A divulgação dos dados do Caged e da PNAD de maio durante a semana reforçam um mercado de trabalho ainda aquecido no país, mas com os primeiros sinais de desaceleração.
O combate à inflação promovido pelo Banco Central no país passa pela redução da demanda agregada através do aumento da taxa de juros. O aperto monetário impacta nas decisões dos agentes econômicos, como redução da intenção de consumo, menor nível de investimentos e, consequentemente, a queda da atividade econômica. No entanto, os setores da economia são impactados de maneiras diferentes, tanto em relação à magnitude quanto do tempo para que os juros elevados influenciem na atividade econômica. A produção industrial, as vendas no varejo e até o setor de serviços já demonstraram sinais de arrefecimento mais claros nas últimas divulgações, diferente do mercado de trabalho.
O mercado de trabalho geralmente é um dos últimos setores a sentir os efeitos da política monetária, seja de estímulo ou aperto da atividade econômica. Isso ocorre uma vez que as decisões de investimento, que geram empregos, tendem a reagir com defasagem ao avanço da taxa de juros. No caso do Brasil, o mercado de trabalho mostra-se ainda mais rígido, em função dos custos e burocracia envolvidos tanto na contratação quanto na demissão de pessoal. Tal fato pode ser observado na menor volatilidade da taxa de desemprego durante a pandemia quando comparado com o mercado de trabalho dos Estados Unidos, por exemplo.
Durante a semana, tivemos a divulgação dos dados do Caged e da PNAD de maio, que seguiram demonstrando um mercado de trabalho aquecido.
Primeiro, o Caged registrou criação líquida de 155,3k de vagas em maio, abaixo da nossa expectativa (194k) e da mediana do mercado (190,5k). O resultado frustrou as expectativas pelo segundo mês consecutivo. No entanto, se mantém em um patamar robusto de criação de vagas quando comparado ao histórico do país. Todos os setores pesquisados registraram saldo positivo de vagas novamente, com destaque para serviços (81,2k), construção civil (27,9k) e agropecuária (19,6k). Vale destacar também a criação líquida de vagas no comércio (15,4k), indústria da transformação (5,8k) e indústria extrativa (2,6k). No que tange o saldo de vagas em 2023, destaca-se principalmente a criação líquida no setor de serviços (471,0k), construção civil (149,7k) e indústria da transformação (108,7k). Comércio reverteu a destruição líquida de 8,7k vagas até abril para criação de 6,7k vagas.
Já a PNAD de maio trouxe mais uma queda na taxa de desemprego. A taxa de desocupação recuou para 8,3% no trimestre finalizado em maio (ante 8,5% em abril), levemente acima da nossa expectativa (8,2%) e em linha com a mediana do mercado. A taxa de participação subiu para 61,5% (ante 61,4% anterior), interrompendo uma sequência de sete quedas mensais consecutivas. A população ocupada totalizou 98,4 milhões, alta de 0,4% em comparação com o mês anterior, o segundo avanço consecutivo. Em relação a maio de 2022, o rendimento médio anual registrou aumento de 6,5% (ante 7,4% na divulgação anterior). Novamente, todas as categorias apresentaram ganho no rendimento médio real na comparação anual. Destaque positivo para alojamento e alimentação (10,7%), construção civil (8,6%), agricultura (6,9%) e indústria (5,5%).
Apesar da leitura ainda robusta dos dados de mercado de trabalho, ambas as divulgações trouxeram sinalizações de desaceleração no ímpeto de crescimento observado até aqui. No caso do Caged, a criação líquida de vagas veio abaixo da mediana do mercado e menor do que o observado no mesmo mês de 2022. Adicionalmente, note-se uma desaceleração no ímpeto de criação de vagas nos últimos 12 meses em 6 das 8 categorias pesquisadas. Já em relação à PNAD, o rendimento médio real atingiu R$ 2.901, leve queda de 0,2% em relação a abril, o segundo recuo mensal seguido.
Alguns fatores podem estar impactando a dinâmica do mercado de trabalho ou até mesmo vir a impactar as próximas divulgações. A divulgação do resultado do Censo 2022 com uma população total menor do que o inicialmente estimado trás possíveis implicações para a interpretação de taxa de participação, população ocupada, entre outros fatores. Adicionalmente, economistas vem chamando atenção para o fato de que o alto valor dos programas de transferências de renda já ultrapassa o salário médio de algumas atividades em diversas regiões do país, o que pode estar impactando nos resultados do mercado de trabalho.
Prospectivamente, esperamos que o mercado de trabalho desacelere de maneira lenta e gradual ao longo do ano. Para o Caged, projetamos criação de 1,1 milhão de vagas em 2023, abaixo das 2,0 milhões de vagas criadas no ano anterior. Já para a PNAD, estimamos que a taxa de desemprego deva subir para 9,0%, ante 7,9% no final de 2022.