eles indicados pelo governo Lula - votaram para isso, contrariando a ala que já estava ali antes da posse do presidente eleito.
Vai entender… É mais ou menos quando alguém te diz que você não se adaptou ao novo projeto, com apenas dois meses de gestão.
Enquanto lá fora os investidores não veem a hora de o Federal Reserve começar a reduzir os juros, apesar da resiliência dos preços; aqui, cortar mais a taxa Selic significa maior leniência com a inflação. Mas aí como explicar a previsão de nível terminal do juro básico em um dígito?
A conta não fecha. Agenda do dissenso
O boletim Focus, amanhã (14), já deve trazer alguma atualização desse cenário - juntamente com expectativas mais elevadas para o IPCA. No mesmo dia, a ata da reunião do Copom pode repetir o tom duro do comunicado, desfazendo o ruído após uma aparente falha na comunicação do colegiado.
Ou será que foi o mercado que só deu ouvidos às palavras do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto? No Fed, nada menos que cinco dirigentes falaram ao final da semana passada; uns da ala mais suave, outros com as garras expostas.
Ou seja, o dissenso também ocorre no BC dos EUA. Mais que isso, há uma divergência entre os principais BCs globais, com os europeus se movendo em direção a cortes e o japonês tendo que apertar ainda mais. Já o México também parece pouco disposto a seguir baixando os juros, enquanto a Argentina quer deixar a liderança de maior juro do mundo.
O cenário, portanto, é de baixa visibilidade - tanto para os emergentes quanto para as economias desenvolvidas. Ninguém pode fechar os olhos para o outro, sob o risco de ficar para trás. Os dados de atividade e inflação na China, nos EUA e na zona do euro, ao longo desta semana, tendem a refletir essa tendência de descompasso.
Aliás, divulgado no fim de semana, o índice de preços ao consumidor chinês (CPI) subiu pelo terceiro mês consecutivo, com a aceleração de itens não-alimentícios, em meio à recuperação da demanda doméstica. Já os preços ao produtor chinês (PPI) caíram pelo 19° mês consecutivo, com os fabricantes tendo de cortar os preços para vender seus produtos “Made in China”.
A partir de quarta-feira (15), será possível entender como esses números chineses, somados ao desempenho do varejo e da indústria, refletem a economia mundial. Afinal, aquela economia que deixou de ser o “chão de fábrica do mundo” já não exporta mais deflação - algo que o CPI dos EUA e da zona do euro devem mostrar.
O problema é que quando os indicadores de atividade nos dois lados do Atlântico Norte apontarem para uma mesma direção, o consenso nos mercados será que os cortes nos juros estão chegando - mais aí pode ser tarde demais.
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