O “ouro” colhido em árvores pode ficar ainda mais caro.
A safra de laranjas no estado americano da Flórida deve ser uma das menores em décadas, desencadeando um rali nos preços do suco.
O suco de laranja congelado e concentrado fechou a US$1,5538 por libra-peso na ICE Futures dos EUA na segunda-feira, uma alta de mais de 6% para janeiro, após registrar sete sessões de valorização nos últimos dez dias. Isso ocorre na esteira do seu avanço de 19% em dezembro, o maior em seis anos, e do ganho modesto registrado em novembro, de 2%.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
Em todo o ano de 2020, o suco de laranja valorizou-se 87%, devido ao desarranjo ocasionado pela Covid-19 na colheita e na produção do suco ao nível das fazendas. Houve também uma disparada na demanda por suco entre os americanos, que correram para as gôndolas de supermercado em busca de alimentos mais saudáveis durante a pandemia.
Com a oferta relativamente menor de suco no ano passado, o produto acumulou um ganho de quase 20%, graças à sua presença garantida na mesa de café da manhã dos americanos.
Os custos maiores para a produção do suco de laranja, no entanto, não resultaram no seu encarecimento nas gôndolas em 2020, já que suas maiores envasadoras – a Tropicana, da PepsiCo (NASDAQ:PEP) (SA:PEPB34), Naked Juice e Simply Orange, da Coca-Cola (NYSE:KO) (SA:COCA34)– resolveram absorver seu impacto sem repassá-los aos consumidores.
Mas, em 2021, a história foi diferente, quando praticamente todos os produtores elevaram seus preços, contribuindo para a alta de 7% no índice de preços ao consumidor no ano passado até dezembro, maior nível em 40 anos no país.
E o avanço de 6% no suco de laranja até agora no ano pode aumentar, em razão da quebra de safra e dos indicadores técnicos, dizem especialistas.
“Tudo indica que está havendo compras especulativas no suco de laranja, principalmente por causa de preocupações com a inflação”, afirmou Jack Scoville, analista-chefe de commodities agrícolas do Price Futures Group, em Chicago.
“As tendências também continuam para cima nos gráficos diários, juntamente com as estimativas de menor produção na Flórida desde a semana passada”.
O Departamento de Agricultura dos EUA, em sua última perspectiva para as laranjas daquele estado americano, prevê uma produção de 44,5 milhões de caixas de 90 libras-peso, a medida mais comum na indústria.
Trata-se de uma queda em relação à previsão de 46 milhões de caixas feita em dezembro.
Essa também será a menor safra proveniente da Flórida desde a Segunda Guerra Mundial, explicou Louis Schacht, cofundador da Schacht Groves, uma das empresas produtoras de suco de laranja no estado, em uma reportagem da rede 12 News nos EUA. Ele disse ainda:
“É a safra característica da Flórida. É a nossa segunda maior indústria e estar nela gera certos problemas, com certeza”.
Schacht atribuiu a menor oferta ao esverdeamento cítrico que afetou a safra de laranja da Flórida no ano passado.
O esverdeamento cítrico é resultado da ação de uma bactéria que interrompe o crescimento das laranjas, deixando-as verdes e com sabor amargo. A doença também enfraquece os laranjais ao ponto de não serem mais capazes de produzirem a fruta.
A maior parte das laranjas da Flórida é processada em suco de laranja.
O Departamento de Agricultura dos EUA havia projetado inicialmente que os produtores da Flórida colocariam cerca de 47 milhões de caixas no mercado na atual estação, após as 52,8 milhões de caixas na safra de 2020-2021.
Os laranjais do estado americano também foram afetados pelo frio intenso, disse Scoville do Price Futures Group, citando a chegada de uma geada na região produtora que afastou as chuvas intermitentes e temperaturas quentes para o crescimento das plantas.
Além disso, o clima no Brasil, maior país produtor de suco de laranja do mundo, também era seco durante o período de floração, ao qual se seguiu uma geada um pouco antes da colheita, disse Scoville.
Os fundamentos do suco de laranja são promissores em relação aos preços, mas o que dizer dos aspectos técnicos?
O gráfico mensal do suco de laranja mostra um forte e claro rompimento acima de US$1,48 por libra-peso, após uma longa consolidação que fez a commodity alcançar máximas plurianuais, segundo Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico do skcharting.com.
“Como qualquer commodity em alta, o suco de laranja deve realizar um rompimento, sendo possível ver, no curto prazo, a distribuição do momentum, com um reteste do ponto de rompimento antes da retomada da tendência de alta primária”, ressaltou Dixit.
Apesar do rali em janeiro, os gráficos semanal e diário do suco de laranja mostram uma correção natural que pode ter-se iniciado a partir do pico de US$1,56 no ano.
"Os preços podem retestar a metade da Banda de Bollinger de US$1,47 e a média móvel exponencial de 50 dias a US$1,40 no gráfico diário. Em termos gerais, o suco de laranja deve se firmar acima de US$1,40-1,37 a fim de manter o ritmo de ascensão da tendência primária."
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.