Cashback para os donos?
Um dos IPOs mais queridos pela nova geração da Faria Lima soltou um fato relevante extremamente polêmico esta semana, na calada da noite.
Méliuz (BVMF:CASH3) propôs um grupamento e em seguida um desdobramento de suas ações.
A companhia alega que há muitas pessoas físicas negociando suas ações no fracionário e isso acarreta custos de escrituração bastante altos.
Guarde essa informação porque falaremos muito sobre ela.
Para exemplificar, grupamento (ou inplit) de ações é fazer suas 100 ações atuais (um lote), a R$ 1, valor financeiro de R$ 100, virar uma ação só, no mesmo valor financeiro de R$ 100.
Logo em seguida, essa ação será desdobrada (ou split) em dez ações, no valor de R$ 10 cada.
“Mas Dani, por que não agrupar diretamente 10 ações em uma só?”
É aí que está o pulo do gato.
Sem cash, sem Méliuz
Caso a proposta seja aprovada, você, que possui 30, 50 ou 80 ações de Méliuz, precisará tomar uma decisão.
Se quiser manter suas ações da companhia, deverá comprar o restante para completar um lote de 100 ações.
Caso queira se retirar, em breve a companhia anunciará a precificação de suas ações que vão a leilão.
Suas ações serão vendidas e você receberá o valor em conta.
O preço de venda poderá ser muito abaixo do que está atualmente.
O questionamento que fica é: vale a pena ter ações de Méliuz?
Méliuz quer volume (e mais cash)
Méliuz quer volume em suas ações.
A companhia é uma das empresas da geração “patinete unicórnio” dos IPOs de 2020, com muita promessa no prospecto e pouca entrega na vida real.
Ao que nos parece, a companhia se arrependeu de ter feito um desdobramento no passado e agora quer expurgar as pessoas físicas de sua base acionária.
Mas o volume de negócios de pessoas físicas é extremamente baixo (0,2% do volume total em 12 meses).
O que a companhia não quer é que suas ações negociem a preços de empresas quebradas.
Quanto mais distante do um real, melhor.
Quer tirar a volatilidade da pessoa física, dos traders de opções, day traders de ações, dos apostadores…
Méliuz nasceu no VAREJO, mas quer que suas ações sejam negociadas no ATACADO.
O objetivo de Méliuz saiu de “entregar crescimento” para “fazer o preço de tela subir”.
Méliuz está cometendo um erro gravíssimo.
Além de deixar o acionista bastante frustrado com o seu investimento, está focando nas cotações, e não nos seus resultados.
Nós queremos resultados
Sair na frente em seu mercado foi uma estratégia vencedora da companhia.
Méliuz entendeu que o cupom de desconto e o cashback seriam apenas os primeiros passos e focou em criar um banco digital, uma plataforma completa de serviços.
O modelo disruptivo no mercado atraiu muitos investidores, mas os resultados não vieram.
O que era para ser o sonho da companhia virou seu maior pesadelo.
Conectada ao varejo e ao setor bancário (nada fácil no cenário atual), o mercado espera resultados ruins daqui para frente.
A companhia foi pega no contrapé com cenário macro deteriorado, mas se saiu muito bem com a venda do Bankly ao BV.
Mesmo com uma avaliação abaixo do que teve antes (210 milhões ante 320 milhões), forneceu caixa e deu respiro aos negócios da companhia.
Méliuz luta para atingir o break-even (equilibrar custos e receitas) em um mercado que não está nada promissor, mas agora seu foco é outro.
O que a companhia quer é a ação subindo.
E o que nós queremos são os resultados subindo.
No longo prazo, as cotações seguem os resultados.
Foco nos resultados
Em retrospectiva, até achávamos a companhia interessante.
Mesmo com o interesse, não tínhamos a menor coragem de pagar 45x Ebitda na época.
Com as problemáticas de cenário, resultados piorando e falta de visibilidade, a composição do todo já não era atrativa.
Agora, com a opção da gestão em prejudicar o acionista minoritário, continuamos com a mesma opinião.
A proposta ainda está sob aprovação, mas a iniciativa da companhia é bem malvista por nós.
Estamos de fora desde o IPO, com recomendações abertas a vocês, e vamos continuar de fora.
A assembleia geral ocorrerá dia 28/04/2023. Após as deliberações, traremos novidades.