A semana chega ao fim com uma agenda econômica bem mais fraca, o que abre espaço para o mercado financeiro se recompor, após uma overdose de bancos centrais. Os investidores ainda absorvem a mensagem dos BCs dos Estados Unidos (Fed) e do Brasil (Copom), entre outros, de que os estímulos já lançados podem até não ser suficientes para superar a crise causada pela pandemia, mas o momento é de “esperar para ver”.
Ou seja, a adoção de medidas adicionais ou o uso de outros instrumentos de política monetária estão, por ora, descartados, ainda que tudo o que já foi feito até o momento não tenha sido capaz de reerguer a economia real. Por isso, o Fed instou a Casa Branca em lançar um novo pacote fiscal, deixando claro que fazer o dinheiro chegar nas mãos de quem precisa pode ser mais eficiente do que simplesmente deixá-lo circular no sistema - em um alerta de que com os juros nos EUA perto de zero até 2023, o preço dos ativos pode inflar e, assim, formar bolhas.
Já o Copom interrompeu o longo ciclo de cortes na taxa básica de juros, iniciado em julho de 2019, mantendo a Selic no piso de 2%. Ainda que o BC tenha deixado uma fresta para uma queda adicional, o mercado doméstico debate a duração dessa pausa, pois os riscos fiscais e inflacionários podem encurtar o período prolongado estimado pela autoridade monetária, levando a uma reversão do movimento já no ano que vem.
A exceção fica com a China, que divulgou nesta semana dados melhores que o esperado sobre a indústria e o varejo em agosto, mostrando a eficácia do modelo econômico adotado pelo país, que segue firme na trajetória de recuperação. Enquanto isso, o restante do mundo ainda sente os efeitos da covid-19, com as medidas adotadas priorizando salvar a economia, via a injeção de recursos, ao invés de combater a disseminação do coronavírus, sendo insuficientes.
Portanto, os investidores devem se preparar para uma nova fase do ciclo econômico em tempos de pandemia. Após a queda abrupta da atividade (do consumo e do desemprego), em meio aos bloqueios (lockdown) e isolamento social, seguida de uma recuperação rápida e acelerada, com a reabertura econômica e circulação das pessoas; o mundo caminha agora para uma etapa de retomada mais heterogênea e errática, entre os diferentes setores e países.
Os investidores, então, avaliam quais ativos (e regiões) irão se beneficiar desse processo e também ponderam se tal cenário já não foi “precificado” demais - como é o caso das techs. Nesse ambiente, a dinâmica dos mercados globais tende a ficar altamente volátil e sujeita a movimentos abruptos, com os preços ajustando-se aos sinais da economia real, após o descompasso visto nos últimos meses.
Exterior indefinido
Diante disso, os mercados internacionais amanheceram sem um rumo definido. Os índices futuros das bolsas de Nova York alternam leves altas e baixas, buscando forças para recuperar-se das perdas vistas na véspera, quando uma nova onda vendedora (sell off) voltou a atingir o setor de tecnologia.
Wall Street tenta se sustentar próxima das marcas recordes, mas o progresso para além dos topos históricos vai depender do apoio fiscal às vésperas das eleições presidenciais nos EUA, do desenvolvimento de uma vacina contra covid-19 e da dinâmica do vírus à medida que se aproxima o inverno (no Hemisfério Norte).
Aliás, o temor de uma segunda onda de contágio prejudica as principais bolsas europeias, com o setor aéreo liderando as perdas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aumento de casos semanais de coronavírus em várias partes do velho continente já ultrapassa os relatos quando a pandemia atingiu o pico na região, em março.
Alheias a tudo isso, as bolsas da Ásia registraram ganhos firmes, lideradas pela alta de pouco mais de 2% em Xangai e seguida, de longe, por Hong Kong (+0,5%) e Tóquio (+0,2%). Nos demais mercados, o petróleo ensaia alta e tenta se sustentar acima da faixa de US$ 40 por barril, enquanto o dólar mede forças em relação às moedas rivais.
Agenda sem destaque
A semana chega ao fim trazendo, no Brasil, a segunda prévia deste mês do IGP-M (8h), que deve reforçar a pressão nos preços vinda do atacado. No exterior, destaque para o índice de confiança do consumidor norte-americano em setembro e também para os indicadores antecedentes nos EUA em agosto, ambos às 11h.