Como se já não bastasse o Federal Reserve sinalizando um único corte de 0,25 ponto na taxa de juros dos Estados Unidos neste ano, o maior receio do mercado doméstico com o governo confirmou-se ontem: o Lula 3 está virando Dilma 2. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) é alvo de ataques dentro do Planalto, o que coloca em xeque a política fiscal.
Foi esse “fogo amigo” que derrubou o Ibovespa abaixo dos 120 mil pontos, renovando novamente o menor nível do ano, ao passo que o dólar cravou nova máxima desde janeiro de 2023, indo além de R$ 5,40. Essa reação dos ativos locais no dia de decisão do Fed reflete a percepção dos investidores com a piora da cena política.
A dúvida é se é isso mesmo. Ao que parece, os ruídos vindos de Brasília só fizeram barulho porque os mercados globais estão decepcionados com o Fed, que está inerte há exatamente um ano. Afinal, até outro dia, esperavam-se juros perto de 4% nos EUA até o fim de 2024. Agora, essa previsão foi adiada para 2025 - e olhe lá.
Como ensinam os clássicos, o Fed está na essência do movimento dos mercados ao redor do mundo e o Lula, na aparência do comportamento local. Tanto que o peso mexicano foi outra moeda duramente castigada ontem, renovando a forte pressão vendedora que vinha desde a vitória nas urnas da primeira presidente mulher - seria uma Dilma também?
Mercado diz: já deu!
Esse entendimento faz lembrar o recente editorial de um jornal online, lido por “quem faz o PIB”. Logo nos primeiros parágrafos, o texto que circulou nas mesas de operações fala sobre o “clima melancólico entre o empresariado”, dizendo que “parece muito difícil que Brasília consiga fazer este ajuste apenas criando novos impostos ou aumentando os já existentes”.
Na sequência, a publicação explica que esse empresariado não se trata, necessariamente, do setor produtivo - mas sim daqueles que habitam em uma famosa avenida de São Paulo. A frase atribuída ao “sempre otimista” André Esteves, do BTG (BVMF:BPAC11), deixa claro: “o estresse das últimas semanas está sinalizando que chegou ao limite o aumento da carga tributária”.
Para um bom entendedor, um pingo é letra. Nas entrelinhas, a reação do mercado doméstico e a motivação política significam a forma do mercado financeiro de mostrar o descontentamento com as medidas tributárias daquele que é carinhosamente chamado de “Taxxad”. Para a Faria Lima, é preciso distribuir esse bolo.
Se não dá para fazer o bolo crescer, que diminua-se, então, o consumo. Em outras palavras, os gastos (e não investimentos) do governo. No entanto, um fato curioso nos números do PIB brasileiro do primeiro trimestre divulgados semana passada é de que não houve avanço na demanda do governo. A variação foi de 0% no confronto trimestral.
Bottom Line
Isso não significa que o Brasil não precisa de um freio de arrumação. Aliás, é isso o que diz o próprio editorial do Brazil Journal, que conclui, dizendo: “No Brasil, nenhum grupo abre mão de nada (...) Se cada grupo de interesse mantiver seu privilégio, o país continuará na mediocridade a que já nos acostumamos”. É isso!