Talvez os quatro leitores se lembrem da disputa iniciada aqui há algum tempo em prol da transparência a ser adotada pelas corretoras e pelos bancos emissores de COEs sobre as taxas embutidas nesses produtos.
Lembro o contexto para poder apresentar o e-mail abaixo, recebido na sexta-feira de um assinante (sim, é real; aliás, aos poucos familiarizados, esclareço: além de uma prerrogativa ética e moral, o uso de depoimentos verdadeiros é uma exigência da lei):
"Felipe,
Sua briga com o sistema vai dando resultado aos poucos.
A XP acabou de informar aos assessores que a partir de abril, no material publicitário dos COEs haverá a seguinte mensagem:
'Por conta da atividade de distribuição de COEs, a XP Investimentos recebe dos bancos emissores uma remuneração de no máximo 2% ao ano.'
Ainda não fica 100% transparente, mas é um passo né. Continuem a luta!
Abraço”
A mensagem me deixou um pouco feliz. Não nego. Pode ser um pequeno passo, uma ligeira conquista ainda longe da transparência radical de Ray Dalio. Mas é algo. E mesmo as menores conquistas pedem comemoração.
Registro formalmente meus parabéns à XP pela atitude — não que eu ache que isso lhes importe, sinceramente. Eles são grandes e importantes demais para olharem para nós cinco. Faço o reconhecimento por achar certo — tudo e só isso.
As brigas que compro neste espaço não são por mim. Na verdade, eu não gosto delas. Se pudesse e conseguisse, viveria uma vida de tapinhas nas costas, elogios mentirosos e politicagem protocolar. A alternativa implica sofrer, até mesmo na física, as consequências de cada embate. Na prática, porém, os imperativos categóricos ou a vocação (sei lá qual dos dois) não me deixam desviar das batalhas frontais. E as enfrento pelo investidor, por um propósito maior.
Para mim ou para a Empiricus, não muda nada se a XP vai ou não dar disclosure das taxas cobradas em seus COEs. Mas para o investidor muda. Com acesso à devida informação, ele pode escolher melhor onde colocar seu dinheiro. Essa conquista é dele mesmo, de mais ninguém.
Não resolve todo o problema, claro: no caso daquele famigerado COE envolvendo o fundo da Pimco, se o agente autônomo recebia 2 por cento ao ano por quatro anos e trazia tudo a valor presente, levava para casa 8 por cento na cabeça. Deu pra pagar o IPVA tranquilo, né?
Mas o que importa é a travessia. Mesmo que caminhemos a passos de formiga sem vontade, a direção adotada parece correta. Se necessário for, vamos “inch by inch”, como enfatiza Al Pacino no filme “Um Domingo Qualquer” (esse discurso é de arrepiar).
É quase anedótico a decisão em prol da maior transparência sobre os COEs vir justamente no 1° de abril. Como se a própria vida viesse zombar daqueles que combatem as mentiras e defendem uma maior transparência nesse jogo. A esta altura, nem mesmo as sinceras me interessam mais. Entre raspas e restos, fica o caminho da perseguição obsessiva pela verdade, sem tergiversar. Não há outro.
Sei que isso me rende certos inimigos. Paciência. Aliás, uma das formas de medir um homem (aqui no sentido de espécie e não de gênero, espero que entenda) ou uma empresa é justamente pelos inimigos que ele ou ela tem.
Ouvi que a Brasilprev ficou incomodada com as críticas desferidas neste espaço contra ela. Segundo os relatos, entrou com uma representação qualquer, numa associação qualquer, contra mim — suspeito que seja a “associação dos amigos da Brasilprev”. Ah, entre na fila.
Ter a Brasilprev como opositora é quase um motivo de orgulho. Se meus detratores me conhecessem melhor, me odiariam ainda mais.
Reconheço, sim, que há um ou outro fundo bom lá dentro. Também não quero dizer que há dolo ou qualquer coisa parecida. Mas a maior parte dos fundos, em termos de resultados objetivos (além de meras opiniões, coisas tangíveis), é ruim. Ponto.
Se a maior parte de seus fundos está bem abaixo do CDI e aqui eu denuncio seus resultados, no geral, aquém do desejado, a culpa é minha? Quando vão entender o óbvio, que a Empiricus exerce uma atividade editorial e eu vivo de dar opiniões?
É da natureza de um analista (aqui no sentido amplo da palavra “analista”, de todo sujeito que realiza uma atividade de análise, avaliação de alguma coisa, como um “analista de futebol”, por exemplo) falar mal ou bem do objeto analisado. Se ele só fala bem, não há análise. Você acreditaria num avaliador cujos comentários são sempre positivos? Se querem moderar ou tornar comedidas as palavras, então querem interferir no próprio estilo da linguagem. E o estilo é o homem.
Podem inventar as mentiras e as desculpas que quiserem. No 1° de abril vale tudo.
Se o contra-argumento da Brasilprev é de que generalizei as críticas para todos os fundos, a tréplica é simples: no geral, os fundos são ruins mesmo (essa é minha opinião e ainda acho que posso expressá-la livremente; “free man in a free country”).
Já se a ponderação é que “a crítica à Brasilprev faz uma comparação injusta, porque não considera os diferentes ciclos de vida”, explico que uma publicadora de conteúdo não faz, nem pode fazer “suitability” ou “know your client” — isso deve ser feito pelas próprias instituições financeiras. Se eu começo aqui a dizer que esse conteúdo serve apenas para homens +35, estou simplesmente censurando os demais de ler o material. Seria análogo a dizer que “a revista Exame desta semana pode ser lida apenas por mulheres que já passaram pela menopausa”.
Precisa estar claro quem é quem dentro da indústria de distribuição e originação de valores mobiliários.
O agente autônomo é (ou deveria ser) apenas um vendedor, o sujeito responsável por prospectar clientes, nunca por aconselhar, indicar ou sugestionar investimentos.
O consultor faz, como sugere a etimologia, consultas individuais; a partir do perfil de cada cliente, sugere alocações para seus recursos.
O analista CNPI produz relatórios para o público em geral (não no âmbito individual, como o consultor).
Fora do ambiente dos mercados fechados, ou seja, alheios à distribuição e à originação, estão todos os demais, que podem (ou deveriam poder) expressar-se livremente, amparados numa prerrogativa constitucional, obviamente, arcando com as potenciais consequências civis e criminais de seus comentários sobre um terceiro.
Em vez de representações em associações variadas e argumentos ad hominem, a melhor resposta às críticas vêm na prática, com medidas para melhorar a transparência (de novo, parabéns XP!) ou para fazer seus fundos renderem mais (Brasilprev, se o fizer, eu serei o primeiro a elogiar aqui).
E só me permito criticar a rentabilidade alheia depois de olhar para dentro de casa. A Empiricus pode ter milhares de defeitos — eu mesmo sou o primeiro a apontá-los. Mas temos entregado resultado para nossos assinantes, feito esse pessoal ganhar dinheiro. A Carteira Empiricus , por exemplo, rende 207 por cento do CDI desde sua criação. Pode ter sido sorte, pode não se repetir no futuro, pode ser qualquer coisa. Mas aconteceu e isso ninguém tira do nosso assinante. No fim do dia, é o que importa. O resto é mimimi.
Portanto, sobre o assunto Brasilprev, tudo que tenho a fazer, ao menos neste momento, é sugerir a portabilidade para outros fundos de Previdência bem melhores.
Mercados iniciam abril em clima positivo, empurrados por menor preocupação com atividade econômica global, após atividade industrial chinesa voltar ao campo da expansão (PMI marcou 50,8 pontos em março, contra 49,9 em fevereiro). Japão também soltou um PMI um pouco melhor, de 49,2 pontos em março, frente a 48,9 em fevereiro.
Além das referências positivas, sobretudo para emergentes, há, na margem, maior otimismo sobre reforma da Previdência. Paulo Guedes vai à CCJ na quarta e o jornal Valor mostra apoio crescente ao tema.