Ibovespa quase zerando as perdas do ano; dólar no menor nível desde meados de junho, cotado abaixo de R$ 5,05, e desinclinação da curva a termo. Foi assim que o mercado financeiro aplaudiu a decisão do Banco Central de fechar as portas para novos cortes na taxa básica de juros, acenando para a possibilidade de alta na Selic antes do imaginado.
O tom duro (“hawkish”) do Comitê de Política Monetária (Copom) na última reunião de 2020 sinaliza uma mudança de postura para 2021, com o BC virando o jogo e adotando uma nova abordagem na condução dos juros básicos no ano que vem. Isso significa que em algum momento a Selic vai subir, seja por boas ou más razões.
Se por um lado o aperto monetário se dará por causa da recuperação econômica, com o país voltando a registrar crescimento, em meio ao novo superciclo das commodities; de outro, a normalização da taxa básica para níveis neutro ou positivo ocorrerá por causa da aceleração da inflação. E o fiel da balança nesse processo é o “teto dos gastos”.
Os investidores continuam preocupados com a possibilidade de o governo “furar” o “teto” - ou fazer um “puxadinho”, desviando recursos da regra. O maior temor é com a extensão do auxílio emergencial ou algo próximo à proposta de transferência de renda, abandonando a austeridade e as reformas. Por ora, ainda se acredita na manutenção do regime fiscal.
Ao que parece, pouca gente no mercado financeiro percebeu que a política brasileira mudou, abandonando o viés reformista do governo anterior, e caminha agora para uma mistura heterogênea de velhas políticas dos anos 70 - Escola de Chicago e CEPAL - e uma dose de populismo. Até mesmo o ministro Paulo Guedes (Economia) perdeu prestígio.
E é por isso que o cenário político preocupa. Ainda é uma incógnita o conteúdo do texto da PEC Emergencial que circula pelos corredores do Congresso e quando será a votação da matéria. O foco por lá continua na corrida para a presidência da Câmara e do Senado, em fevereiro, e dificilmente alguma pauta irá avançar antes disso - nem mesmo o Orçamento.
Sorte ou Revés?
Enquanto aguardam novidades de Brasília, os ativos locais devem seguir ao sabor do apetite dos investidores estrangeiros e do ambiente externo. Lá fora, a notícia de que a agência reguladora de medicamentos nos Estados Unidos (FDA) recomendou o uso emergencial da vacina contra covid-19 desenvolvida pela Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34)/BioNTech SE (NASDAQ:BNTX) não anima tanto.
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com leves oscilações, alternando altas e baixas, em meio à falta de progresso nas negociações entre republicanos e democratas por mais estímulos fiscais nos EUA antes do fim do ano. Indicadores recentes mostrando o impacto do aumento de casos da doença na economia também pesam.
Na Europa, as principais bolsas seguem divididas entre a nova rodada de estímulos lançada ontem pelo Banco Central Europeu (BCE) e o drama britânico de ter um Brexit sem acordo comercial com a União Europeia (UE). Na Ásia, Hong Kong subiu, enquanto Tóquio e Xangai caíram, refletindo o noticiário vindo do Ocidente. O petróleo sobe e o dólar também.
Sem uma grande sinalização para o dia é difícil prever se o Ibovespa conseguirá subir os 0,45% que faltam para zerar as perdas do ano, saltando mais de 50 mil pontos e acumulando valorização de 80% desde que atingiu o vale do ano, em março, aos 63,5 mil pontos. O dólar, por sua vez, continua sendo empurrado pelo BC e pode furar os R$ 5.
A autoridade monetária oferta hoje mais um leilão extraordinário de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro), em uma operação com vistas às saídas de recursos externos típicas dessa época do ano, que tendem a ser potencializadas pelo ajuste das posições defensivas (overhedge) montada pelos bancos. A curva de juros deve perder inclinação.
Dia tem atividade e inflação
Mais um indicador sobre a atividade doméstica, desta vez, no setor de serviços em outubro, será conhecido hoje (9h). A expectativa é de crescimento pelo quinto mês seguido, enquanto no confronto anual, o desempenho do setor deve seguir negativo pela oitava vez consecutiva. Trata-se do grande destaque da agenda doméstica do dia.
Lá fora, saem os preços ao produtor nos EUA (PPI) em novembro, às 10h30, e a prévia deste mês da confiança do consumidor norte-americano, às 12h.
*Aviso: a partir de 14/12/2020, A Bula do Mercado será semanal, publicada apenas às segundas-feiras. Em 11/01/2021, os textos voltam a ser diários.