A permanência de incertezas fiscais internas, a crise hídrica, a inflação global em alta, a expectativa de redução de estímulos nas principais economias e sinais de acomodação do crescimento têm prejudicado o desempenho do real, ou seja, o dólar segue subindo. Apesar de poucos momentos de correção e tentativas frustradas por parte do Banco Central Brasileiro de tentar conter a desvalorização do real com leilões de swap cambial, não tem dado resultado.
Ontem o secretário do tesouro, Bruno Funchal, afirmou que a mensagem sobre modificação do orçamento 2022 deve ser enviada até início de novembro, mas o governo está aguardando a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios. A PEC é imprescindível para abrir espaço no Orçamento do ano que vem para a realização de despesas públicas. O relator da proposta, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), apresentou nesta quinta-feira seu parecer, acatando a solução de limitar o crescimento dos precatórios à dinâmica da regra do teto, de correção pela inflação.
Autoridades norte-americanas têm alertado para a importância de elevar o teto de endividamento antes de o país ficar sem dinheiro, mas parlamentares republicanos têm demonstrado resistência em flexibilizar a extensão do teto. Aliviando o impasse, no entanto, o principal republicano do Senado, Mitch McConnell propôs que seu partido permita uma extensão do teto da dívida federal até dezembro. Nem essa boa notícia deu ânimo por aqui para o câmbio.
Nos EUA, os pedidos de seguro-desemprego apresentaram perdas na semana terminada em 01 de outubro de 2021. Foram registrados 326 milhões pedidos. O ADP forte de quarta feira associado a esse dado de ontem reforça a tese de quem o tapering será anunciado para novembro. Mas hoje sai o payroll, que é o dado mais esperado para embasar essa decisão. E você sabe que se esse tapering for de fato anunciado para breve o dólar se valoriza.
Hoje a China volta após o longo período de feriado.
A crise energética na Europa, que conta com uma ajudinha de Vladimir Putin, dá sinais de que a Rússia está disposta a aumentar o fornecimento para a Europa. A produção industrial alemã caiu 4% no mês de agosto, o segundo conjunto de dados decepcionantes da maior economia da Europa em dois dias. As autoridades do Banco Central Europeu discutiram um corte maior nas compras de ativos no mês passado e alguns até argumentaram que os mercados podem já estar preparados para o fim do suporte emergencial, mostrou nesta quinta-feira a ata da reunião de política monetária de 9 de setembro. Dessa perspectiva, um ritmo de compras similar ao nível prevalecente no início do ano seria apropriado. No final, as autoridades concordaram em apenas reduzir "moderadamente" as compras de ativos, enquanto insistiram que isso não foi uma "redução de estímulos" já que as fracas pressões de preços ainda exigem suporte.
Aqui no Brasil o investidor continua acompanhando pautas como a PEC dos Precatórios, a Reforma do Imposto de Renda e o debate em torno da prorrogação do auxílio emergencial para a população. Quanto mais essas pautas ficam sem solução, mais sobe o risco país com a incerteza quanto a ficarmos dentro do teto de gastos e também sobre de onde saíra o recurso para o novo Bolsa Família. Hoje sai IPCA setembro, importante índice para medir a inflação.
Ontem o diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, disse que, somente pela questão do overhedge, a demanda esperada para o fim deste ano será de 17,6 bilhões de dólares, e que se precisar atuará no câmbio. A queda da Selic na pandemia impactou muito na depreciação do real. O Banco Central prevê alívio no mercado de câmbio no ano que vem após o fim da demanda por dólares em função da desmontagem de overhedge pelos bancos e finalização do processo de redução de endividamento externo das empresas. Não sei não...
Ontem, em mais um dia de valorização do dólar, a moeda americana fechou cotada a R$ 5,5155.