Passadas as eleições dos Estados Unidos e deixando à parte as polêmicas sobre o resultado do pleito, o mercado financeiro mostra ansiedade sobre o tamanho dos estímulos a serem lançados. O temor dos investidores é de que republicanos e democratas sintam-se encorajados em aprovar um pacote fiscal menor, diante do progresso no desenvolvimento da vacina contra a covid-19.
Com isso, os ativos de risco fazem uma pausa no rali, que vinha sendo conduzido desde a semana passada com a disputa presidencial sendo o motor do movimento. A definição de Joe Biden como 46º presidente norte-americano adicionou combustível aos mercados ontem, mas hoje os negócios perdem tração. Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram alternando altas e baixas, sem uma direção definida.
A resistência de Donald Trump em iniciar o processo de transição, impedindo o acesso da equipe de Biden a dados e recursos, traz um fator de incerteza no curto prazo, pois quanto mais demorada for a alternância de poder, mais tempo deve levar as negociações em torno de estímulos adicionais. Para o democrata, a “eleição acabou”; para o presidente, houve fraude eleitoral, em especial no estado da Pensilvânia, que garantiu a vitória do rival.
Enquanto isso, o Federal Reserve advertiu que os preços dos ativos globais podem sofrer um duro golpe, caso o impacto econômico da pandemia nos EUA piore nos próximos meses, dada a limitação do uso do instrumento de política monetária e em meio à ausência de novas medidas por parte de Washington. Após bater sucessivos recordes diários, os EUA superaram ontem a marca sombria de 10 milhões de casos de coronavírus.
Do outro lado do Atlântico Norte, a Europa já sofre as consequências de uma segunda onda de contágio, após voltar a adotar lockdowns em diversos países. As principais bolsas da região abriram o dia no vermelho, com a rotação entre diferentes setores que marcou o rali recente perdendo sentido, após as ações ligadas a viagens e cinemas dispararem, enquanto às relacionadas a atividades domésticas despencaram.
Na Ásia, a sessão foi sem brilho. Nem mesmo o rali da véspera em Wall Street impulsionou as bolsas da região. Xangai caiu 0,4%, enquanto Tóquio teve ligeira alta de 0,3%. Já Hong Kong avançou 1,1%. Por lá, os investidores aguardam o desempenho das vendas pela internet na China durante o “Dia do Solteiro” (双十一), amanhã, quando dezenas de bilhões de dólares devem ser gastos pelo e-commerce.
Nos demais mercados, o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) segue nos maiores níveis desde março, enquanto o dólar segue perdendo terreno em relação às moedas rivais e o barril do petróleo se sustenta na marca de US$ 40. O ouro também avança. Esse desempenho lá fora deve influenciar os mercados domésticos, que vêm tentando se esquecer das dificuldades locais para surfar na onda do otimismo externo.
Ontem, o Ibovespa cravou a quinta alta consecutiva e fechou no maior nível desde o início de agosto, de volta à marca dos 103,5 mil pontos, ao passo que o dólar não conseguiu firmar-se abaixo de R$ 5,25, cotação atingida na mínima da sessão, e encerrou o dia colado à marca de R$ 5,40. As incertezas fiscais também inibiram um movimento mais firme de retirada de prêmios dos juros futuros, diante da alteração no cenário sobre o rumo da Selic.
Ou seja, o movimento de valorização dos ativos locais é limitado pela insegurança em relação à sustentabilidade das contas públicas e ao andamento da agenda de reformas. As atividades em Brasília perderam ímpeto devido às eleições municipais, que acontecem neste fim de semana, e ainda não está garantida a manutenção do “teto de gastos”. Sequer o Orçamento para 2021 deve ser votado neste ano, elevando a incerteza dos investidores.
Agenda sem destaques
O calendário doméstico desta terça-feira traz a primeira prévia deste mês do IGP-M (8h) e um novo levantamento da safra agrícola (9h). Lá fora, saem o relatório Jolts sobre as contratações e demissões nos EUA em setembro (12h) e o índice de sentimento econômico na zona do euro em novembro, logo cedo.