Publicado originalmente em inglês em 17/02/2021
O rendimento da nota de 10 anos do Tesouro americano continuou subindo na terça-feira, após o feriado de segunda-feira nos EUA e um fim de semana marcado pela absolvição do ex-presidente Donald Trump no processo de impeachment no Senado.
Depois de romper a barreira de 1,2% na sexta, os papéis ultrapassaram 1,3% na terça. Já os títulos de 10 anos superaram 2,09% no pregão de ontem.
A votação no Senado já era esperada, pois os republicanos haviam indicado em votações anteriores que o impeachment de um presidente que já deixara do cargo não estava de acordo com a Constituição. A principal novidade foi a decisão de não seguir adiante com a convocação de testemunhas, o que prolongaria o processo por dias ou até mesmo semanas.
O foco agora muda para os planos do presidente Joseph Biden de aprovar um estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão e acelerar a campanha de vacinação contra a Covid-19, na tentativa de fazer a economia voltar aos trilhos. Os investidores estão vendendo os superseguros treasuries (os rendimentos se movem na direção inversa dos preços) e indo para ativos mais arriscados.
A Europa continuou imersa em seu próprio noticiário político. O sucesso de Mario Draghi na formação de um novo governo na Itália aumentou a demanda por títulos governamentais do país.
Em determinado momento, a venda das notas de 10 anos na terça-feira atraiu uma demanda de €110 bilhões, antes de os termos da emissão de €10 bilhões indicar um rendimento levemente mais baixo de 0,6% nos títulos já existentes. O rendimento do título de 10 anos ficou abaixo de 0,567% no decorrer do pregão.
Os investidores esperam que Draghi, ex-diretor do Banco Central Europeu, apresente um plano convincente para gastar os €200 bilhões destinados à Itália pelo programa de recuperação econômica da União Europeia.
A venda italiana ocorre na esteira da oferta superdemandada de títulos de 50 anos da Espanha na semana passada, quando sua emissão de €5 bilhões atraiu ofertas de €65 bilhões para um cupom de 1,45%.
Entretanto, os rendimentos das notas de 10 anos do governo espanhol, que chegaram a atingir 0,105% na semana passada, subiram brevemente nesta semana para mais de 0,3% após notícias de que os partidos pró-independência da Catalunha haviam fortalecido sua maioria nas eleições regionais no domingo.
Os países europeus estão correndo para fazer caixa diante do interesse dos investidores, enquanto as compras de ativos pelo BCE e o auxílio previsto pela UE continuam impulsionando os preços. Portugal levantou €3 bilhões nos papéis de 30 anos no início do mês, e a Bélgica e a França arrecadaram €5 e 7 bilhões respectivamente com a venda de títulos de 50 anos.
Os rendimentos da dívida com vencimento maior subiram após a venda do governo espanhol, levando alguns analistas a especular se a janeira para as emissões de longo prazo havia-se fechado.
Em ambos os lados do Atlântico, os investidores estão agora começando a considerar uma inflação maior, já que o estímulo fiscal e monetário para combater a Covid-19 está aquecendo as economias. A emissão recorde de dívida por causa da pandemia também está pensando sobre os preços dos títulos, mesmo com o suporte das compras dos bancos centrais.
Os títulos alemães, por exemplo, geralmente vistos como uma referência para toda a Europa, subiram, com o rendimento de 10 anos atingindo a máxima de cinco meses a -0,376% na segunda-feira, antes de recuar para -0,393% na terça.
O gap entre os papéis de 10 anos da Alemanha e Itália se estreitou em cerca de 90 pontos-base, após se ampliar para mais de 120 pb no mês passado.