Os alertas de recessão dispararam neste ano, mas a expansão econômica dos EUA seguiu firme, graças aos gastos dos consumidores e ao mercado de trabalho aquecido. No entanto, os dados fracos das vendas no varejo divulgados ontem, referentes ao mês de novembro, sugerem que o setor de consumo pode estar arrefecendo. Se esse for o caso, o mercado de trabalho será o último grande bastião capaz de evitar uma deterioração mais acentuada das condições econômicas.
Se isso não ocorrer, a questão seria saber se a escassez na oferta de mão de obra é capaz de evitar uma recessão, conforme definição da NBER. Está claro que a atividade econômica dos EUA está desacelerando e deve continuar nessa toada nos próximos meses, em parte porque os efeitos das altas de juros do Federal Reserve ainda não foram plenamente sentidos. A contração deve ser moderada, se uma recessão de fato estiver prestes a ocorrer, se é que já não começou. Isso pode mudar, evidentemente, mas, no momento, parecem baixas as chances de que a economia entre em forte declínio.
O problema é que, se o setor de consumo está se enfraquecendo, o cálculo pode mudar, inclusive drasticamente, dependendo do comportamento dos gastos. Ainda é cedo para interpretar os números de varejo de novembro. Mesmo assim, é preocupante que as compras em novembro, que geralmente é um excelente mês de vendas, por conta das festas de fim de ano, tenham registrado um grande recuo que chegou inclusive a surpreender os economistas.
Os gastos no varejo caíram 0,6% no mês passado, maior declínio mensal neste ano. Andrew Hunter, economista-chefe da Capital Economics, escreveu em nota:
“Com o crescimento global fraco e o dólar forte agravando o cenário doméstico das taxas de juros mais altas, suspeitamos que essa fraqueza seja um presságio do que ainda está por vir”.
Os dados mensais são repletos de ruído, portanto, analisando as oscilações do último ano, é possível ter um sinal mais confiável. Nesse sentido, os gastos no varejo ainda estão fortes, em vista do aumento de 6,5% em novembro, em relação ao nível registrado no mesmo período do ano passado. Mas, em um momento de inflação mais alta, o crescimento ano a ano não ajustado é enganoso. As vendas reais no varejo mostram um quadro mais sombrio: os gastos ajustados pela inflação caíram 0,6% em relação ao nível do ano anterior, primeiro dado negativo desde junho (círculos vermelhos no gráfico abaixo).
Se gastos dos consumidores – o principal pilar da atividade econômica dos EUA – estão prestes a enfrentar problemas, o mercado de trabalho aquecido é capaz de manter a expansão ainda viva? Não está claro, mas ajuda o fato de que há escassez de mão de obra. Os pedidos de seguro-desemprego, importante indicador, permanecem perto das mínimas de várias décadas, o que implica que as contratações continuarão aumentando em ritmo saudável.
Mas, ao se observar a tendência ano a ano não ajustada de pedidos de seguro-desemprego, é possível ver que a maré pode estar mudando. Os pedidos estão em tendência de queda em relação aos níveis do ano anterior desde a primavera de 2021, mas a tendência parece começar a subir. Se ocorrer e persistir, as projeções para o mercado de trabalho se deteriorarão consideravelmente.
O crescimento do mercado de trabalho está desacelerando, embora a criação de 263.000 empregos em novembro ainda represente um sólido avanço.
Não é possível determinar que o mercado laboral continuará sendo um baluarte para a expansão econômica neste momento, por isso os próximos dados sobre as folhas de pagamento serão decisivos. No clima atual, uma queda acentuada nas contratações seria um sinal de que a sorte está lançada para uma contração econômica.
Será que a próxima rodada de dados sobre empregos e consumo oferecerá uma razão convincente para acreditar no contrário?