A primeira semana do ano trouxe severos movimentos nos mercados financeiros locais na sequência da posse do novo governo e de falas de diversas autoridades. Os desenvolvimentos foram voláteis, com forte deterioração dos preços de ativos nos primeiros dias do mês e, posteriormente, uma atenuação bastante significativa na medida em que o governo controlou a mensagem. A guisa destes sinais, vale pontuar as primeiras indicações sobre economia e mercados colhidas até agora.
O governo tomou posse oficialmente no dia 1/1/2023, ainda que suas prioridades tivessem ficado claras durante a campanha e, especialmente, durante o período de transição. Argumentamos anteriormente que a principal característica da nova administração seria um avanço relevante nos gastos públicos e no papel do estado como indutor do crescimento. Por outro lado, a expectativa também indicava que a maioria das reformas implementadas desde o governo Temer seriam mantidas praticamente inalteradas, à exceção do teto de gastos (já alterado no governo anterior).
Enquanto a perspectiva de mais gastos foi solidificada com a tramitação da PEC de Transição, ainda faltam sinalizações concretas sobre como o governo irá utilizar os recursos adicionais durante este ano.
No entanto, diversos ministros vieram a público esta semana para comentar possíveis alterações nas reformas que não eram contempladas. Notadamente, o ministro Carlos Lupi indicou intenção de rever a Reforma da Previdência, o que trouxe notado mau humor aos ativos financeiros até a declaração ser revertida pela Casa Civil.
Outro desenvolvimento relevante em termos econômicos foi a assinatura da MP que prorroga a desoneração da PIS/Cofins sobre combustíveis por mais sessenta dias. Reinstituir os impostos logo no começo do governo é, evidentemente, politicamente custoso. No entanto, isto poderia ser colocado na conta do governo anterior, haja visto que a redução era prevista como temporária. Em contrapartida, haveria claro ganho de credibilidade da nova equipe da Fazenda com a reoneração, pois isso representaria um aumento de arrecadação da ordem de cerca de R$ 60bilhões.
A forma como a extensão da reoneração ocorreu também causa preocupação. Foi amplamente reportado na mídia que o viés político pesou mais do que o viés econômico e que isto foi fruto de desentendimentos entre a Fazenda e outras áreas do governo.
Todos os episódios desta semana reforçam a tese de um governo que ainda não apresenta previsibilidade clara no campo econômico. Como se sabe, o aumento da incerteza está inexoravelmente vinculado ao aumento da volatidade, e é justamente isso que observamos nos mercados estes últimos dias. Adicionalmente, a deterioração das perspectivas para a economia americana (que teve uma sequência de divulgações extremamente difusa) reforçam a posição de cautela com economias emergentes.
Adiante, espera-se que a reunião ministerial da manhã de sexta-feira (6/01) reduza o difuso ruído político e o novo governo comece a apresentar medidas claras para reduzir o déficit antevisto para o ano de 2023. Na próxima semana, dados de inflação no Brasil e nos EUA devem ser o grande driver de movimentos nos mercados.