A semana começou com o mercado financeiro emitindo sinais de que precisa de mais estímulos para manter o apetite por risco, após os ativo globais engatarem a recuperação mais rápida de uma crise na história, com quase cinco meses de alta ininterrupta. Do contrário, a correção vista ontem nos preços dos ativos pode continuar - e se aprofundar, pois o fôlego para ampliar o rali parece ter acabado.
Não se trata, por ora, de uma reversão de tendência nos mercados globais, mas sim dos primeiros indícios de que está difícil manter o pique dos últimos meses apenas com o que já foi feito até aqui - pelos bancos centrais e governos. Resta saber como os BCs do Brasil (Copom) e dos Estados Unidos (Fed) irão responder a essa mensagem, após terem indicado que a ação de política monetária chegou ao limite.
A ata da reunião da semana passada do Copom abre o dia (8h) e a expectativa é de que o documento traga algum sinal conciso sobre os próximos passos na condução da Selic, após interromper um longo ciclo de nove cortes seguidos no juro básico, levando-o ao piso histórico de 2%. A percepção entre os investidores é de que o BC está prestes a reverter a estratégia e iniciar um ciclo de alta em breve, em meio aos riscos inflacionários e fiscais.
Porém, o documento pode falhar em trazer alguma novidade em relação ao comunicado que acompanhou o anúncio da decisão, adiando a divulgação de qualquer informação relevante para quinta-feira, quando será publicado o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), seguido de uma entrevista coletiva do presidente Roberto Campos Neto. Ele poderá esclarecer o espaço para uma queda adicional e/ou o tempo para manter a taxa estável.
Com expectativa baixa em relação ao evento do dia envolvendo o BC brasileiro, as atenções se voltam para o Congresso dos EUA, onde o presidente do Fed, Jerome Powell, depõe a partir das 11h30, perante a Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes. Será a oportunidade dele ser mais enfático ao cobrar dos legisladores e do governo Trump ações mais eficazes de política fiscal, a seis semanas das eleições.
O testemunho deve ser tenso e demorado, o que tende a manter o vaivém dos mercados globais, oscilando ao sabor da fala de Powell. Ainda mais com o tema central do depoimento sendo a pandemia de coronavírus, em um momento em que os investidores tentam compreender o que levou à pausa na adoção de estímulos, ainda que tudo o que já foi feito até o momento não tenha sido capaz de reerguer a economia real.
Exterior ensaia melhora
À espera de explicações, os mercados mostram movimentos naturais, com a correção vista ontem nos ativos de risco abrindo espaço para uma ligeira recuperação. As bolsas europeias tentam conduzir a melhora no exterior, após uma sessão de perdas na Ásia, lideradas por Xangai (-1,3%), refletindo as perdas da véspera em Wall Street.
Já os índices futuros das bolsas de Nova York tentam acompanhar o sinal positivo vindo do outro lado do Atlântico Norte, mas amanheceram na linha d’água, com um ligeiro viés negativo. O dólar, por sua vez, estende os ganhos, o que não impede um avanço do petróleo, que segue orbitando na faixa de US$ 40 por barril. O ouro cai.
De um modo geral, os mercados buscam acomodação em uma faixa de oscilação condizente com os estímulos lançados até então e com a trajetória de recuperação da economia real, após um oba-oba fora de compasso dos ativos globais. Esse intervalo tende a ser menos ou mais estreito, a depender do fluxo de recursos nas mesas de operações.
De qualquer forma, a volatilidade tende a reinar no curto prazo, com os investidores abalados com a perspectiva de redução de estímulos fiscais e monetários dos EUA combinada com o aumento de casos da covid-19 em vários países. A disputa pela Casa Branca e entre Washington e Pequim também tende a refrear o ímpeto dos negócios.
Agenda fraca
Entre os indicadores econômicos, a agenda do dia traz dados preliminares sobre a confiança do consumidor na zona do euro neste mês e números do setor imobiliário norte-americano em agosto. Outro evento de relevo é o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da ONU, às 10h.
Pela primeira vez nos 75 anos da história da Organização, o encontro de líderes de todo o mundo será virtual, com discursos pré-gravados. O Brasil abre o debate geral desde 1947 e, desta vez, o discurso do chefe da nação se dá em meio a críticas internacionais sobre a política ambiental, com o aumento das queimadas na Amazônia e no Pantanal.