Uma rara calmaria em Brasília abriu espaço para o Ibovespa e os juros futuros ampliarem ontem o movimento da véspera, ignorando os riscos fiscais. Mas os investidores assumem a cautela hoje, com uma segunda onda de contágio do coronavírus voltando a fechar a Europa, que vem batendo recorde de casos da covid-19, enquanto as perspectivas de novos estímulos nos Estados Unidos antes da eleição de novembro murcharam.
As bolsas europeias exibem quedas aceleradas, de mais de 2% em algumas praças, reagindo à decisão da França de impor toque de recolher e de Portugal de decretar calamidade, em uma tentativa de frear uma nova disseminação do coronavírus. Medidas também foram tomadas na Itália e na Espanha, após o número de casos e mortes pela doença voltarem a subir, enquanto a Alemanha registrou o ritmo mais rápido de infecções.
Do outro lado do Atlântico Norte, os índices futuros das bolsas de Nova York sinalizam perdas pela terceira sessão seguida, a menos que a agenda de balanços e indicadores prevista para o dia desperte algum ânimo em Wall Street. Na Ásia, a sessão também foi negativa, com Hong Kong liderando as baixas (-2%). Já o dólar segue forte, o que deve pressionar o real por aqui, um dia após a moeda dos EUA voltar à faixa de R$ 5,60.
Ou seja, enquanto os investidores alimentavam esperanças em relação a uma possível vacina contra covid-19 e mostravam-se otimistas quanto a um novo pacote fiscal nos EUA, os riscos crescentes em relação à pandemia e seus impactos econômicos eram negligenciados. Da mesma forma, a quietude política na cena local esticou o alívio técnico dos ativos, com o Ibovespa flertando novamente a marca dos 100 mil pontos, mas o impasse em torno do “teto dos gastos” e o Renda Cidadã persiste.
E é por isso que o mercado financeiro amanheceu um pouco mais vendedor hoje, com os investidores afastando-se do risco, sem qualquer estímulo iminente para seguir em frente e já que não conseguem acelerar o calendário. A expectativa é de que qualquer novidade no front fiscal tanto no Brasil quanto nos EUA só seja conhecida após as eleições de novembro, com o desfecho podendo ser adiado novamente, retardando a recuperação da atividade e testando o movimento por inércia dos ativos globais.
Agenda cheia
Aliás, a agenda econômica do dia traz mais uma indicador de atividade, desta vez, calculado pelo Banco Central (IBC-Br). A expectativa é de alta pelo quarto mês consecutivo em agosto, mas perdendo tração em relação a julho, crescendo +1,5%. Já na comparação anual, deve haver uma nova queda, de -4%. Os dados oficiais serão conhecidos às 9h.
Depois, nos EUA, às 9h30, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego, os índices regionais sobre a atividade industrial em Nova York e na Filadélfia em outubro, além dos preços de importação e de exportação no país em setembro. Ainda por lá, às 12h, é a vez dos estoques semanais norte-americanos de petróleo bruto e derivados.
Na safra de balanços, sai o demonstrativo contábil do Morgan Stanley (NYSE:MS).