Depois de comemorar a eleição dos candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro na Câmara e no Senado, o mercado financeiro ajusta o foco à agenda prioritária do Congresso, que inicia hoje à tarde os trabalhos deste ano. Os investidores apostam que a vitória do governo nas Casas Legislativas será acompanhada da promessa de que as reformas estruturais e o ajuste fiscal vão, enfim, sair do papel.
O ministro Paulo Guedes já buscou sinalizar aos novos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, a pauta econômica do governo para os próximos dois anos. As prioridades seriam a votação do Orçamento de 2021 e da PEC Emergencial. Se aprovados, ambos os projetos possibilitam remanejar ou cortar recursos de outras áreas, abrindo espaço para medidas voltadas aos mais vulneráveis, como o auxílio emergencial.
Em seguida, seriam priorizadas medidas menos polêmicas, como a autonomia do Banco Central. Só então é que devem começar as discussões sobre as reformas administrativa e tributária, que seriam iniciadas com a unificação dos tributos federais PIS e Cofins, criando a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Ficaria para depois a ideia de ressurgir um imposto nos moldes da extinta CPMF, que poderia atrapalhar todo o restante da agenda.
Outras questões, como as privatizações e a desoneração ampla de encargos trabalhistas, também tendem a ficar em segundo plano. De qualquer forma, a expectativa é de que o governo possui uma ampla base parlamentar e a aprovação dessas medidas deve reduzir gradualmente o risco fiscal no Brasil, aliviando a pressão sobre as contas públicas e, consequentemente, diminuindo a possibilidade de o governo “furar” o “teto dos gastos”.
Mar de Rosas
A previsão é de que tudo esteja aprovado até setembro. Ou seja, a equipe econômica trabalha para mostrar ao Congresso que o Palácio do Planalto tem sim uma agenda clara, capaz de colocar o Brasil de volta à trajetória do crescimento, que já está ameaçado neste início de 2021. Aos olhos do mercado financeiro, Bolsonaro e Guedes não têm mais “desculpa” para que a agenda de reformas avance, ampliando o ajuste fiscal.
De agora em diante, só depende do governo cumprir com as promessas ao Centrão que garantiram a vitória no Congresso, com a nomeação de indicados para cargos dentro do Executivo, e enviar a pauta econômica. Porém, a relação entre os dois poderes está longe de uma harmonia. Bolsonaro adotou a velha política, mirando as eleições de 2022, mas não terá a subserviência dos parlamentares. Por ora, há um alinhamento de Lira e Pacheco.
No entanto, a situação no país ainda é delicada. O contágio do coronavírus, e suas variantes, segue acelerado e a vacinação da população continua atrasada, o que pode agravar o quadro geral, com piora adicional do desemprego e novos solavancos da economia, fazendo com que Bolsonaro perca apelo popular. E, aí, a pressão tende a crescer sobre o próprio Congresso, principalmente em torno do presidente da Câmara.
Com isso, ainda cabem avaliação e análise dos possíveis impactos das eleições no Congresso, sendo que os ecos da vitória dos candidatos apoiados pelo presidente devem continuar influenciando os ativos domésticos. Ainda que persistam dúvidas, os investidores veem maior previsibilidade e apostam que qualquer solução será negociada, evitando surpresas. A ver, então, se esse “mar de rosas” irá banhar o Planalto Central.
Em recuperação
Enquanto o foco dos negócios locais deve seguir concentrado em Brasília, os mercados internacionais continuam tentando se ajustar ao mundo pré-pós-pandemia. Nesse limbo, os investidores tentam manter as esperanças em relação ao progresso nas vacinações contra a covid-19 e alimentam o apetite por risco, em meio à expectativa de mais estímulos fiscais nos Estados Unidos em breve.
Diante disso, os índices futuros das bolsas de Nova York mantêm o tom positivo, embalados também pelos resultados trimestrais da gigantes Alphabet (NASDAQ:GOOGL) e Amazon (NASDAQ:AMZN), que não terá mais Jeff Bezos como executivo-chefe (CEO) até o fim deste ano. A diminuição da volatilidade nos negócios, após especulações nas ações da GameStop e AMC, amplia o terreno de recuperação das bolsas, com as praças europeias também no azul.
Na Ásia, apenas Xangai caiu (-0,5%), digerindo a queda do índice dos gerentes de compras (PMI) do setor de serviços na China, medido pelo grupo privado Caixin, a 52 em janeiro, de 56,3 em dezembro, para o ritmo mais lento em nove meses. Mais indicadores de atividade na zona do euro e nos EUA recheiam a agenda do dia. Nos demais mercados, o dólar cai, enquanto o petróleo e os metais preciosos sobem.
Exterior tem dados de atividade e emprego
O calendário doméstico perde força nesta quarta-feira, trazendo apenas os dados de janeiro sobre a entrada e saída de dólares do país (fluxo cambial), às 14h30. Na safra brasileira de balanços, saem os resultados dos bancos Santander (SA:SANB11), antes da abertura, e Bradesco (SA:BBDC4), após o fechamento.
Já no exterior as atenções se dividem entre números no mês passado sobre o setor de serviços nos EUA e na Europa, ao longo da manhã, e sobre o emprego no setor privado norte-americano (10h15). Também serão conhecidos dados de inflação na zona do euro, logo cedo, além dos estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA (12h30).